Entre as dezenas de livros sobre a Coreia do Norte à venda na Amazon há títulos literalmente fantásticos: “O País Impossível”, “O Reino Sombrio”, “O Estado Monolítico”... A comparação com a ficção cientifica não é despropositada: “Sabe-se mais sobre Marte do que sobre a Coreia do Norte”, comentou uma vez um observador americano. Os serviços secretos sul-coreanos saberão um pouco mais, mas não podem ser imparciais. Tecnicamente, as duas Coreias continuam em guerra. O armistício de 1953 — assinado após três anos de guerra e mais de cinco milhões de baixas — ainda não foi substituído por um tratado de paz. Os Estados Unidos mantêm 28 mil soldados na Coreia do Sul.
As dúvidas acerca da idade de Kim Jong-un ilustram bem o mistério em torno da Coreia do Norte. O atual líder do país nasceu em 1982, 1983 ou no ano seguinte? Para os leitores de George Orwell, a terceira hipótese (1984) será especialmente simbólica. Coincidências à parte, uma coisa parece certa: em dezembro de 2011, quando sucedeu ao pai, Kim Jong-un tinha menos de trinta anos. Imaturo ou não, o jovem Kim não ficou paralisado pelo isolamento internacional que herdou. Pelo contrário: sob a sua direção, a Coreia do Norte efetuou três testes nucleares, e ameaça fazer ainda mais, desafiando a ONU e os Estados Unidos. “Para nós, o programa nuclear é tão precioso como a própria vida”, reafirmou na semana passada a agência noticiosa oficial norte-coreana KCNA. A Coreia do Norte não receia sequer alienar o seu principal apoio económico: “Nunca iremos mendigar para manter a amizade com a China”.
Quase todo o comércio externo da Coreia do Norte, incluindo as suas importações de petróleo e comida, passa pela China. O carvão, um dos mais valiosos recursos que a Coreia do Norte vende à indústria chinesa, rendem aos cofres de Pyongyang mil milhões de dólares por ano — ou melhor, rendiam. Em novembro passado, os Estados Unidos apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU um pacote de sanções económicas à Coreia do Norte que incluía uma drástica redução das suas exportações de carvão. A China votou a favor.
Nem sempre foi assim: China e Coreia do Norte lutaram juntas contra os Estados Unidos. Nos manuais escolares chineses, a chamada “Guerra da Coreia” tem um nome mais comprido: “Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia”. Cerca de 184 mil soldados chineses morreram e outros tantos ficaram feridos, forjando uma relação descrita como “de unha com carne”. Há quatro anos, um editor da Escola de Quadros do Partido Comunista Chinês, Deng Yuwen, foi demitido por ter publicado no “Financial Times” um artigo de opinião defendendo que a China devia “abandonar” a aliança com a Coreia do Norte. Se fosse hoje, provavelmente, Deng Yuwen não seria afastado. A China não “abandonou” a Coreia do Norte, mas a confiança mútua é considerada “escassa”.
“Desde que Kim Jong-un se tornou líder da Coreia do Norte, não houve nenhum encontro entre a liderança dos dois países”, salientou o “Global Times”, um tabloide nacionalista do grupo Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês (PCC). No passado dia 27 de abril, num editorial com o título “China deve estar preparada para o agravamento dos laços com a Coreia do Norte”, o mesmo jornal lembrava que o local onde os norte-coreanos fazem os testes nucleares “fica a apenas 100 quilómetros da fronteira chinesa” e que “isso ameaça a segurança do nordeste da China”. Mais: “o desenvolvimento do programa nuclear e das tecnologias de mísseis da Coreia do Norte dá a Washington um pretexto para ampliar o seu dispositivo militar na região”. Para “detetar e neutralizar” os mísseis balísticos norte-coreanos, os Estados Unidos começaram a instalar na Coreia do Sul um novo sistema de defesa, chamado THAAD (Terminal High Altitude Area Defense), que poderá visar também a China. O THAAD “danifica o equilíbrio estratégico e a estabilidade regionais”, protestou o porta-voz do Ministério chinês da Defesa. A Rússia, cujo território também confina com a Coreia do Norte, tem a mesma posição. Já este mês, a China pediu aos Estados Unidos e à Coreia do Sul que suspendessem “de imediato” a instalação daquele sistema.
No final da década de 1970, o Partido Comunista Chinês desistiu de “aprofundar a luta de classes” e escolheu o desenvolvimento económico como “tarefa central”. Sem abdicar do seu “papel dirigente”, o PCC abriu gradualmente o país à iniciativa privada e à economia de mercado. As palavras de ordem mais populares da nova política eram “Socialismo não é pobreza” e “Enriquecer é Glorioso”. A Coreia do Norte seguiu outro caminho. “Numa sociedade socialista, a transformação do homem e a sua remodelação ideológica são mais importantes do que as condições materiais e económicas”, defendia o pai de Kim Jong-un, Kim Jong-il. Esta “ideia genial” está exposta num ensaio de 1994, “O Socialismo é uma Ciência”, cujo lançamento foi saudado em Pyongyang como “um grande acontecimento na História da Humanidade”. O socialismo norte-coreano será assim “o mais científico e viável do mundo”.
A avaliar pelo título de um dos seus discursos — “Fazer altruístas e dedicados esforços pelo bem-estar do povo é o modo de existência e a fonte do invencível poder do Partido dos Trabalhadores da Coreia” — Kim Jong-un assimilou bem o estilo do pai. O estilo e a orientação ideológica, como se viu no “grandioso congresso” que o partido realizou em maio de 2016. Foi o primeiro congresso em 36 anos. Deve ser um recorde na história do movimento comunista internacional.
No relatório apresentado aos delegados, Kim Jong-un repetiu que a Coreia do Norte é “o baluarte do socialismo”. “A seguir ao fim da Guerra Fria, vários países abandonaram os seus princípios e, assustados com a pressão militar dos Estados Unidos, optaram pelo compromisso e a submissão”, disse. A Coreia do Norte, não: “Nunca vacilou” e “respondendo com as mais duras contramedidas, esmagou a odiosa pressão e os desafios do imperialismo”. Deve-se “empunhar uma espada quando o inimigo puxa de uma faca e apontar um canhão quando ele saca de uma pistola”, explicou. Supremo Comandante do Exército Popular da Coreia, Kim Jong-un chegou a general de quatro estrelas com apenas 26 anos e em 2012 foi nomeado marechal, o posto mais alto da hierarquia militar.
Na frente económica, o Governo mostra-se mais flexível. Pelas contas da Organização Mundial de Saúde, em 2015 mais de um quarto das crianças norte-coreanas com menos de cinco anos (27,9%) sofriam de “má nutrição crónica”, mas a situação já não será tão grave como no final na década de 1990, quando centenas de milhares de pessoas morreram à fome. Esse período, descrito oficialmente como “Árdua Marcha”, é considerado “o maior desastre humanitário na Ásia Oriental do último meio século”. Na altura chegou a falar-se em dois ou três milhões de mortos. É difícil indicar um número exato. Há muito que isso não existe na Coreia do Norte: só estimativas. Desde a década de 1950 que não há estatísticas oficiais sobre o rendimento da população, salientou o professor Andrei Lankov. Antigo estudante da Universidade Kim Il-sung, em Pyongyang, aquele investigador russo acompanha há décadas a evolução da sociedade norte-coreana.
A “Árdua Marcha” impôs, contudo, uma maior tolerância ao comércio privado e à exploração agrícola familiar. Mercados informais onde os camponeses vendem parte da sua produção multiplicaram-se por todo o país, substituindo o falido sistema estatal de distribuição. Embora registada sob a forma de cooperativa, a maioria dos navios de pesca, que asseguram duas importantes exportações do país (peixe e marisco), será hoje privada, refere Andrei Lankov num estudo publicado há um ano (“O ressurgimento de uma economia de mercado na Coreia do Norte”). Lankov admite que o sector privado represente já “30 a 50% do PIB norte-coreano”. Na opinião de outro especialista, o veterano repórter do jornal “Le Monde” Philippe Pons, “a Coreia do Norte está a evoluir para uma economia híbrida, onde a fronteira entre o sector público e a iniciativa privada é cada vez mais fluida”. O Governo de Kim Jong-un mostrou mesmo “uma maior flexibilidade em relação à imprensa estrangeira”, autorizando a agência noticiosa France-Presse a abrir um escritório em Pyongyang, indicou a organização Reporters sans Frontières. Uma “flexibilidade” com limites, claro.
Em setembro passado, quando a diretora de informação da France-Presse, Michèle Léridon, chegou a Pyongyang para inaugurar o primeiro escritório da agência, as autoridades confiscaram-lhe um livro que trazia na mala (um livro sobre a Coreia do Norte, assinado por Philippe Pons). “Nenhum livro sobre a República Democrática e Popular da Coreia pode entrar no país”, explicaram-lhe. No ranking da Reporters Sans Frontières, que avalia a liberdade de imprensa em 180 países, a Coreia do Norte figura, aliás, em último lugar, atrás da Eritreia e do Turquemenistão. A Coreia do Norte “mantém a população na ignorância e no terror”, afirma a RSF. “Ouvir uma rádio estrangeira pode levar diretamente ao campo de concentração”.
Segundo a Amnistia Internacional, no ano passado “120 mil norte-coreanos estavam detidos em quatro campos de presos políticos”, “sujeitos a tortura e trabalhos forçados”. A repressão estende-se ao ciberespaço. A internet “está muito limitada”, proporcionando apenas serviços de e-mail e acesso a 28 websites, “todos controlados por instituições oficiais ou empresas estatais”, diz a Amnistia Internacional.
Fundada em 1948 pelo avô de Kim Jong-un, o “Presidente Eterno” Kim Il-sung, a República Democrática e Popular da Coreia (nome oficial da Coreia do Norte) é um país pouco maior do que Portugal. Chamam-lhe “O Paraíso dos Trabalhadores”. Os seus 24,5 milhões de habitantes — diz o refrão de uma canção muito conhecida — são “as pessoas mais felizes do mundo”. O “Grande Líder” Kim Il-sung governou até morrer, em 1994. Ainda em vida, o dia do seu nascimento (15 de abril) e o do seu filho e sucessor, o “Querido Líder” Kim Jong-il (16 de fevereiro), foram declarados feriados nacionais. O terceiro Kim da dinastia é simplesmente o “Respeitado Supremo Líder”. Já lhe chamaram “o grande sol do século XXI”, mas o dia do seu nascimento ainda não é feriado. A Coreia do Norte é também o mais velho inimigo dos Estados Unidos. Apesar da persistente desconfiança mútua, China e Estados Unidos acabaram por “normalizar” as relações e, em muitos aspetos, as suas economias são complementares. A União Soviética desapareceu. O Irão, outro país odiado em Washington, só se tornou “uma ameaça” após a revolução islâmica de 1979. Antes, no tempo do Xá da Pérsia, era um aliado.
A esmagadora maioria dos norte-coreanos nunca conheceu outro regime. Nasceu e cresceu num ambiente de “permanente mobilização contra a ameaça do imperialismo norte-americano”. As paradas militares, com milhares de figurantes marchando em passo de ganso, impecavelmente sincronizados, são um espetáculo frequente em Pyongyang. Manobras e proclamações bélicas dominam os noticiários.
Um tio de Kim Jong-un, Jang Song-Thaek, visto inicialmente como uma espécie de tutor do sobrinho, foi fuzilado em dezembro de 2013 por “traição” e “corrupção”. Dois militares fardados algemaram-no em plena reunião do Politburo do partido. A prisão foi filmada e transmitida pela televisão. “Era uma desprezível escumalha, pior do que um cão (…) um bastardo”, disse a agência noticiosa oficial KCNA. “O maior traidor desde a noite dos tempos”, sentenciou o “Rodong Shimmun”, o órgão oficial do partido. Ex-vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa, Jang era considerado o nº 2 do regime. No verão do ano anterior, tinha sido calorosamente recebido em Pequim pela liderança chinesa. “O camarada Jang Song-Thaek tem feito muito para desenvolver amigáveis relações de vizinhança entre a China e a Coreia do Norte”, afirmou o então Presidente chinês, Hu Jintao.
Há três meses, Kim Jong-un viu-se livre de outro potencial rival, o seu meio-irmão Kim Jong-Nam.
Filho mais velho de Kim Jong-il, Kim Jong-nam vivia há muito fora do país, nomeadamente em Macau. “Era pró-China e também um líder alternativo para a Coreia do Norte se o regime de Kim Jong-un se desintegrasse”, disse um analista chinês citado na imprensa de Hong Kong. Kim Jong-nam chegou a ser contactado para liderar “um governo no exílio”, mas recusou envolver-se nesse projeto. “Sou contra a terceira sucessão hereditária na Coreia do Norte e sou um dos que querem a reforma e abertura do país, mas não estou de facto interessado na política da Coreia do Norte”, respondeu Kim Jong-nam a um compatriota exilado no Reino Unido, Kim Joo Il. “A última vez que o contactámos foi em junho de 2016, em Singapura”, contou Kim Joo Il à revista “Time”.
Kim Jong-nam morreu em fevereiro passado no aeroporto de Kuala Lumpur, capital da Malásia, minutos depois de ter sido atacado com VX, um agente químico altamente letal. Tinha 44 anos. “Kim Jong-un é capaz de tudo para afastar alguém do seu caminho”¸ comentou o antigo “nº 2” da embaixada norte-coreana em Londres, Thae Yong-Ho, que fugiu no verão passado para a Coreia do Sul.
Segundo Andrei Lankov, Kim Jong-un “teve uma infância mimada e privilegiada, não muito diferente da que têm os filhos de alguns multimilionários ocidentais”. Como o seu meio-irmão, a irmã mais nova, Kim Yo-jong, e outros familiares próximos, Kim Jong-un estudou na Suíça. Durante três anos, até 2000, esteve inscrito numa escola internacional de Koniz, perto de Berna, com o nome de Un-Pak, “filho do embaixador da Coreia do Norte”. O seu colega de carteira, João Micaelo, era português.
Dez mais tarde, João lembrava-se dele como um jovem “tranquilo, reservado e um pouco tímido”. “Tinha boas notas, gostava de fazer desporto, era muito competitivo, e tinha uma namorada. Só não saía à noite”, contou João Micaelo à TVI quando o mundo ficou a saber que Un-Pak se chamava, afinal, Kim Jong-un, filho de Kim Jong-il, e fora escolhido para suceder ao pai. “Para ele (Un-Pak) só existia basquetebol, o resto nem interessava. A equipa favorita dele eram os Chicago Bulls e o jogador favorito era o Michael Jordan”. De acordo com outros testemunhos, Un-Pak também era “fã de jogos de computador, futebol e esqui” e “tinha um cozinheiro, um motorista e um professor particular”.
Pouco depois de Kim Jong-un assumir o poder, uma antiga estrela dos Chicago Bulls, Dennis Rodman, levou a Pyongyang uma equipa de veteranos da NBA. Além do basquetebol, Kim Jong-il “adora a música americana dos anos 80, os Doors e Jimi Hendrix”, contaria Dennis Rodman. O ex-jogador dos Chicago Bulls encontrou-se várias vezes com Kim e a sua mulher, Ri Sol-ju: “Ela gosta de Gucci e Versace. É mesmo fixe a vestir-se”, disse Rodman. Ao fim de seis viagens à Coreia do Norte, Kim e Dennis ficaram “amigos para a vida”. Quando lhe perguntaram se alguma vez falaram de política, Rodman respondeu: “Ele disse: ‘Não quero bombardear ninguém. Mas mantemos as nossas armas porque somos um país muito pequeno — é a única maneira de nos podermos defender’”. Rodman garante que “eles não odeiam os americanos”. Estas palavras foram ditas há cerca de três anos, já depois de outro ditador, o líbio Muammar Kadhafi, ter acabado como acabou: arrastado a sangrar pela rua e abatido a tiro por milícias rebeldes.
Kim Jong-un parece encarar as armas nucleares como um seguro de vida. “Sem armas nucleares, a Coreia do Norte seria outro Iraque ou outra Síria”, dizem os seus seguidores. O “seguro” inclui o desenvolvimento de mísseis intercontinentais, com capacidade para atingir os Estados Unidos. (Coreia do Sul e Japão já estão ao alcance do arsenal norte-coreano; China e Rússia também). Um dia destes, “Kim Jong-un pode carregar num botão e atingir Chicago”, alertou um senador norte-americano.
A China, que partilha com a Coreia do Norte uma fronteira com 1416 quilómetros de extensão, também não está tranquila. Pequim não quer um vizinho com armas nucleares e, ao mesmo tempo, receia uma súbita mudança de regime em Pyongyang. Se isso acontecesse, milhares ou milhões de pessoas poderiam fugir para o território chinês e as bases americanas na Coreia do Sul ficariam às portas da China. O presidente do Council on Foreign Relations, Richard N. Haass, viu assim o dilema de Pequim: “Os líderes chineses não têm amor pelo regime de Kim Jong-un, mas gostam ainda menos da perspetiva do colapso da Coreia do Norte e de uma península coreana unificada com a capital em Seul”.
Cerca de 200 mil norte-coreanos viverão já clandestinamente na China, escondidos entre os dois milhões de chineses de etnia coreana. Eles não querem fixar-se na China: esperam apenas uma oportunidade para seguir até à Mongólia ou à Tailândia, e, daí, embarcar para a Coreia do Sul. A espera pode demorar anos. Hyeonseo Lee, autora do livro “The Girl With Seven Names”, fugiu em 1997, com 17 anos de idade, e só uma década mais tarde, depois de ter “comprado” no mercado negro “um passaporte falso chinês”, conseguir chegar a Seul. Constitucionalmente, a Coreia do Sul é obrigada a receber todos os refugiados oriundos do Norte. Para a China são emigrantes ilegais e se forem descobertos podem ser deportados para a Coreia do Norte, com as consequências que facilmente se adivinham.
Thae Yong-Ho, o antigo ‘nº 2’ da Embaixada norte-coreana em Londres, foi um dos mais altos funcionários do país a romper com o Governo de Pyongyang. Diplomata de carreira, nascido em 1963, Thae Yong-ho vive agora em Seul, sob a proteção da agência nacional de segurança sul-coreana. Para as autoridades norte-coreanas, trata-se de “um criminoso que se apropriou de grande quantidade de fundos públicos, vendeu segredos de Estado e violou uma menor”. Nas múltiplas entrevistas que tem dado, à televisão local e à imprensa internacional, Thae Yong-ho assume-se como um dissidente político, empenhado em “derrubar o desumano regime” da família Kim. “As estruturas tradicionais do sistema norte-coreano estão a desmoronar-se (…) Kim Jong-un tem os dias contados”, diz o antigo diplomata. “Dentro de cinco anos, no máximo, a Coreia estará reunificada”.
O outro irmão de Kim Jong-un, Kim Jong-chol, nascido em 1981, poderá ser uma alternativa ao atual líder? Thae Yong-on, que há dois anos, em Londres, o acompanhou a um concerto de Eric Clapton, pensa que não: “Ele (Kim Jong-chol) é um homem muito livre, mas só está interessado em guitarras e música”. Dois estudiosos franceses, Juliette Morillot e Dorian Malovic, garantem que Kim Jong-chol “ocupa um lugar de responsabilidade no departamento de Informação e Estratégia do partido” e que a irmã, Kim Yo-jong, de 30 anos, “dirige o departamento de Agitação e Propaganda”.
Andrei Lankov, o especialista russo, detetou em Pyongyang “tendências semelhantes” às que se manifestavam no seu país antes do colapso da União Soviética. “Comparando com antigamente, as pessoas estão menos assustadas e menos interessadas com o que o regime tem para oferecer. Por outras palavras, elas estão a tornar-se cada vez mais independentes”, salientou Andrei Lankov no livro “A Vida Quotidiana na Coreia do Norte”, publicado em 2015.
Para Konstantin Asmolov, outro especialista russo em assuntos coreanos, o comportamento de Thae Yong-un também faz lembrar o que se passou na Rússia: “Houve todo um grupo de ideólogos ferozmente comunistas que se transformaram rapidamente em não menos furiosos anticomunistas”, escreveu Asmolov no jornal online NEO (New Eastern Outlook), sediado em Moscovo.
O socialismo criado pela dinastia Kim já não será “o mais científico e viável do mundo”. Mas a dividida península coreana continua a ser um imenso barril de pólvora, suscetível de voltar a incendiar o nordeste da Ásia e, desta vez, com armas nucleares.