“Qual é a profissão do seu pai?”, perguntou a acusação.
“O meu pai é líder do cartel Sinaloa”, disse Vicente Zambada Niebla.
Ele ia herdar tudo mas decidiu falar. Vicente Zambada Niebla, filho de Ismael Zambada García, um dos líderes do temível cartel Sinaloa, passou cinco horas no banco das testemunhas do Tribunal Federal de Brooklyn, em Nova Iorque, a desfiar histórias sobre as ilegalidades cometidas pelo seu pai e por Joaquín Guzmán Loera, mais conhecido como “El Chapo”, que está a ser julgado desde novembro, conta o "New York Times".
Niebla sabe tanto porque foi escolhido, quando era ainda uma criança, como possível sucessor à cabeceira da mesa dos mafiosos e, quando chegou a tribunal, com roupa de presidiário, lançou um sorriso a Guzmán, como se estivesse tudo controlado. Se calhar, do seu lado estava.
Todos os aspetos do funcionamento deste império do tráfico de droga ficaram claros para o juri: as rotas do transporte, as guerras sangrentas entre cartéis inimigos, os milhões destinados ao suborno das autoridades. Zambada é apenas uma das sete testemunhas que já falaram contra “El Chapo”, mas de longe o mais próximo de toda a máquina.
Como em todas as histórias, são os pormenores que revelam a dimensão da trama. Segundo Vicente Zambada, o seu pai mantinha uma “conta à ordem” destinada apenas a pagar subornos de mais de um milhão de dólares - por exemplo, um funcionário do departamento de Defesa do México recebia 50 mil dólares por mês do cartel. Numa outra história, Niebla contou que uma vez se reuniu com alguns diretores da Pemex, a petrolífera mexicana, para negociar a colocação de 100 toneladas de cocaína num dos contentores da empresa.
Em 2009, Niebla foi preso no México e enviado para Chicago para enfrentar a justiça. Era suposto ser julgado por tráfico de droga mas antes do seu julgamento os seus advogados revelaram um segredo bombástico: há anos que Vicente Niebla se havia tornado espião da agência de combate ao narcotráfico norte-americana (a DEA). As autoridades confirmaram que o herdeiro do Sinaloa se encontrou de facto com agentes federais mas negaram sempre que tenham oferecido um acordo com vista à sua imunidade legal. O juiz que está a julgar Guzmán disse que essas suspeitas não podem ser mencionadas no julgamento, nem de um lado nem de outro.