Internacional

Estados do Golfo preparados para expulsar Qatar do bloco regional

“The Guardian” escreve que chefe da diplomacia dos Emirados Árabes Unidos vai garantir esta segunda-feira em Londres que o bloqueio do Estado qatari “está a funcionar” e sugerir que o Conselho de Cooperação do Golfo vai expulsá-lo se continuar a não aceder às exigências dos ex-parceiros

Anwar Gargash, ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos
GIUSEPPE CACACE

Os Estados do Golfo que continuam empenhados em forçar o Qatar a alterar a sua rota política estão prestes a dar a pista mais forte de que pretendem expulsar o país do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), o grupo regional de trocas e segurança. Assim avançou esta segunda-feira o diário “The Guardian”, com base na transcrição de um discurso que o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos (EAU) vai proferir esta manhã na Chatham House em Londres.

“Não podem integrar uma organização regional dedicada a fortalecer a segurança e os interesses mútuos e, ao mesmo tempo, minar essa segurança e danificar esses interesses”, vai declarar Anwar Gargash, de acordo com o jornal britânico. “Não podem ser nossos amigos e amigos da Al-Qaeda.”

No mesmo discurso, Gargash vai insistir que o boicote de seis semanas ao Qatar “está a funcionar” e rejeitar a sugestão de que o seu país e as outras três nações da aliança anti-Qatar – Arábia Saudita, Bahrain e Egito – saíram enfraquecidos da jogada, garantindo em vez disso que Doha já está a fazer concessões.

O chefe da diplomacia dos EAU vai apresentar como resultado direto das sanções impostas ao Qatar o facto de o governo do país ter prometido ao Ocidente a revisão da lista de 59 extremistas que, segundo os EAU, estão atualmente instalados em Doha; o Ministério que Gargash dirige quer que esses indivíduos sejam presos ou expulsos, bem como 12 organizações suspeitas de atividades terroristas.

Na semana passada, o Qatar assinou com os EUA um memorando de entendimento sobre o financiamento de grupos terroristas que Gargash vai classificar como “um desenvolvimento positivo” decorrente das pressões do CCG. O “The Guardian” refere, ainda assim, que o discurso vai manter o tom intransigente que tem dominado esta crise e que passará por novas acusações ao Qatar pelo seu alegado financiamento do Grupo de Luta Islâmica da Líbia (LIFG, na sigla inglesa), que treinou o bombista-suicida responsável pelo ataque de maio em Manchester.

Na transcrição do discurso noticiada pelo jornal, o ministro alega que o seu país tem vindo a alertar para estas ameaças extremistas desde os anos 1980, descrevendo o Qatar como “um Estado muito rico, com 300 mil milhões de dólares em reservas [de petróleo e gás], que está casado com o jiadismo extremista e com o terrorismo”.

Doha desmente acusações

A conferência sobre “A visão dos EAU sobre a crise no CCG: o que aconteceu e o que vai acontecer a seguir?” acontece um dia depois de fontes oficiais norte-americanas terem avançado que foram os Emirados Árabes Unidos que plantaram a notícia falsa na raiz da crise no Golfo — uma crise que Rex Tillerson, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, esteve a tentar mediar num périplo que o levou até à Turquia, ao Kuwait, aos EAU, ao Qatar e à Arábia Saudita na semana passada.

“Compreensivelmente, muitos dos nossos amigos na Europa e no resto do mundo estão preocupados com esta crise”, vai declarar Gargash. “Eles veem o Golfo Pérsico como um porto de estabilidade num Médio Oriente instável e como um mercado comum importante e funcional. Muitos argumentam que é um dos poucos baluartes árabes contra a expansão iraniana. Entendemos e respeitamos estas preocupações. Mas sabemos pelos encontros com autoridades americanas e europeias que elas também estão conscientes da duplicidade do Qatar.”

O país continua a rejeitar as acusações de que financia grupos extremistas e a não aceder às 13 exigências apresentadas pelos quatro países depois de, no início de junho, lhe terem imposto uma série de sanções diplomáticas e económicas. Para lidar com as consequências do bloqueio, a estatal petrolífera qatari anunciou no início deste mês que vai aumentar a sua produção de gás natural em 33%.

Entre as exigências apresentadas pelo bloco árabe conta-se o encerramento da estação televisiva Al-Jazeera, a redução das relações diplomáticas e económicas com o Irão xiita, o encerramento de uma base militar turca no território qatari e a expulsão de 59 indivíduos e de 12 organizações que, vai repetir Gargash em Londres, têm “ligações comprovadas” à Al-Qaeda e a “organizações semelhantes”, entre elas a Irmandade Muçulmana egípcia.