Brett Kavanaugh, o juiz escolhido pelo Presidente dos Estados Unidos Donald Trump para a vaga no Supremo Tribunal, está ele mesmo a ser julgado pelos membros do Senado e acabou por se emocionar ao contar que a sua filha, de dez anos, lhe pediu que rezasse por Christine Ford, uma das três mulheres que nos últimos dias vieram a público dizer que Kavanaugh tinha abusado sexualmente delas na adolescência.
"Nunca abusei sexualmente ninguém. Nem no secundário, nem na faculdade, nunca. A agressão sexual é uma coisa horrível. Quem faz essas alegações deve sempre ser ouvida. Mas ao mesmo tempo, a pessoa sobre quem são feitas essas alegações também tem de ser ouvida", afirmou.
Visivelmente emocionado, Kavanaugh classificou as acusações contra ele como “uma jogada política, calculada e bem orquestrada”, dizendo aos senadores que o seu nome, e a sua família, tinha sido “destruídos” pelas alegações de Ford e das outras duas mulheres que o acusam de atos que sempre negou.
Na sua declaração inicial Kavanaugh disse que não irá desistir da nomeação para o Supremo, que ainda terá que ir a votos. "Não serei intimidado. Tentaram muito e deram o vosso melhor. Ninguém pode questionar o vosso esforço. Mas não me irão afastar. Podem derrotar-me na votação final, mas nunca me farão desistir. Nunca.”, disse o juiz.
Os senadores passaram então a poder fazer perguntas a Kavanaugh e a primeira foi sobre por que razão o juiz não quer que o FBI investigue o caso, dado que diz estar inocente. Kavanaugh respondeu enervado que isso não ia acrescentar nada acrescentar nada “às perguntas que já estão a ser feitas”.
A senadora Diane Fennstein voltou a insistir na questão que tinha irritado tanto Kavanaugh e disse que o caso devia ser avaliado pelo FBI. Kavanaugh respondeu assim: “Eu estou aqui, pode fazer-me perguntas a mim”.
Fennstein perguntou então se ele nega as versões de Ford, Deborah Ramirez (a segunda mulher a acusá-lo) e Julie Swetnick (a terceira) são falsas. “É o que estou a dizer, enfaticamente!”, respondeu Kavanaugh, acrescentando que "a história da Swetnick é uma piada, é uma farsa!”
A história que é "uma farsa"
Antes de Kavanaugh ser ouvido, o Senado norte-americano escutou, e depois questionou, a mulher que o acusa - mas não foi fácil encontrar falhas na sua memória, nem incoerências no seu discurso. Os senadores acabaram por nunca a colocar numa posição complicada.
“Não estou aqui porque quero estar. Estou aterrorizada. Estou aqui porque acredito que o meu dever cívico é contar-vos o que me aconteceu enquanto eu e Brett Kavanaugh estavamos na escola secundária”. Foi assim que Christine Blasey Ford iniciou esta quinta-feira a sua intervenção na Comissão Judicial do Senado.
A professora de psicologia na Universidade de Palo Alto confessou que o alegado episódio de agressão sexual envolvendo Brett Kavanaugh “alterou dramaticamente” a sua vida”. “Durante muito tempo, tive muito medo e sentia vergonha de contar a alguém os detalhes do que aconteceu.(...) Convenci-me a mim mesma de que o Brett não me violou”, afirmou Ford.
Na terça-feira, surgiu uma terceira acusação contra Kavanaugh. Julie Stewnick, de 55, residente de Washington D.C., publicou, através do seu advogado, um depoimento onde fala dos esforços de Kavanaugh e outros rapazes seus colegas, para adulterarem as bebidas das raparigas de forma a torná-las “mais desinibidas e dificultar a sua capacidade de dizer ‘não’”. Segundo Swetnick, Kavanaugh e os seus amigos faziam-no “com a intenção de que um ‘comboio’ de rapazes pudesse violar as raparigas”.