Caros adeptos, sócios, comentadores e credores do Sporting, foi com toda a honra que, à semelhança de Durão Barroso, que passou pelas escolas de formação do PCTP-MRPP e depois tornou-se um notável social-democrata cavaquista, também, nado e criado no Benfica, virei a casaca e tornei-me um admirável sportinguista varandista. Mas, tal como o mesmo Durão Barroso pisgou-se para Bruxelas quando um convite irrecusável surgiu, deixando Pedro Santana Lopes com o bebé no colo (e, no caso dele, na incubadora), também eu recebi agora um convite indeclinável e por isso mando o nenuco verde e branco para o colo do João Pereira. Peço-vos apenas que compreendam a minha decisão, porque uma oportunidade como esta é um comboio que - como os da CP - passa apenas uma vez na vida. Para mais, apesar de ter jogado no Benfica e treinado o Sporting, todo o meu coração é britânico desde o berço, ou não tivesse sido batizado em honra desse lendário herói inglês, Rúben dos Bosques. Quando os meus colegas de clube tinham posters da italiana Sabrina no cacifo do balneário, já eu preferia a inglesa Samantha Fox. Quando eles olhavam à socapa para fotografias em pelota da húngara Cicciolina, já eu colecionava imagens, publicada no “The Times”, da famosa modelo e agente-dupla Christine Keeler, amante do ministro conservador John Profumo. Quando, por fim, os meus colegas de equipa pasmavam-se com as inovações técnico-táticas do Jorge Jesus no Benfica, eu comparava-as mentalmente aos avanços da Revolução Industrial e à Revolução Gloriosa do Oliver Cromwell. Sportinguistas, eu sei que - como dizia o meu amado Shakespeare - chegou o inverno do vosso descontentamento e que - como o Dylan Thomas - não querem entrar tão depressa nessa noite escura, mas não se esqueçam que, como dizem os ingleses, o tempo cura tudo e que o meu sucessor no Sporting será tão elogiado pelo Nuno Saraiva, o Carlos Barbosa da Cruz e o André Pinotes Baptista como a Porquinha Peppa pelo Boris Johnson. V.E.