Projetos Expresso

“O SNS é uma conquista nacional que merece ser defendida, assegurada e reforçada”

Ministra da Saúde esteve presente na apresentação da nova edição do Índice de Saúde Sustentável 2024/2025, da NOVA IMS e da AbbVie, num evento que contou com o Expresso como media partner. Aumento da despesa no SNS continua a ser uma das principais preocupações

Ana Paula Martins reconhece que o custo por doente aumentou, mas diz que isso não significa necessariamente uma menor produtividade do SNS
Matilde Fieschi

O Índice de Sustentabilidade em Saúde, divulgado esta terça-feira no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, mostra que o indicador continua em queda e atinge, em 2024, o pior resultado de sempre: 79,9 pontos. O número do estudo da AbbVie com a NOVA IMS, que segue a tendência de queda iniciada em 2018 (interrompida nos anos da pandemia), não deve, segundo a ministra da Saúde, ser visto de forma isolada. “A atividade do SNS continua a aumentar sustentadamente. O SNS continua a cumprir a sua missão e a produzir mais”, defende, lembrando que o “Estado aumentou o investimento”.

Por outro lado, realça Ana Paula Martins, a qualidade percecionada pelos doentes “aumentou no seu maior valor nos últimos cinco anos”. Ainda assim, a responsável pela pasta da saúde reconhece que é preciso melhorar o acesso e os tempos de resposta, um trabalho que, diz, o Governo tem procurado fazer.

Lucie Perrin, diretora-geral da AbbVie, acredita que "estamos, finalmente, a dar passos decisivos na mudança de paradigma". Em causa está a mudança de um sistema de saúde focado na doença para um sistema que dê prioridade à prevenção e aos resultados em saúde
Matilde Fieschi

Uma das formas de o fazer, aponta, é por via da valorização dos profissionais, mas também pela introdução de inovação e de ferramentas de inteligência artificial (IA) que permitam fazer face aos principais desafios do SNS. “A IA vai obrigar-nos a repensar o modelo de prestação de cuidados”, afirma, sublinhando que “o SNS é uma conquista nacional que merece ser defendida, assegurada e reforçada”.

Marcelo Rebelo de Sousa, que participou pela última vez, como presidente da República, na apresentação deste estudo, elencou os múltiplos desafios do sistema, mas fez questão de assinalar a diferença entre a opinião mediática e as “perceções dos portugueses”. “O juízo e as perceções dos portugueses não são as dos comentadores e da bolha mediática”, afirma, lembrando os elevados níveis de confiança dos utentes no SNS que o Índice veio demonstrar. De acordo com os números, a qualidade percecionada pelos utilizadores aumentou ligeiramente face a 2023, tendo passado de 72,4 para 73,7 pontos.

Pedro Simões Coelho (NOVA IMS), Manuel Pizarro (ex-ministro da Saúde) e Miguel Guimarães (deputado PSD) analisaram as principais conclusões do estudo promovido pela Abbvie com a NOVA IMS
Matilde Fieschi

No evento de apresentação dos resultados do Índice de Saúde Sustentável 2024/2025, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, estiveram ainda Ricardo Costa (Impresa), Lucie Perrin (AbbVie), Manuel Pizarro (ex-ministro da Saúde), Miguel Guimarães (deputado PSD) e Pedro Simões Coelho (NOVA IMS). Para debater as oportunidades e os desafios da inteligência artificial aplicada à saúde, marcaram presença Miguel Mascarenhas (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto), Ricardo Baptista Leite (Health AI) e Rui Santos Ivo (Infarmed).

A aplicação da inteligência artificial na saúde foi o tema do segundo painel, que reuniu Ricardo Baptista Leite (Health AI), Miguel Mascarenhas (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) e Rui Santos Ivo (Infarmed)
Matilde Fieschi

Conheça, abaixo, as principais conclusões.

Investir em saúde traz retorno económico

  • A última edição do Índice de Saúde Sustentável revela que o SNS representa um retorno de €9,5 mil milhões para a economia portuguesa. Em causa estão 5,3 mil milhões ‘poupados’ por produtividade não perdida e cerca de mil milhões em absentismo evitado. A este valor, soma-se a valorização do trabalho não perdido pelas empresas e, com isso, atinge-se o valor global de €9,5 mil milhões.
  • “Estimamos que o número médio de dias faltados tenha sido de cinco, e que o SNS tenha evitado 1,9 dias faltados”, detalha Pedro Simões Coelho. O coordenador do estudo diz mesmo que o “grande contributo do SNS nos últimos anos tem sido sobre a produtividade”.
  • Outro dado relevante prende-se com a redução de 35% do stock da dívida vencida do SNS para cerca de €290 milhões. “O tema da despesa é preocupante e é importante fazermos esse debate. A despesa não pode continuar a crescer a dois dígitos anualmente”, aponta Manuel Pizarro.
  • Miguel Guimarães considera que a “redução da dívida é extremamente positiva” e acredita que para melhorar o indicador da despesa é preciso “investir na prevenção”, nomeadamente nas escolas.
  • Mas nem tudo são boas notícias. Quando se olha para a produtividade do sistema de saúde, o Índice hoje divulgado mostra que são tratados 185 doentes por milhão de euros - é o valor mais baixo da última década.

Inteligência artificial é ferramenta desejada

  • Quase seis em cada dez inquiridos considera que a IA terá impacto positivo na saúde, e 46% admitem ter confiança na sua utilização. Ricardo Baptista Leite comemora a elevada confiança da população nestas ferramentas, mas alerta que “há um caminho a fazer” no que diz respeito à forma como os profissionais de saúde olham para a IA.
  • Entre as principais preocupações demonstradas estão possíveis erros em diagnósticos e tratamentos (56,6%) e a eventual substituição de profissionais de saúde por máquinas (55,4%).
  • Para os oradores, não há risco de substituição para a generalidade dos profissionais de saúde, com exceção daqueles que, à semelhança do que acontece com outras inovações tecnológicas, não aprendam a usar a IA e a integrá-la no seu modelo de trabalho.
  • Há, porém, desafios. “Precisamos de apostar na formação”, considera Miguel Mascarenhas, que reconhece, contudo, que existem faculdades já a olhar para a inclusão da IA nos currículos como uma prioridade para a formação dos futuros médicos e enfermeiros. “Portugal é líder mundial na IA em saúde digestiva”, sublinha, dando exemplos de tecnologias que estão a ser desenvolvidas em território nacional com potencial “disruptivo” na prevenção de cancros digestivos.
  • Do lado do Infarmed, Rui Santos Ivo afirma que o supervisor está atento aos avanços tecnológicos e que tem procurado contribuir para eliminar barreiras à introdução de IA no sistema de saúde. “Estamos a discutir muito em conjunto, a nível europeu, a questão da governação. Tem de ser eficaz, temos de criar normas e orientações que sejam claras para que tenhamos confiança nas ferramentas que vamos usar”, disse.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.