Projetos Expresso

Uma revolução para lá da tecnologia

Transformação. A inteligência artificial está, de novo, a mexer com tudo, inclusive com os modelos de gestão e com a relação com os trabalhadores. E mesmo com riscos, as empresas estão dispostas a mudar, dado os ganhos de eficiência que se conseguem

Gestores do encontro: Francisco Pedro Balsemão (Impresa), Miguel Maya (BCP), Ana Figueiredo (Altice), Luíz Menezes (Ageas), e o presidente do IRN, Jorge Rodrigues da Ponte

Uns chamam-lhe revolução, outros preferem a palavra transformação, mas seja qual for o termo usado, entre as maiores empresas do país há um consenso de que a inteligência artificial (IA) — e o passo seguinte que é a inteligência artificial generativa (ver caixa ao lado) — é muito mais do que uma questão tecnológica. Estão, de novo, a mudar tudo: a forma como as organizações se relacionam com os clientes ou utentes; os produtos e serviços que disponibilizam; os investimentos que fazem; a forma como gerem as empresas; a formação que dão aos funcionários; ou as competências que procuram nas pessoas que querem contratar.

Por exemplo, a banca poderá deixar de fazer campanhas gerais para atrair crédito à habitação e passar a fazer campanhas específicas para cada cliente. Ou pode começar a dar respostas imediatas sobre um crédito, o mesmo que também pode acontecer com um seguro. No caso das telecomunicações, haverá cada vez mais chamadas do apoio ao cliente a serem atendidas por máquinas, mas estas terão respostas cada vez mais personalizadas e fluidas, como se fosse linguagem natural. Além disso, terão de investir muito em redes, dada a “avalanche de dados” que estas tecnologias movimentam.

Rui Teles, responsável da Accenture, destaca que, de acordo com um estudo recente da Accenture, das duas mil empresas inquiridas internacionalmente (excluindo Portugal), as que estão mais à frente nesta transformação são as que “investiram fortemente em dados”. Porque “sem dados, nada disto funciona”, acrescenta, explicando que para existir IA e IA generativa é preciso introduzir nos sistemas o maior volume possível de informação para que depois as máquinas respondam de uma forma o mais semelhante possível à linguagem natural ou consigam criar textos, sons ou vídeos semelhantes aos criados pelas pessoas.

Regulação “um bocadinho atrás”

É por isso que Rui Teles considera que uma das limitações — e um risco — da IA é, precisamente, a qualidade da informação. “Estes sistemas inferem pela informação disponível. É a diferença entre a verdade dos factos e o que dizemos ser a verdade dos factos.” Outra limitação — esta já na fase de aplicação destas tecnologias — é a regulação, que “é demasiado lenta para as transformações que estão a acontecer” e “anda sempre um bocadinho atrás da iniciativa privada”.

Ainda assim, para todos os convidados deste encontro, é possível mitigar os riscos e as limitações que existem, dado o potencial que estas tecnologias têm para uma empresa, desde logo nos ganhos de eficiência e produtividade, mas também no consequente — e desejado — aumento das receitas. É que se há regra que as empresas mantêm, mesmo quando investem numa tecnologia tão disruptiva como esta, é que têm de o fazer de forma a garantir a sustentabilidade financeira. E isso pode significar “ter de dizer não a muitas coisas” e também ter de mexer na força de trabalho.

A presidente da Accenture Portugal, Manuela Vaz, nota que, de acordo com um outro estudo da consultora, 44% das tarefas feitas por humanos vão desaparecer por causa da IA, mas que vão aparecer outras que também terão de ser desempenhadas por pessoas. Aliás, grande parte do talento que as empresas procuram atualmente é nas áreas das engenharias e da ciência de dados. O problema é que a concorrência é grande e é mundial, não se cinge a Portugal, e por isso, dizem os oradores, tem de haver um constante investimento na formação de funcionários, o que implica “olhar, nos trabalhadores que existem, quem tem as capacidades que queremos e precisamos e vamos precisar no futuro”.

Descodificador

● A inteligência artificial (IA) aplica-se à capacidade que uma máquina tem para fazer algo semelhante a um ser humano. É o caso das assistentes digitais, como a Siri da Apple, ou a Alexa da Google, mas também de robôs ou traduções automáticas.

● A IA generativa dá um passo em frente e é o termo usado para a IA que é capaz de produzir conteúdos como texto, imagens, vídeos, dados, sons ou mesmo esboços em três dimensões, por exemplo na arquitetura e no design de uma casa.

● A tecnologia por detrás da IA generativa é chamada de LLM, a sigla para a expressão em inglês Large Language Model, que se chama assim porque precisam de uma 
grande quantidade de informação para gerar os tais textos ou imagens. Informação essa que é submetida por humanos.