Nos últimos anos, a medicina tem sido profundamente transformada por inovações tecnológicas que estão a redefinir os limites do que é possível em termos de diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças. Das ecografias 3D às próteses ou às cirurgias robóticas, entre outras inovações, tudo tem oferecido novas esperanças e possibilidades para doentes e profissionais de saúde.
Tecnologias emergentes como a telemedicina, a monitorização da saúde em tempo real ou as terapias personalizadas estão a tornar os cuidados médicos mais acessíveis, rápidos e eficientes. E este cenário tecnológico não apenas melhora os resultados clínicos, mas também tem o poder de salvar vidas ao proporcionar intervenções mais precisas e adaptadas às necessidades de cada doente.
As evidências estão à vista de todos e isso explica os elogios dirigidos às inovações na saúde durante o “Redesigning the future of healthcare”, organizado pela Johnson&Johnson MedTech, ao qual o Expresso se associou como media partner.
“O cirurgião deve estar aberto à inovação, que permite uma intervenção mais precisa e eficaz”, comentou José Guilherme Tralhão, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia. João Gamelas, diretor clínico da ULS — Lisboa Ocidental, reforçou que a inovação na área “trouxe uma capacidade de intervenção que era inimaginável”. “Muitas vezes é a diferença entre morrer ou viver”, comentou Ana Bastos Sampaio, da Plataforma Saúde em Diálogo.
Gestão “impossível”
Mas há um grande obstáculo para ultrapassar: a condição financeira do Serviço Nacional de Saúde. João Gamelas falou nisso. “O problema é que o SNS, ao fim destes anos todos da sua existência, foi acumulando um conjunto de carências enormes. E não são só de tecnologia ou equipamentos, mas também nas próprias instalações, recursos disponíveis, conservação da estrutura física. Foram muitos anos de investimento insuficiente”. E prosseguiu: “Agora somos confrontados com uma grande revolução tecnológica, com necessidade de renovar e comprar equipamentos, que é vital: não há como fazer medicina sem incorporar esta tecnologia. Mas, ao mesmo tempo, estamos a discutir a compra de um robô de €2 milhões com as instalações a precisarem de imensas manutenções, muitas delas urgentes. Porque é o muro que está a cair, a infiltração...”
A gestão destes orçamentos — “cada vez com mais pressão sobre os mesmos” — é, para João Gamelas, “impossível”. “Não há margem orçamental. Este assunto tem de ser resolvido. Temos um futuro para o Serviço Nacional de Saúde, que tem uma função fundamental na nossa democracia, mas, chegados aqui, vai ser preciso um volume de investimento de tal ordem... Oxalá seja possível encontrá-lo, de forma a fazer rejuvenescer o SNS e projetá-lo para os próximos 50 anos”, afirmou o diretor clínico da ULS — Lisboa Ocidental.
Sugestões de financiamento
Ricardo Mestre, antigo secretário de Estado da Saúde e professor na Escola Nacional de Saúde Pública — Nova, defendeu que o financiamento na inovação “tem de fazer parte de uma lógica de parceria entre quem desenvolve a tecnologia, quem a prescreve, quem a utiliza e quem a financia. A ideia principal é a parceria, partilha de risco e compromisso para se obterem resultados para as pessoas. Esse é o grande desafio”, acrescentou. No futuro, disse, “os sistemas de saúde vão ter necessidade de mais financiamento, que tem de ser traduzido de resultados para as pessoas. E isso só se faz com esta lógica de parceria”. Ricardo Mestre defendeu ainda que “devemos pensar mais na promoção da saúde para ter uma população mais saudável”.
Cooperação entre profissionais de saúde e doentes
Pedro Adragão, chefe de serviço de cardiologia do CHLO, defendeu que, na inovação na saúde, “os profissionais têm um papel decisivo e global”. “Não é só para médicos, técnicos, enfermeiros ou gestores que acompanham o projeto. É um trabalho de equipa que, quanto melhor feito, mais resultados vai ter”, realçou.
Para o clínico, a “colaboração permite resultados inesperados, que têm que ver com a eficiência, duração e número de tratamentos” e segurança: “Ao fim de muitos anos de trabalho, temos a noção de que, mais do que aquilo que teoricamente era para uns ou outros, há uma zona, a da cooperação, que, se for bem feita, quem beneficia é o cidadão que precisa de tratamento.”
Ana Bastos Sampaio aconselhou os especialistas “a ouvir mais os doentes” em matéria de inovação e considerou que, “para os mais receosos”, a literacia é fundamental.
Pontos essenciais para inovação na Saúde
Tecnologia
Viver mais A tecnologia é um instrumento “para transformar mortalidade em morbilidade. Muitas doenças que antes significavam morte iminente são hoje doenças crónicas, com as quais as pessoas vivem muitos anos”, registou Ricardo Mestre, antigo secretário de Estado da Saúde.
Privacidade
Segurança de dados O armazenamento de grandes volumes de dados sensíveis dos doentes obriga a cuidados redobrados no que diz respeito à segurança e à privacidade dos registos de cada um.
Inteligência artificial
Regulamentação O avanço da tecnologia é mais rápido do que a criação de regulamentações. “As lacunas na regulamentação vão colocar barreiras aos hospitais na implementação das inovações”, considerou Catarina Baptista, administradora hospitalar do Hospital da CVP.