Internacional

Depois de anos de acusações, Bill Cosby é condenado por abuso sexual

Mais de meia centena de mulheres acusa o famoso comediante, ator e apresentador norte-americano Bill Cosby de assédio sexual e mesmo violação mas só uma o conseguiu condenar com o seu testemunho

A queda de Cosby começou há pouco mais de um ano, quando enfrentou as primeiras acusações de abuso sexual
foto LUCAS JACKSON/REUTERS

O júri do tribunal de Montgomery County, na Pensilvânia, condenou esta quinta-feira o famoso ator, apresentador e comediante norte-americano Bill Cosby, de 80 anos, por três crimes de abuso sexual agravado cometidos há 14 anos contra Andrea Constand, na altura com 31 anos e treinadora da equipa de basquetebol na Temple University. Cosby, ouviu o tribunal, foi condenado por sexo sem consentimento, penetração de uma pessoa inconsciente e penetração após administração de drogas à vítima. Cada um destes crimes apresenta a pena máxima de 10 anos de prisão mas Cosby pode ter de as cumprir todas ao mesmo tempo.

O testemunho de Constand é descrito pela imprensa norte-americana como “bastante duro” até porque detalha o momento em que ela terá acordado e terá reparado que estava ser violada e ao mesmo tempo impossibilitada de se mexer por causa das drogas que Cosby diz ter oferecido por ela "parecer muito nervosa". O episódio terá acontecido num dia em que Constand se deslocou a casa de Cosby para lhe pedir conselhos por este ser parte do conselho de administração da universidade onde tinha sido aluna. Em 2006, a primeira vez que Constand quis levar Cosby a tribunal, a queixa foi afastada pelos procuradores e Cosby terá pago à vítima 3,38 milhões de dólares (cerca de €2,8 milhões) como parte de um acordo de confidencialidade. Mas Constand decidiu não ficar por ai.

Esta é a primeira condenação por abuso sexual depois de o escândalo "MeToo", sobre alegações de abuso e assédio sexual por parte de homens conhecidos das indústrias criativas, ter estourado nos Estados Unidos e, se nunca poderá oferecer conforto às mais de 50 mulheres que acusaram Cosby de assédio, abuso e violação, dá-lhes pelo menos a esperança de que venha a ser feita justiça também nos casos que lhes dizem respeito, não apenas neste.

Bill Cosby marcou a cultura pop norte-americana de uma forma que poucos apresentadores e comediantes fizeram. O programa com o seu nome “The Cosby Show” foi uma espécie de febre nos anos 80 e 90 e quando as suspeitas começaram a surgir o choque foi maior por ele sempre se ter apresentado como uma instituição conservadora, um pai de família típico. Andrea Constand já tinha tentado que Cosby fosse condenado outra vez, sem sucesso. Segundo relata o New York Times, a reviravolta foram os testemunhos de cinco outras mulheres que disseram aos jurados que acreditavam terem sido drogadas e agredidas sexualmente por Cosby nos anos 80. Os advogados de acusação utilizaram estes relatos para construir uma narrativa em que ficou provado, pelo menos assim decidiu o júri, que o caso de Constand não tinha sido um crime isolado mas um padrão de comportamento de Cosby. Em sua defesa, os advogados disseram que Constand tinha dito a uma outra pessoa na universidade, em 2004, que poderia ganhar dinheiro acusando pessoas famosas de abuso sexual e que os encontros entre ela e Cosby tinham sido consensuais.

Cosby vai poder sair pagando uma fiança de um milhão de dólares mas terá de entregar o seu passaporte. Algumas das outras 57 mulheres que acusaram Cosby deslocaram-se à Pensilvânia para ir ao julgamento. Muitos dos crimes de que Cosby é acusado prescreveram mas há mulheres que decidiram mover-lhe processos por difamação.