Renato Silva, Kropie
Monitorização inteligente
Para que a floresta atinja o seu potencial, é essencial ter sempre ao dispor uma ideia clara dos recursos naturais disponíveis em tempo real e dos diferentes riscos que em cada momento podem estar a enfrentar. Por isso Renato Silva e André Conde fundaram a Kropie, onde desenvolveram uma "tecnologia que permite recolher e cruzar dados de análises de solo, água e planta, com sensores ambientais e modelos de inteligência artificial, para apoiar produtores e técnicos na tomada de decisões mais sustentáveis e eficientes". Segundo Renato Silva, trata-se de uma "ideia inovadora" uma vez que "democratiza o acesso à agricultura e silvicultura de precisão, com uma solução simples, acessível e adaptada à realidade nacional". Algo que assume ainda maior relevância quando vivemos um "contexto de escassez hídrica, alterações climáticas e degradação do solo" em que "é essencial capacitar quem está no terreno com ferramentas que permitam antecipar riscos, melhorar a saúde dos ecossistemas e aumentar a rentabilidade". Meta final? "Tornar a floresta portuguesa mais resiliente, produtiva e regenerativa".
Filipe Duarte Santos, CNADS
Reverter fragmentação
"De acordo com os dados da European Forest Fires Information Service (EFFIS) do Sistema Copernicus da União Europeia, a média anual da percentagem de área ardida no período de 2006 a 2024, relativamente à área de Portugal Continental, foi de 1,05%, o que constitui o valor mais elevado nos 27 países da UE", ilustra o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos. Uma "situação gravosa para o país, do ponto de vista social, económico, de saúde pública e ambiental" que, na opinião do professor universitário, prende-se com a "elevada fragmentação dos prédios rústicos [terreno situado fora de uma área urbana, destinado principalmente a atividades agrícolas, pecuárias, florestais ou outras utilizações rurais] em Portugal". Falamos de uma questão que ocorre "especialmente no centro e norte do país" e "que desfavorece a gestão das propriedades e por vezes conduz ao abandono, não tendo sido ainda possível encontrar solução". Ou seja, "sem criar condições para reverter a extrema fragmentação da propriedade rústica não é possível melhorar significativamente a gestão da totalidade da floresta". É hora de "implementar efetivamente as recomendações propostas pelo Grupo de Trabalho para a Propriedade Rústica" como "um primeiro passo no caminho para a solução".
Nuno Gomes Oliveira, FAPAS
Lucro ambiental
O presidente da FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, começa por vincar a sua visão: "É verdade que mais de um terço do território nacional está ocupado por árvores, mas, na grande maioria (cerca de 50%), trata-se de matas industriais e não de florestas. Separar, quer na comunicação, quer na gestão, estes dois conceitos é o primeiro passo a dar". Feito isto, Nuno Gomes Oliveira considera que "há que colocar as matas sob a tutela da economia (Serviços Florestais, do Ministério da Agricultura) e as florestas autóctones e de conservação sob a tutela do ambiente (ICNF, Ministério do Ambiente)". Até porque "das primeiras há que tirar lucro económico e, das segundas, lucro ambiental, nomeadamente dos serviços dos ecossistemas". O biólogo não tem dúvidas que as "matas monoespecíficas de pinheiro ou eucalipto são importantes para a economia nacional", mas pede que "não lhe chamemos florestas, como não chamamos espaço natural a um campo de milho!". No que toca às "áreas florestais naturais, há que aumentar decididamente a sua área, que atualmente é residual, recriando áreas generosas de vegetação ripícola, amplas sebes vivas, sistemas de mosaico, plantar soutos (muitos soutos) e promover os corredores ecológicos que garantem a conectividade da paisagem e da biodiversidade". Com a certeza que "há que reduzir drasticamente a burocracia de tutela e gestão do falso ordenamento florestal".
João Silva Pereira, Universidade de Coimbra
CO₂ biogénico sólido
Converter resíduos florestais em "CO₂ biogénico sólido" foi o objetivo fundador do projeto BW2C, de forma a potenciar "a gestão eficaz dos resíduos florestais, a prevenção de incêndios e a transição para uma economia neutra em carbono". Trata-se de "uma matéria-prima cada vez mais valorizada e essencial à produção de biocombustíveis sintéticos verdes fundamentais para descarbonizar, por exemplo, o sector dos transportes, particularmente o de longa distância, onde a eletrificação apresenta limitações", explica o professor convidado no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra e investigador na Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI). O projeto, liderado pela empresa Sustainc, consiste no "desenvolvimento de um sistema semimóvel e energeticamente autónomo, capaz de realizar, in situ [no local], a combustão controlada de resíduos florestais e a subsequente captura". Esta tecnologia "evita a utilização de reagentes químicos e produz CO₂ em estado sólido, o que facilita significativamente o seu transporte para posterior uso e/ou armazenamento". Segundo o investigador "este sistema representa uma mudança de paradigma" porque "ao invés de transportar grandes volumes de biomassa, com baixa densidade energética, para centrais fixas" é possível levar "a tecnologia à floresta, valorizando localmente os resíduos e reduzindo drasticamente os custos e emissões associados à logística".
Helena Pereira, ISA
Puzzles de árvores
"Proponho um programa para dar a conhecer as árvores e as florestas aos miúdos de 2, 3, 4, 5 e 6 anos e, com isso, criar-lhes laços afetivos com elas", sintetiza a professora do Instituto Superior de Agronomia. Para Helena Pereira, é essencial que "desde muito cedo as crianças conheçam pinheiros, sobreiros, eucaliptos e as bonitas árvores dos arruamentos e parques das cidades. Que toquem as diferentes texturas das cascas, brinquem com as folhas e vejam a dinâmica de cores durante o ano. Que gostem de correr entre as árvores e de passear nos caminhos das florestas". Se olharmos com atenção para "os brinquedos", "jogos", "histórias" ou "canções" para crianças veremos "que eles são ricos em animais, desde os domésticos aos selvagens e exóticos. Mas não com árvores e florestas". Por isso, a resposta pode passar pela criação de "livros mostrando árvores, folhas e cascas adequados para as várias idades,brinquedos, puzzles e cubos, assim como histórias e canções com meninos e meninas na floresta". E por "ajudar as creches e infantários a fazer atividades de plantar árvores em jardim ou vasos, acompanhando o seu desenvolvimento, e nos passeios com as crianças dizer o nome das árvores e chamar a atenção para as folhas, flores e sementes". No fundo, "fazer com que as árvores sejam amigas".
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa