Projetos Expresso

As novas ideias que podem ajudar a floresta em Portugal

"Novas ideias para a floresta" é um projeto Expresso com o apoio da Navigator, que ao longo das próximas semanas reúne, no papel e no digital, 30 sugestões inovadoras de diversas personalidades para proteger e valorizar os recursos florestais em Portugal. Fique a conhecer o terceiro conjunto de novas ideias para a floresta, que inclui a aplicação de um biomaterial à indústria da cosmética ou a proposta de criação de uma disciplina de educação florestal

Jorg Greuel

Giovana Colucci, Centro de Investigação de Montanha

Biomaterial cosmético

"Transformar a lenhina, um subproduto industrial resultante do processamento da biomassa agroflorestal, como por exemplo da indústria de pasta e papel, num ingrediente multifuncional de elevado valor para a indústria cosmética". É o objetivo do LignoBeauty, projeto que está a ser desenvolvido pela estudante de doutoramento Giovana Colucci no Instituto Politécnico de Bragança. "A proposta inovadora de explorar o uso de lenhinas na formulação de emulsões sustentáveis como produtos para aplicação cosmética" foi acolhida com entusiasmo e "pode ser diretamente incorporado em formulações cosméticas mais sustentáveis, superando desafios técnicos de aplicação". O produto tem propriedades "estabilizantes, antioxidantes e de proteção solar" pelo que "surge como uma alternativa promissora a componentes sintéticos e derivados de fontes fósseis habitualmente utilizados em cosméticos e associados a impactos ambientais e riscos para a saúde". Na opinião da investigadora, "para além de promover o aproveitamento integral dos recursos florestais, esta abordagem ajuda a fechar o ciclo de produção, ao transformar subprodutos em ingredientes de elevado valor acrescentado".

José Gaspar, CoLAB ForestWISE

Satélite com inteligência artificial

Explica o CTO do ForestWISE- Laboratório Colaborativo para a Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, que a sua estrutura "desenvolve atividades com dois focos relevantes para a floresta portuguesa, a criação de valor e a diminuição do risco". É aí que se enquadra o projeto que permitirá desenvolver algoritmos de inteligência artificial baseados em imagens de satélite, nanossatélites e drones. Objetivo? Produzir e recolher informação florestal, além de produzir produtos cartográficos relacionados com as florestas, que são fundamentais para a gestão florestal e mitigação de riscos, tanto à escala da paisagem como dos povoamentos. Por isso, como sequência desta iniciativa, a Direção-Geral do Território lançou a "Carta de Perdas de Vegetação em Floresta e Mato", uma nova ferramenta inovadora para a monitorização contínua das florestas em Portugal. São projetos que "dinamizam a bioeconomia, facilitam e profissionalizam o conhecimento e a gestão dos recursos florestais, permitem o acesso a dados e informação relevante do território e das operações, e melhoram a gestão do risco", garante José Gaspar.

Alexandra Azevedo, Quercus

Bolota como alimento

Há um "problema de fundo" em Portugal: "Operacionalizar e corrigir atuais distorções", atira Alexandra Azevedo. É o caso dos "subsídios ao uso de madeira de qualidade, em vez de biomassa residual, para fins energéticos" ou "os apoios da PAC [Política Agrícola Comum] desvirtuados no acesso aos pequenos produtores". Mas entre "alertar para a importância dos fundos no âmbito da Lei do Restauro da Natureza serem corretamente aplicados no apoio das comunidades rurais" e a  "preservação das nossas árvores autóctones", a presidente da Quercus chama a atenção para a "falta de medidas para valorizar a fileira da bolota, como alimento, e consequente as árvores nativas do género Quercus, como a redução do IVA para 6%, à atual taxa de 23% aplicado aos produtos de bolota, e outras medidas de valorização no mercado, como a certificação". Pode ser parte do caminho para um "efetivo retorno económico e financiamento dos proprietários para soluções mais sustentáveis para o país".

Carlos Fiolhais, Universidade de Coimbra

Ministério da Agricultura fora de Lisboa

É em oposição a um "centralismo quase sem paralelo na União Europeia" que o diretor do Rómulo Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra apresenta a sua ideia de contrariar o facto de a população ter deixado "as serras para ir para as cidades, descurando a floresta e propiciando fogos". Para combater este cenário "é preciso incentivar a ocupação do interior, com particular foco na adequada gestão da floresta e no bom uso dos seus múltiplos produtos". Diz Carlos Fiolhais que "a descentralização devia, por isso, ser a primeira prioridade da reforma do Estado", com o professor emérito a dar uma sugestão prática: "Há várias vozes a dizer isso na Associação Círculo de Estudos de Centralismo, com sede em Miranda do Douro, mas pregam num deserto que será cada vez maior até que o Estado se mova. O Ministério da Agricultura devia dar o exemplo, saindo de Lisboa para vir para perto da floresta".

Maria José Roxo, FCSH

Disciplina da floresta

É preciso criar o mais cedo possível no percurso escolar uma disciplina do currículo académico inteiramente dedicada à floresta. A ideia é de Maria José Roxo, com a professora Catedrática do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a reforçar que o "o que falta muitíssimo é não haver uma educação para a floresta". Temos que desenvolver uma "estratégia que leve mais jovens a pensar o que a floresta é" sem ser "na base do que costumamos ver". Por exemplo, apenas "designar determinado dia para chamar atenção, como o dia da árvore ou da floresta" que acabam por ser "coisas muito pontuais" e sem influência duradoura. "Ir à floresta e catalogar espécies como boas ou más não é a forma correta de educar para a floresta do futuro", sustenta. A "nível local" é importante que "se trabalhe a floresta de forma sistémica" para que se perceba que é "um bem comum, que presta serviços" e o que significa "em termos de solo, água e diversidade". Uma sugestão que a professora deixa é que os alunos "possam desde muito cedo apadrinhar uma árvore, fotografá-la em determinados momentos da sua vida e sentir aquela árvore como deles, como guardiões da natureza e da floresta em si", como forma mais dinâmica de perceberem "como a floresta funciona". A "ideia de inovação" é que ao longo do percurso escolar seja possível "utilizar todas as ferramentas de criatividade para que os mais novos sejam um elemento importante da salvaguarda" da biodervisisdade. "Jardins, parques, escolas podem também ter programas integrados", com recurso a "drones e aplicações que permitam identificar as espécies". Importa apostar numa "educação pela prática e pela observação na realidade". Até porque "não é com o iPad ou o YouTube" que vão sentir "o cheiro da floresta".

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa