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O desafio de envolver os homens na promoção da sua saúde: “Temos de chamar o cidadão para cocriar campanhas”

Sónia Dias é a sexta convidada a comentar - em vídeo - o estudo sobre “A Saúde do Homem”, realizado pela GfK Metris para o Expresso. Apesar de a maioria dos homens portugueses ter médico de família, a subutilização dos cuidados de saúde permanece preocupante. A diretora da Escola Nacional de Saúde Pública defende uma mudança de paradigma na comunicação e promoção da saúde, adaptada às necessidades e realidades masculinas

A subutilização dos cuidados de saúde por parte da população masculina continua a ser uma realidade. Apesar de 86% dos homens inquiridos num estudo recente afirmarem ter médico de família, apenas 57% recorrem ao centro de saúde quando precisam. A diretora da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) aponta o dedo a um paradigma que está centrado na doença, defendendo uma transformação no modo como se comunica com as diferentes populações.

A explicação para estes dados, considera a diretora da ENSP, reside numa cultura ainda dominante que valoriza a intervenção sobre a doença em detrimento da promoção da saúde. Mesmo com médico de família, muitos homens não procuram cuidados preventivos, desvalorizando sinais e sintomas iniciais. “Há uma auto-percepção de saúde favorável, sobretudo nos homens, que ignora frequentemente fatores de risco já presentes”, alerta Sónia Dias.

Para alterar este cenário, a especialista sublinha a importância de reforçar os cuidados de saúde primários como porta de entrada no sistema e de investir na promoção da saúde ao longo do ciclo de vida. “É preciso reduzir barreiras culturais, sociais e económicas. E, acima de tudo, criar um sistema mais próximo, equitativo e ajustado à realidade das pessoas.”

Um dos pontos críticos identificados no estudo prende-se com a eficácia das campanhas de saúde: apenas 8% dos inquiridos disseram ter ido ao médico por influência direta de uma campanha. Para a professora da ENSP, as campanhas generalistas, uniformes e exclusivamente informativas estão esgotadas. “Precisamos de campanhas segmentadas, baseadas em dados concretos sobre os diferentes públicos, e que utilizem formatos, canais e linguagens adaptadas às suas realidades.”

Nesse sentido, propõe-se uma mudança de paradigma: integrar contextos não convencionais, como o local de trabalho, comunidades ou clubes desportivos e, sobretudo, envolver os próprios cidadãos na criação das campanhas. “Temos de chamar o cidadão para co-criar. Só assim é possível responder às suas reais necessidades e ultrapassar as barreiras do dia a dia.”

A Escola Nacional de Saúde Pública assume aqui um papel estruturante. Para além da formação de profissionais de saúde mais sensibilizados para as questões de género, a instituição tem vindo a trabalhar na análise de dados, na avaliação de impacto das campanhas e na promoção de intervenções mais eficazes. “A academia deve não só traduzir a evidência científica em ações concretas, como também gerar nova evidência que ajude os decisores políticos a construir políticas mais eficazes.”

Como proposta concreta, Sónia Dias deixa uma ideia: a criação de um observatório com enfoque na saúde e género, capaz de identificar os grupos mais vulneráveis e as suas necessidades específicas, orientando estratégias baseadas em ciência e ajustadas à realidade. “Precisamos de pensar a saúde pública com todos, para todos.”


A Saúde do Homem

Este é um projeto a que o Expresso chamou “A Saúde do homem” e que conta com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e ainda com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Ordem dos Médicos, na qualidade de parceiro institucional. O estudo foi conduzido pela empresa de estudos de mercado, GfK Metris.

No total, serão publicadas dez entrevistas em vídeo e dez entrevistas em texto. Acompanhe tudo em expresso.pt .

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa