Poupança reforma

Vamos viver muitos anos. Não gaste tudo já

O aumento da esperança média de vida e a fraca natalidade trazem novos desafios à população e ao sistema de pensões. É preciso poupar para viver melhor os tempos da reforma. Durante este mês, o Expresso e o BPI discutem as grandes questões relacionadas com a poupança e a reforma

UNITED STATES – CIRCA 1940s: Couple looking at brick house under construction, rear view.

Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) são claros: há cinquenta anos, Portugal tinha 120 mil pensionistas. Hoje são perto de 4 milhões. O aumento da esperança média de vida será sempre uma boa notícia e um reflexo da evolução na saúde e diferentes sectores da sociedade, mas a fraca natalidade – por cada idoso temos apenas três pessoas no ativo – coloca uma inevitável pressão sobre o sistema de pensões. Parte da solução passa por poupar para viver com qualidade os tempos da reforma, diversificando os seus investimentos. 

O cenário demográfico português reflete o último Aging Report da Comissão Europeia, que prevê quebras nas taxas de substituição – diferença entre o último salário e a primeira pensão – na ordem dos 50%, em 2040. António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, afirma que estes dados colocam “pressão na trave mestra de uma sociedade, que é a segurança social”. Ainda assim, acredita o provedor, “a forma como o sistema está desenhado não vai comprometer as pensões, porque está baseado na solidariedade integeracional”.

“Precisamos ensinar as pessoas a poupar, mas também a investir”

Jorge Sousa Teixeira

Sobre o mesmo assunto, Bagão Félix, ex-ministro da Segurança Social e do Trabalho, coloca a questão demográfica como “um adversário da sustentabilidade das pensões públicas. E entre várias possibilidades e soluções, tem uma certeza: “A primeira solução estará na economia, em dois fatores, o emprego e a produtividade. Com cada vez menos ativos a descontar, este efeito demográfico só pode ser anulado com aumentos de produtividade”.

Atualmente, segundo os dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, “Portugal é um dos seis países com menor produtividade, ou seja, que geram menos riqueza por hora de trabalho (65% da média da UE27)”. O relatório descreve que Bulgária, Grécia e Letónia são os “menos produtivos” enquanto Irlanda, Luxemburgo e Dinamarca lideram a lista dos que geram mais riqueza por hora trabalhada.

Para o professor do ISEG, Amílcar Moreira, o indicador da Comissão Europeia mostra que há uma melhoria do sistema, feito à custa de uma redução das taxas de substituição. “Isto reflete a natureza do sistema: ou aumentamos as receitas ou diminuímos os benefícios”, diz o professor, considerando necessário “ter avaliações com outro tipo de cenários, com foco nos principais aspetos macroeconómicos, como a produtividade e o trabalho, para ter mais informação sobre a tendência a seguir.”

Ensinar a investir

Atualmente, a taxa de poupança em Portugal ronda os 13,1%. Um cenário que muitos especialistas consideram conjuntural, tendo em conta a pandemia e o fecho prolongado da economia, e que deverá voltar a níveis inferiores a curto prazo. Será, portanto, decisivo encontrar formas de aforrar para chegar à reforma sem perdas de rendimento consideráveis.

81,1

  • anos é a atual esperança média de vida em Portugal

“Precisamos ensinar as pessoas a poupar, mas também a investir. Um investimento com uma taxa de 0,5%, ao fim de trinta anos gera valor”, diz Jorge Sousa Teixeira, membro do CA do BPI Gestão de Ativos, acrescentando: “É preciso consciencializar os portugueses para a poupança, mas também dizer que precisam de a pôr a circular. Até porque vem aí a inflação”, conclui.