Projetos Expresso

O plano para a “expansão mundial” dos frutos secos

Internacionalização. Os EUA são o principal produtor de amêndoa, mas a guerra comercial é uma oportunidade para Portugal. Prioridades do sector: reforçar a transformação e trazer investidores

Na Treemond, que tem investimentos em Portugal e em Espanha, torrar a amêndoa é uma das formas de acrescentar valor à produção

Fazer crescer a produção de frutos secos em Portugal é um dos principais objetivos do sector, que é hoje reconhecido pelas práticas modernas de agricultura com preocupação ambiental e elevada eficiência na utilização de água. Porém, há dois grandes desafios: a falta de mercado interno e o domínio global dos Estados Unidos, em particular na amêndoa.

Por cá, a fileira dos frutos secos “está a ganhar corpo, credibilidade e futuro”, assegura Roberto Grilo, um dos oradores convidados do IV Congresso Portugal Nuts. Para o vice-presidente da CCDR-Alentejo, a “organização coletiva” do sector é essencial para ganhar escala e para apostar na diferenciação no mercado europeu e internacional: “Quem conseguir provar que produz com qualidade, rastreabilidade e preocupações sociais vai diferenciar-se.”

Ao nível nacional, os produtores de amêndoa e noz já se destacam de outras culturas pela sua elevada eficiência hídrica e aposta em técnicas de agricultura de precisão. “Este é um sector de presente e de futuro, de enorme potencial e valorização”, sublinha Tiago Costa. O presidente da Portugal Nuts, associação que representa cerca de 25% da área nacional e um terço da produção em toneladas, diz que “os frutos secos estão em expansão mundial” e acredita que “teremos oportunidades de afirmação nacional” no estrangeiro. Atualmente, o país exporta a esmagadora maioria da produção e tem pouca capacidade de transformação industrial, ficando dependente de Espanha para essa fase. “Temos de apostar na transformação para captarmos mais valor acrescentado e para poder vender Portugal lá fora sem ter de passar por Espanha”, acrescenta.

Durante o congresso, que juntou cerca de 400 pessoas em Beja, a associação apresentou o Nuts by Portugal, um projeto de interna­cionalização pensado para os frutos secos. O objetivo é dar a conhecer a produção nacional e reforçar a comunicação da origem e da qualidade de frutos como a amêndoa. Ao longo de 24 meses, vão ser organizadas visitas a feiras, missões de promoção externa e “missões inversas”, que trazem compradores estrangeiros qualificados ao país. “Não vamos só vender frutos secos. Pretendemos comercializar também os subprodutos, como a capota ou a casca”, detalhou Liliana Cabecinha, responsável pelo projeto.

Além da amêndoa ou da noz, o sector quer vender subprodutos para se tornar ainda mais eficiente

Os Estados Unidos são atualmente o principal produtor mundial de amêndoa — que é cultivada sobretudo na Califórnia —, mas os elevados custos de contexto, a escassez de água e a guerra comercial podem ajudar a destronar essa liderança. “Há potencial de crescimento no mercado europeu e há interesse em substituir amêndoa de outras geografias pela amêndoa europeia”, considera Miguel Matos Chaves, da Migdalo.

“Os mercados são muito recetivos aos produtos portugueses. Ser um país atrativo para estrangeiros ajuda a que a produção agroalimentar evoque esses sentimentos positivos”, acredita Enrique Colilles, responsável pela Treemond. A empresa, com operação em Portugal e em Espanha, olha para a fileira dos frutos secos como uma “poderosa fonte de riqueza que deve ser protegida e promovida”. Para isso, deve ser feita aposta em inovação, sustentabilidade e promoção conjunta da origem.

As produções ainda são jovens no país e não atingiram, em pelo menos metade dos casos, todo o seu potencial (ver caixa), pelo que o futuro, acredita o sector, é risonho. Encontrar as variedades mais rentáveis e reforçar a competitividade das empresas nacionais são essenciais.


Regar com eficiência traz vantagens

Água Os cenários apontam para uma redução da precipitação no país até final do século de 25%. Gerir o recurso da água de forma eficiente traz ganhos económicos, mas implica conhecer o valor monetário gerado por metro cúbico de água em cada cultura. Por exemplo, segundo o estudo da Católica, o valor médio na agricultura é de €0,585. Mas sobe para €1,17 no amendoal em sebe.


€500

milhões terão sido investidos entre 2014 e 2020, de acordo com estudo da associação Portugal Nuts sobre a caracterização do sector. Destes, €294 milhões foram apoiados por fundos públicos. Depois de ter crescido 35% em 2023, o Instituto Nacional de Estatística estima uma nova expansão dos frutos secos para 2024 de 15%. Produção de noz e de miolo de amêndoa também subiu


Potencial por descascar nos frutos secos

Produção Crescimento da área ocupada por estas culturas começa a estabilizar, aponta a Portugal Nuts, que conta, entre os sócios, com quase 16 mil hectares plantados de amendoal. Ao nível da produção, espera-se um aumento nos próximos anos à medida que as plantações recentes entram na fase mais produtiva: apenas 50% da área cultivada está em “velocidade cruzeiro”.


€4,20

foi o valor médio pago aos produtores por cada quilo de amêndoa produzida em Portugal. Tiago Costa, presidente da associação do sector, não tem dúvidas de que o preço tem de subir para garantir rentabilidade. “Os preços já estão cerca de 25% acima do praticado no ano passado”, reconhece. Guerra comercial dos Estados Unidos pode favorecer a indústria europeia


Fintar doenças e pragas é prioridade

Adaptação Bárbara Oliveira, da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, considera que “não vamos superar as pragas e as doenças, mas vamos superar desafios no convívio que teremos de fazer com elas”. Empresas como a InnovPlantProtect têm projetos de investigação para conseguir num futuro próximo “ter amendoeiras já vacinadas contra certas doenças”.