Os quatro países árabes ao leme do boicote diplomático e económico do Qatar descreveram ontem a rejeição de Doha das suas exigências como uma ameaça à segurança regional, prometendo num comunicado conjunto que vão aplicar mais sanções ao pequeno emirado do Golfo sem referirem medidas específicas.
Acusando a nação de apoiar e financiar grupos terroristas, a Arábia Saudita, o Bahrain, os Emirados Árabes Unidos e o Egito anunciaram há um mês o encerramento dos seus espaços aéreos a aviões qataris, exigindo que todos os seus respetivos cidadãos abandonem o país e apresentando depois uma lista de 13 exigências para porem fim ao boicote — entre elas a redução das relações diplomáticas com o Irão xiita, o encerramento de uma base militar da Turquia no seu território e o encerramento da estação de televisão Al-Jazeera.
O Qatar, que já tinha sinalizado que ia rejeitar o ultimato do bloco ao leme dos sauditas, continua a recusar todas as acusações. Na próxima segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, deverá debater a atual situação com as autoridades do Kuwait, numa visita oficial ao país que continua a tentar mediar aquela que é a pior crise política do Golfo desde o início da década de 1990.
No comunicado de quinta-feira, os quatro países referem que a rejeição das exigências do bloco pelo Qatar "reflete a sua intenção de manter as suas políticas em vigor, com o objetivo de destabilizar a região". Também ameaçam aplicar mais "medidas políticas, económicas e legais apropriadas" ao pequeno emirado, sem avançarem que tipo de sanções estão a ser consideradas.
Na semana passada, o embaixadora dos EAU em Moscovo tinha sugerido que uma das reações pode passar pelo corte de relações comerciais com nações que continuem a negociar com o Qatar — que há alguns dias anunciou o reforço da produção de gás em 33% para gerir a atual crise.
O ministro qatari dos Negócios Estrangeiros, o sheikh Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, continua a classificar o boicote pelos ex-aliados sunitas como "um cerco que é uma clara agressão e um insulto". No início da semana, Al-Thani tinha sublinhado: "A solução para a nossa discórdia não passa por bloqueios nem por ultimatos, mas sim pelo diálogo e pela razão."
Com a única fronteita terrestre do Qatar encerrada desde 5 de junho, os 2,7 milhões de habitantes da pequena nação rica em gás e petróleo continuam dependentes de importações de comida por via marítima e aérea. O chefe da diplomacia já garantiu que este esquema pode continuar em vigor "por tempo indefinido".
Ontem, em declarações à rádio “Deutschlandfunk”, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Sigmar Gabriel, que acabou de visitar o Qatar, a Arábia Saudita e o Kuwait, garantiu que não neste momento não há riscos de uma guerra no Golfo apesar da reação irada do bloco árabe à rejeição qatari.