As medidas do Governo para apoiar os jovens a comprar habitação própria (isenção de IMT e de Imposto Selo e garantia pública nos créditos) não parecem estar a chegar para acelerar a saída da casa dos pais. De acordo com o estudo “Habitação para jovens em Portugal: desafios e tendências atuais”, apresentado esta quinta-feira pela mediadora Century 21, 68,5% dos 808 inquiridos considera as medidas “insuficientes”, e dos cerca de 24% que dizem que são suficientes, a maioria entende que “demoram muito a ser efetivas”.
Além disso, dos cerca de 76% que não fizeram uso dessas medidas, 35% disseram que não cumpriam os requisitos exigidos: ter até 35 anos e não ser proprietário de nenhuma casa há três anos; a casa estar já construída, custar até 316.772 euros e ser para habitação própria e permanente; o crédito ter de ser feito num banco aderente e apenas se o rendimento não ultrapassar os 80 mil euros anuais. Mais ainda, nos cerca de 23% que fizeram uso destes apoios, apesar de mais de 15% dizer que o processo foi fácil, cerca de 12% consideram-no “demasiado complicado”.
Para o CEO da Century 21, os apoios são considerados insuficientes porque o problema da habitação é estrutural. “Nenhum banco financia quem não tem um contrato de trabalho e não cumpre com os requisitos de taxa de esforço. Devem ser pensadas soluções de incentivo às empresas na contratação dos jovens e na valorização da força laboral. Para um jovem que já ia comprar casa, as medidas de isenção do IMT, do imposto de selo e emolumentos são apenas uma poupança. A maioria dos jovens que não conseguia aceder [à compra de casa], vai continuar a não conseguir”, nota.
De facto, nos inquiridos para este estudo - que têm entre 20 e 40 anos - foram encontrados oito escalões de rendimento entre menos de 500 euros e mais de 2501 euros, sendo que a maior parte se insere nos três escalões que incluem salários entre os 801 euros e os 1500 euros.
Com estes rendimentos torna-se difícil comprar uma casa aos preços atuais. Diz o estudo que a maior parte da oferta disponível em Lisboa e no Porto (59% e 56% respetivamente) é de imóveis com valores superiores a 300 mil euros. Aliás, apenas 1% da oferta disponível em Lisboa e no Porto está abaixo dos 125 mil euros.
Por isso é que, conclui o estudo, os principais obstáculos à independência dos jovens são os preços elevados das habitações (43%) e os rendimentos insuficientes (30%). De tal forma que, quando questionados sobre o tempo que pensam que vão demorar até comprar casa, mais de 30% (um em cada três) dos inquiridos responderam “entre cinco a dez anos”. E cerca de 20% consideram mesmo que vai demorar entre 10 a 15 anos.
Principalmente para quem tem entre 20 e 27 anos, a faixa etária na qual quase 50% ainda vive em casa dos pais. Na faixa entre os 28 e os 35 anos, são 23,7% os que vivem com os pais e entre os 36 e os 40, a incidência desce para 11,4%.
Mas mesmo nos que já se emanciparam houve desafios. Diz Ricardo Sousa que, com os preços atuais muitas famílias são obrigadas “a rever critérios de escolha, como localização ou área”.
De acordo com os dados fornecidos pelos inquiridos pela Century 21 - no mercado todo e não apenas dentro da sua rede -, as casas onde vivem estes jovens têm menos de 100 metros quadrados (m2), dois quartos, uma casa de banho e é partilhada com outros. Em contrapartida, têm área exterior - que pode ser uma varanda -, boa eficiência energética e serviços essenciais perto. Há contudo, alguns dos inquiridos que não estão satisfeitos com a localização ou que consideram a casa pequena e antiga.
Além disso, 59% vivem em arrendamento, apesar de quererem comprar uma casa, e 34% têm uma hipoteca. E se por um lado, quase todos destinam menos de 50% do seu rendimento ao pagamento da casa, para terem a sua casa, 84% dos jovens tiveram de renunciar a poupanças ou a viagens (37%).
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