Theresa May vai encontrar-se esta quinta-feira com Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, um dia antes de um antecipado discurso em que deverá apresentar a sua visão para as relações do Reino Unido com a União Europeia após o Brexit. O encontro da primeira-ministra britânica com Tusk tem lugar numa altura de cisões entre os dois lados das negociações de saída, depois de o bloco ter apresentado o primeiro rascunho legal do Tratado do Brexit.
Esta semana, May referiu que as propostas de Bruxelas quanto ao estatuto da Irlanda do Norte no pós-Brexit ameaçam a "integridade constitucional" do Reino Unido, ao que a UE respondeu que o Reino Unido precisa de apresentar uma alternativa viável à sua proposta de os norte-irlandeses continuarem a integrar o mercado único e a união aduaneira depois de a saída estar concretizada.
May, que antes do encontro com Tusk vai reunir-se com os seus ministros para debater os próximos passos do Brexit, já garantiu que não vai aceitar o Tratado da forma que ele está delineado. A proposta apresentada na quarta-feira por Bruxelas sugere que seja criada uma "área regulatória comum" após o Brexit na ilha da Irlanda, efetivamente mantendo a Irlanda do Norte dentro da união aduaneira, caso nenhuma outra solução seja encontrada.
Tanto a UE como a República da Irlanda – o único Estado-membro com o qual o Reino Unido tem uma fronteira terrestre a ligá-lo ao bloco – têm sublinhado que o governo de May tem de criar alternativas concretas ao que descrevem como uma opção "travão", em referência à sua postura intransigente sobre a fronteira irlandesa.
Nos últimos meses, o Executivo conservador tem sido acusado de assumir uma postura "delirante e contraditória" quanto a esta questão; se por um lado a primeira-ministra britânica quer mais controlos na fronteira para travar a imigração para o território britânico, por outro quer criar uma porta dos fundos na fronteira com a Irlanda como forma de garantir os seus interesses económicos, exigindo apesar disso que o Reino Unido abandone completamente o mercado único e a união aduaneira.
Ontem, em declarações ao parlamento irlandês, o primeiro-ministro do país, Leo Varadkar, deixou um novo aviso à homóloga britânica, referindo que, "se há pessoas que não gostam do que têm hoje, cabe a elas a criação de soluções alternativas". May tem insistido que "nenhum primeiro-ministro do Reino Unido" pode aceitar a criação de uma fronteira aduaneira e regulatória no Mar da Irlanda, algo que, garantiu na quarta-feirta, "vai deixar bem claro" às autoridades da UE no encontro desta tarde com Donald Tusk.
Sobre o assunto, o deputado conservador Bill Cash, da barricada eurocética, garantiu na quarta-feira à BBC que existem "formas técnicas" de gerir a fronteira irlandesa e que isso só não está a ser debatido porque a UE quer potenciar uma "crise constitucional" no Reino Unido. Os membros do governo de May que pertencem ao mesmo partido garantem que o discurso da líder amanhã vai "elucidar" o bloco europeu sobre o tipo de relações comerciais que o Reino Unido quer manter com os Estados-membros após a saída estar finalizada, a 29 de março de 2019, incluindo durante o período de transição de dois anos que será implementado nesse dia.