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“Compromisso com a ciência tem de ser uma prioridade nacional”

Investigadora e CEO do recém-criado GIMM (Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular), Maria Manuel Mota não tem dúvidas sobre o “enorme potencial científico” do país, mas diz ser preciso “financiamento estável e previsível”. Ao longo de dez semanas, publicamos dez artigos sobre vencedores do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se associa como media partner

Maria Manuel Mota lidera uma equipa de 700 cientistas de 40 nacionalidades no GIMM

Como bloco político, a União Europeia (UE) quer alcançar um mínimo de 3% do PIB investido em atividades de investigação e inovação científica para impulsionar a economia comunitária e, sobretudo, apanhar o comboio das regiões mais inovadoras. Portugal registou, em 2023, um investimento de 1,7% (o mesmo que no ano anterior), mas ainda abaixo da média europeia de 2,33%. “Se queremos ser verdadeiramente competitivos a nível internacional, temos de apostar de forma contínua e ambiciosa em ciência e tecnologia”, defende a investigadora Maria Manuel Mota.

O Expresso associa-se, uma vez mais, como media partner ao Programa Gilead Génese, que celebra a sua 10ª edição de apoio à investigação e a projetos comunitários na área da saúde. Ao longo de dez semanas, revisitamos dez antigos vencedores destas bolsas de financiamento. Hoje, a viagem entra pelos corredores do antigo Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), que deu origem ao Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular (GIMM).

Como antiga líder do iMM e atual CEO do GIMM, Maria Manuel Mota mantém o empenho em assegurar o investimento “na formação dos investigadores” inseridos na instituição – e são já mais de 700. A aposta na qualificação, a par de uma “estrutura sólida que os capacita para competir com sucesso por financiamento”, são ingredientes cruciais para continuar “a explorar as grandes questões ainda por responder”.

Se é verdade que Portugal está ainda longe de cumprir o objetivo a que se propôs (3% do PIB em I&D), a União Europeia mantém-se igualmente atrás das zonas do globo que mais investem neste campo. É o caso da Coreia do Sul, que lidera com 4,93%, dos Estados Unidos (3,46%), do Japão (3,34%) ou até da China (2,41%). No espaço comunitário, a liderança é da Bélgica, que regista 3,43% em I&D.

"O compromisso com a ciência tem de ser uma prioridade nacional, assente numa visão de longo prazo que permita consolidar Portugal como um polo de excelência em investigação biomédica e inovação"

“Portugal tem um enorme potencial científico, mas enfrenta desafios estruturais significativos”, reconhece a cientista distinguida, em 2013, com o Prémio Pessoa. Para a responsável do GIMM, é “fundamental que o país alcance a meta há muito necessária de 3% do PIB para I&D, alinhando-se com as economias mais inovadoras do mundo”.

Só assim, com financiamento estável e foco em colaborações estratégicas entre instituições, mas também entre academia, indústria e a saúde, será possível “atrair e reter talento” e gerar “impacto real na sociedade”.

Esse foi, durante muitos anos, o trabalho desenvolvido pelo iMM, que vestiu a pele de um verdadeiro campeão na conquista de bolsas de financiamento atribuídas pelo Programa Gilead Génese. Em dez edições, o instituto viu financiados 13 projetos relacionados com VIH e cancro da mama. “O sucesso deveu-se, acima de tudo, à dedicação e excelência dos nossos cientistas, das suas ideias inovadoras e da qualidade dos projetos desenvolvidos”, sublinha.

Até para instituições com um percurso de sucesso, como aquela, o financiamento privado é “um pilar essencial para complementar o investimento público e garantir a estabilidade”. Mas, em simultâneo, o acesso a este tipo de bolsas oferece ainda “uma flexibilidade muitas vezes inexistente nos programas públicos”, que permite aos investigadores ajustar estratégias à medida que surgem desafios e oportunidades. “O envolvimento do sector privado é crucial para que Portugal continue a competir no panorama internacional”, afirma.

Para o futuro, o GIMM quer consolidar a fusão que lhe deu origem – entre o iMM e o Instituto Gulbenkian para a Ciência – e posicionar-se “como um instituto líder na investigação biomédica na Europa”. “Além disso, temos como missão formar a próxima geração de cientistas e líderes na área biomédica, proporcionando um ecossistema de investigação único”, remata Maria Manuel Mota.

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