Quem liga para a sede da Havan, uma rede de mais de uma centena de lojas conhecidas no Brasil por terem uma réplica da Estátua da Liberdade à porta, é recebido com um anúncio: “A Havan apoia a Lava Jato e os brasileiros também. Por isso está fazendo uma megaliquidação de lava jatos Havan.”
A referência à investigação judicial que pôs a nu a corrupção endémica no sistema político brasileiro não é apenas uma hábil ação de marketing: Luciano Hang, o polémico dono da empresa criada em Santa Catarina, não esconde o seu desprezo pelo PT de Lula, Dilma e Haddad, que acusa de destruir o Brasil.
Envolvido pelo jornal “Folha de S. Paulo” num alegado esquema ilegal no WhatsApp para prejudicar Haddad e favorecer Jair Bolsonaro na segunda volta das eleições presidenciais, este domingo, Hang nega a acusação e defende que a provável eleição do capitão do exército na reserva irá “recolocar o país nos eixos”.
Foi acusado por uma investigação da “Folha de S. Paulo” de ser um dos principais empresários a financiar um esquema monumental para disseminar notícias falsas contra o PT no WhatsApp. O candidato do PT, Fernando Haddad, pediu ao Supremo Tribunal Eleitoral que, caso se confirme a denúncia, declare a candidatura de Jair Bolsonaro inelegível. Tem a consciência tranquila?
Claro. Quem não deve não teme. O que é que eu, dono de uma rede de lojas, ganharia apoiando financeiramente o Bolsonaro? Zero. Não pego dinheiro do Governo, não vendo para o Governo e o Governo não me compra nada. Se ele ganhar, eu não tenho privilégio nenhum. Estou a lutar pela mudança da Administração do país. Não quero mais um país comunista, socialista e que flirte com a Venezuela e com Cuba. Quero um país de bem, um país que dê certo. Venho da área da tecnologia e aprendi que se não tiver lógica não funciona. Petistas e comunistas não têm lógica na cabeça. Então o desastre é certo ao fim de algum tempo. É o que estamos a viver. Pegaram num país praticamente em ordem em 2002 e entregaram-no quebrado em 2015.
Os empregados da Havan têm liberdade de voto? Chegou a ser proibido pela Justiça de pressioná-los e teve até de publicar um vídeo relembrando que o voto é livre.
Somos a empresa mais liberal do mundo, temos canais de comunicação com os nossos colaboradores praticamente diários. Temos hoje 15 mil colaboradores e sempre conversamos com eles. Sendo o voto secreto, jamais diria a um colaborador meu em quem deve votar. Na realidade, é mais uma retórica da esquerda tentando dizer que o empregador não pode falar com o seu empregado, mas o sindicato pode. O sindicato pode entrar dentro da nossa empresa, fazer a propaganda deles, mas o dono não pode conversar com o colaborador. Isto é uma vergonha, mas na realidade a gente se habituou. Nos meus vídeos, falo para todo o povo brasileiro.
Ganhou grande popularidade nas redes sociais. Só no Facebook tem 2,1 milhões de seguidores, mais do que Haddad (1,5 milhões). Esta campanha por Bolsonaro e contra o PT trouxe benefícios à sua empresa?
Não, quando entrei neste negócio não pensava nem na minha empresa, nem na minha pessoa, pensava no meu país. Se fosse pensar na minha pessoa, talvez ficasse calado e não desse a cara para bater, como se diz aqui no Brasil. Mas acho que cada brasileiro deve ter a coragem de se posicionar para que tenhamos um futuro melhor. Não é possível que um país tão grande, que tem tantos recursos naturais, viva de uma maneira tão pobre. Isso só acontece porque é mal administrado por pessoas incompetentes que na minha empresa nunca teriam nenhuma posição relevante. São pessoas sem capacidade nenhuma que foram alçadas aos lugares mais importantes. Milhares de brasileiros deixaram o Brasil nos últimos anos. Isso é prova do mau funcionamento da nossa economia, mas principalmente da falta de segurança, da falta de educação e da falta de futuro.
Jair Bolsonaro vai ser eleito este domingo?
Com certeza. Vai ter uns 65% dos votos, cresceu muito. A campanha do PT na segunda volta foi toda equivocada. Começaram por trocar a cor da bandeira, depois trocaram o plano de governo, o Haddad não foi mais visitar o Lula... Não sei se ele é um poste ou é um fantoche. É um cara que está ali mandado pelo partido, ninguém mais acredita dele.
Não é comum um empresário envolver-se de forma tão ativa e pública numa campanha. Porque decidiu fazê-lo?
No final do ano passado, elegi 2018 como o ano para trabalhar pelo país. Diz 5 de janeiro fiz uma conferência de imprensa, toda a gente aqui em Santa Catarina achava que eu iria anunciar que era candidato a senador ou a governador, mas o que eu queria era chamar a atenção para o momento político que o Brasil vivia. Para mim, estas são as eleições mais importantes da nossa História.
Porquê?
Porque o Brasil viveu depois da época do governo militar – para mim é governo militar, não é ditadura – um período de abertura política, mas daí para diante só tivemos governos socialistas e comunistas que acabaram com o nosso país. Esta é a primeira chance que temos na nossa História de eleger alguém que pensa no liberalismo económico e no conservadorismo dos costumes. O socialismo e o comunismo destruíram a sociedade brasileira, tanto nos costumes, como na educação, na ordem, enfim. O caminho que o comunismo exerce nos países é destruir a sociedade. Agora temos a chance de eleger Jair Bolsonaro para que possa pôr ordem no país.
Nega que tenha existido uma ditadura militar no Brasil?
Segundo a História, o governo militar foi empossado pelo próprio Congresso, depois deste destituir o João Goulart. Naquele momento, o Brasil vivia uma Guerra Fria, havia uma polarização entre comunismo e capitalismo. Os grupos guerrilheiros queriam tomar o poder, e se não fosse o governo militar seríamos uma Venezuela desde 1964. Graças a Deus, os nossos militares são do lado certo, e não do lado errado, como acontece hoje na Venezuela ou em Cuba ou como está a acontecer na Nicarágua, com o exército alinhado com o partido comunista.
Tem-se falado da possibilidade de o Brasil regredir aos tempos da ditadura militar com a provável eleição de Bolsonaro. Essa hipótese é real?
Não, de forma alguma. Na época, aquele era o governo que era preciso instalar para acabar com a anarquia que estava em curso com o João Goulart. Hoje sinto que vamos viver uma nova época, com liberalismo económico... O Brasil é um dos países mais inóspitos do mundo para se investir, dada a burocracia e o centralismo do Estado perante as empresas e a sociedade. Fala-se que durante o governo militar houve um grande investimento do poder público para montar empresas estatais, mas era a necessidade da época, porque não havia dinheiro sobrando no mundo como tem hoje. Hoje tem de imperar a lei do liberalismo económico, encontrando empreendedores para fazer aquilo que o Governo não deve fazer.
Acho que Bolsonaro vai ter 65% ou até 70% dos votos, ou seja. o país não está dividido. As medidas que vão ter de ser tomadas para restabelecer a ordem, os valores e a família vão fazer com que o Brasil entre nos eixos
É inegável que quem vencer domingo vai herdar um Brasil partido ao meio. Há uma grande cisão na sociedade. Bolsonaro tem condições para unir o país e ser o presidente de todos os brasileiros, mesmo daqueles que não o apoiaram?
Não tenho nenhuma dúvida disso. Acho que ele vai ter 65% ou até 70% dos votos, ou seja, o país não está dividido. As medidas que vão ter de ser tomadas para restabelecer a ordem, os valores e a família vão fazer com que o Brasil entre nos eixos para ter desenvolvimento e progresso económico e, em última análise, o que o povo quer é que o país vá bem. Se a esquerda ganhar, não vai haver investimento do sector produtivo e vai haver um despedimento em massa de colaboradores. Já temos hoje praticamente 28 milhões de desempregados [o número inclui cerca de 13 milhões de desempregados, mas também pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, que gostariam de trabalhar, mas não procuraram trabalho, ou que procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar) e pode chegar aos 50 milhões.
Não me respondeu sobre a cisão social: quando Bolsonaro usa uma t-shirt com a expressão “direitos humanos, esterco da vagabundagem”, quando ofende homossexuais, mulheres e negros, ele não está a acentuar essa divisão e a promover o ódio?
Não, veja bem: isso são notícias plantadas pela esquerda para dividir a sociedade. Se escutar Bolsonaro, jamais vai dizer que ele é homofóbico, que é racista, nada. Ele quer a união do país. E a união do país faz-se com ordem e através dos valores da família. O que queremos é recolocar o país nos trilhos novamente, de onde foi tirado pelos governos do PSDB e, principalmente, pelos governos do PT. Faltam poucos dias para as eleições e temos de mostrar para a população quem é o PT. Então fiz alguns vídeos, usei as minhas redes sociais e o meu Whatsapp para mostrar quem é o PT e para que as pessoas não sejam enganadas.