Internacional

Escândalo na Oxfam. Suspeitos de abusos “ameaçaram fisicamente” vítimas

Organização não-governamental divulgou, pela primeira vez, um relatório produzido em 2011 sobre as alegações de má conduta tecidas contra sete dos seus funcionários no Haiti

Projeto de latrinas conduzido e implementado pela Oxfam no Haiti após o sismo de 2010
Jonathan Torgovnik

A Oxfam revelou esta segunda-feira que três dos homens acusados de má conduta e abusos no Haiti ameaçaram fisicamente vítimas e testemunhas durante uma investigação interna da organização não-governamental em 2011, meses depois de o território ter ficado parcialmente destruído por um poderoso sismo.

O relatório sobre essas acusações, também datado de 2011, foi divulgado esta manhã pela primeira vez desde que surgiram as alegações contra funcionários da ONG. Nele, a Oxfam sublinha que "é preciso [fazer] mais" para prevenir "problemas com funcionários", isto depois de vários dos homens ligados a este escândalo terem acabado por assumir cargos noutras organizações não-governamentais.

A versão do relatório hoje divulgado inclui alguns excertos censurados, com a Oxfam a defender que quer ser "o mais transparente possível" quando às decisões que tomou face às alegações e que, por esse motivo, vai entregar uma versão não-censurada ao governo do Haiti esta tare, acompanhado de um pedido de desculpas pelos "erros" cometidos.

Com quase 10 mil funcionários no terreno em mais de 90 países, o grupo decidiu ocultar as identidades das pessoas no documento de 11 páginas que foi enviado aos media, incluindo os nomes dos três homens que são acusados de intimidar testemunhas. Há várias semanas que a organização estava sob intensa pressão internacional pela forma como lidou com as alegações de que funcionários seus recorreram aos serviços de prostitutas no Haiti; na sequência disto, sete pessoas abandonaram a organização no Haiti em 2011.

No documento é apontado que o então diretor de operações no Haiti, Roland Van Hauwermeiren, "admitiu recorrer a prostitutas" na sua residência da Oxfam quando a equipa de investigação interna o confrontou com as acusações há sete anos. Na semana passada, Van Hauwermeiren desmentiu ter pagado por sexo com elas.

Na sequência disto, foi-lhe garantida uma "saída faseada e dignificante" da Oxfam, com o suspeito a demitir-se em vez de ser despedido na condição de cooperar totalmente com o inquérito interno. Não se sabe se é ele um dos três suspeitos de ameaçaram fisicamente testemunhas neste caso. Sabe-se, em vez disso, que depois de abandonar a missão no Haiti foi contratado para chefiar a delegação da Action Against Hunger no Bangladesh. A ONG já veio garantir que investigou Hauwermeiren a fundo e que não recebeu da Oxfam qualquer informação sobre comportamentos desapropriados ou pouco éticos.

Numa segunda secção do documento esta segunda-feira divulgado, sob o título "Lições Aprendidas", a Oxfam sublinha que são necessárias mais garantias de segurança em toda a indústria das ONG para impedir que funcionários caídos em desgraça sejam transferidos para outros postos ou outros grupos.

"São precisos melhores mecanismos para informar outras regiões/afiliados/agências de problemas nos comportamentos dos funcionários quando estes são afastados e para evitar 'reciclar' funcionários problemáticos ou que têm fraco desempenho."