“A prevenção eficaz do VIH (...) permitiria ganhos em saúde pública e individual, uma maior sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e atingirmos o marco histórico de eliminarmos o VIH como um problema de saúde pública”, aponta Ricardo Fernandes. O diretor-executivo do GAT – Grupo de Ativistas em Tratamentos, e quarto convidado deste ciclo de entrevistas, é o rosto de uma equipa que desde 2001 se dedica a reduzir as infeções por VIH, hepatites virais e outras infeções sexualmente transmissíveis. Só em 2023, a organização fez cerca de 40 mil rastreios a este e outros vírus.
A propósito da cerimónia de entrega de bolsas de investigação e apoio a projetos comunitários da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se volta a associar como media partner, publicamos dez artigos sobre vencedores das anteriores edições da iniciativa.
O GAT venceu, por duas vezes, bolsas de apoio à implementação de projetos comunitários – a primeira, em 2014, com um programa de rastreio e informação sobre hepatite C para ex-utilizadores de drogas; e a segunda, em 2019, com a promoção do rastreio para VIH e hepatite C entre consumidores e ex-consumidores de drogas em Setúbal. “O apoio financeiro permite potenciar abordagens que sabemos serem altamente eficazes ou testar outras que são inovadoras”, explica o responsável, que lembra que a organização é um braço complementar do SNS.
“Estes projetos no seio da comunidade permitem uma grande capilaridade dentro de populações com maior prevalência destas infeções, por vezes marginalizadas pela sociedade e com dificuldades de acesso ao SNS”
O contributo destas instituições de base comunitária é essencial para controlar a epidemia de VIH, que tem um grande impacto na saúde em Portugal, nomeadamente ao nível de custos – é a “segunda maior despesa em tratamentos, logo a seguir ao cancro”. Nesse contexto, os números da atividade do GAT em 2023 são esclarecedores relativamente ao impacto real que conseguem alcançar: 40 mil sessões de rastreio ao VIH, hepatites B e C e sífilis. Destas, resultaram 840 diagnósticos de novas infeções.
Para continuar a fazer a sua missão, o GAT precisa, como outras organizações de base comunitária, de recursos financeiros. Ricardo Fernandes sugere a “estruturação de programas de apoio às ONG na área da saúde, que fossem geridos por entidades criadas para o efeito” e que os financiamentos fossem “atribuídos com critérios de transparência e avaliação séria”. Por outro lado, pede ainda a revisão da Lei do Mecenato, de forma a tornar os benefícios fiscais mais atrativos para particulares ou instituições que pretendam fazer donativos.
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