Projetos Expresso

O mundo sem inteligência artificial passou a ser ficção

'Memórias de Francisco Pinto Balsemão', o primeiro podcast português com a voz do próprio autor clonada por inteligência artificial, foi lançado esta quinta-feira, 23 de janeiro, no Palco Impresa. O evento, que teve o apoio da Volkswagen, contou também com várias entrevistas e debates onde, sob o tema, “Inteligência artificial: amamos ou odiamos?”, especialistas e personalidades de várias áreas falaram do impacto presente e futuro desta tecnologia em atividades como comunicar, aprender, criar ou amar

A inteligência artificial (IA) já está presente no nosso dia a dia. Não é possível parar este ‘TGV’, nem ficar de fora, e há que apanhar a carruagem em andamento, mesmo que a alta velocidade. E é mesmo esta característica, a velocidade, que mais fascina e assusta. Se por um lado o potencial facilitador da IA generativa é imenso, por outro, torna mais desafiante a sua aprendizagem e adoção, e pode representar perigos como a desumanização de serviços, algum viés cultural ou impacto no emprego.

Falar sobre o tema é o caminho para antecipar o que ainda está por vir, bem como perceber quais as implicações que a IA já tem no presente e terá no futuro. Esta foi a missão dos especialistas e personalidades que participaram no ciclo de entrevistas e debates sob o tema “Inteligência artificial: amamos ou odiamos?”, que decorreu esta quinta-feira, dia 23, no Palco Impresa, antes do lançamento do podcast 'Memórias de Francisco Pinto Balsemão', o primeiro podcast português com a voz do próprio autor clonada por inteligência artificial.

Francisco Pedro Balsemão, CEO do Grupo Impresa, deu as boas-vindas aos participantes e convidados e alertou para a importância da valorização dos conteúdos, e a transparência na forma como são pesquisados e apresentados. “A verdade é que, no final do dia, queremos é que estas ferramentas, nesta nova revolução, sejam usadas para o bem, de forma devida, para privilegiar o que é o nosso interesse enquanto seres humanos, e cumprir a profecia de que sejam os homens a dominar as máquinas e não o contrário”, diz, fazendo alusão à pergunta que o próprio pai, Francisco Pinto Balsemão, fez há 30 anos: “Chegará a máquina um dia a dominar o homem?”

Na abertura do evento, Teresa Lameiras, diretora de Comunicação e Marca da SIVA|PHS reforçou a importância destes painéis de debate, e falou da revolução que está a reinventar o conceito de mobilidade, com a introdução de IA na assistente de voz IDA, em alguns modelos de carros da Volkswagen. “Já se pode saber algo sobre o funcionamento do carro, o estado do tempo, mais informações sobre o lugar que se vai visitar ou ler uma história ao seu filho para o entreter durante a viagem sem tirar as mãos do volante. É aqui que começa a magia”, diz.

A primeira entrevista foi conduzida por Lourenço Medeiros, jornalista da SIC, a Paulo Dimas, CEO do Centro para IA responsável, com o tema “Conseguimos ser mais inteligentes?” e depois de Júlia Pinheiro, apresentadora da SIC e Luis Pedro Nunes, comentador da SIC, falarem sobre se “Vamos amar da mesma forma?”, foi a vez de Fernando Alvim, humorista, conversar com Joana Beleza, editora da secção multimédia do Expresso, sobre se “vai faltar criatividade”, neste novo mundo com IA.

Seguiu-se Hugo Silva e Martim Silva, criadores da exposição AI Innovation Garden que além de falarem sobre o impacto desta tecnologia, demonstraram “Como criar uma empresa em 10m com IA”. O painel de debate sob o tema “Gerir ficou mais fácil? Ou mais difícil?”, moderado pela jornalista da SIC Sara Tainha, teve a participação de Marília Machado, diretora-geral da Volkswagen Portugal; Afonso Eça, administrador no banco BPI; Madalena Albuquerque, administradora na Altice; e Liliana Bernardino, head of data AI & analytics, da Modelo Continente.

Já na entrevista a Pedro Santa Clara, CEO e fundador da escola de programação 42 Lisboa, conduzida por Pedro Boucherie Mendes, diretor de conteúdos digitais de entretenimento na SIC, tentou-se responder à pergunta se “educar é cada vez mais complicado”. Por fim, a apresentação do podcast 'Memórias de Francisco Pinto Balsemão' ficou a cargo de Joana Beleza, Nuno Ribeiro, co-fundador da agência de inovação Instinct, e Clara de Sousa, jornalista da SIC.

Conheça as principais conclusões:

Educação, vantagens e empreendedorismo:

  • Paulo Dimas acredita que a educação vai ser a área mais impactada pela inteligência artificial, mas que é onde estamos mais atrasados na sua implementação. “A grande oportunidade na educação é a oportunidade dos nosso filhos crescerem já com inteligência artificial, mas sempre acompanhada com professores. Pensarmos nesta ferramenta para que, por exemplo um professo possa proporcionar aprendizagem mais personalizada numa sala de aula. Há alunos mais atrasados no acompanhamento da matéria e isto vai permitir aumentar a capacidade do professor para a aprendizagem”, diz.
  • Pedro Santa Clara critica o sistema de ensino tradicional e alerta que está atrasado na adoção destas novas tecnologias.Somos os piores da União Europeia em termos de adoção de inteligência artificial. Há milhares de estudos que mostram que aprender numa sala de aula é a coisa mais ineficiente do mundo. A taxa de retenção, passado duas semanas, é na ordem dos cinco por cento”, diz. O especialista confessa não saber qual o modelo educacional que vai vingar, mas acredita que haverá modelos alternativos a coexistir. “O que é fundamental é que se permita esta experimentação”, diz.
  • “Em todas as revoluções até agora temos melhorado a nossa qualidade de vida. Quero acreditar que esta é mais uma em que isso vai acontecer”, diz Lourenço Medeiros.
  • “Assim como a revolução industrial nos tornou mais poderosos do ponto de vista físico, esta revolução torna-nos mais fortes e do ponto de vista da inteligência. 80% das profissões vai ser impactadas com a inteligência artificial”, acredita Paulo Dimas.
  • Quanto ao risco de criação de desigualdades, com uns a terem acesso a melhores ferramentas que outros e a maior formação, os especialistas reconhecem que é real mas que é preciso pensar na mobilidade das pessoas. “Temos de pensar como essas pessoas podem ser movidas para outras funções e dar-lhes ferramentas para isso”, diz Paulo Dimas, que acrescenta que há também novas profissões a serem criadas, como o “Prompt engineer” que é “alguém que sabe fazer perguntas ao ChatGPT”.
  • Hugo Silva estima que sejam criadas 10 mil empresas alicerçadas em IA, por dia. “Devemos adotar estas tecnologias. Quem ainda não entrou, tem de entrar já hoje. A IA existe e é um superpoder. Um aliado da nossa inteligência natural”, acredita.

Amor e criatividade:

  • “Há hoje uma percentagem enormíssima de pessoas cujas relações existem devido ao mundo digital, mas devido ao estigma associado, muitas pessoas não assumem. O Tinder foi a porta aberta para que as pessoas se conhecessem para além do círculo habitual de amigos”, diz Luis Pedro Nunes, lamentando que as pessoas já não se possam conhecer no trabalho, no ginásio ou em festas. “O mundo real e um mundo de proibidos”, afirma.
  • Luis Pedro Nunes acredita que a IA pode servir para aconselhar, ajudar a compreender as relações, o padrão dos relacionamentos e até servir como conselheiro amoroso. Na questão de “relações virtuais”, o comentador da SIC diz que o que esta tecnologia vem preencher são necessidades emocionais e que pode ser uma ajuda na aprendizagem comportamental, mas alerta para uma realidade crescente e “imparável”. “A pornografia personalizada por deep fakes levanta questões éticas grandes. É o que está a evoluir e é altamente questionável”, alerta.
  • No campo artístico e da criatividade, Fernando Alvim considera que a IA potencia as capacidades de quem a usa e vê acima de tudo vantagens na sua utilização. “A voz sintética é algo assustador para a minha profissão mas abre todo um mundo de possibilidades. A inteligência artificial é como um Black & Decker. Eu sei que posso ir lá com um prego, mas com um Black & Decker vai ser muito mais rápido”, diz.
  • O que vai acontecer vai ser uma valorização maior das qualidades que nos tornam humanos. A empatia humana. Uma máquina não pode expressar emoções, não é transferível. É intrínseca à pessoa”, diz Paulo Dimas.

Maiores riscos e desafios:

  • Marília Machado afirma que o maior desafio da IA é não estarmos preparados para saber tudo e como funciona.
  • Paulo Dimas reconhece mesmo que a Europa está a ficar para trás: “Estamos apagar o custo destas inovações não terem sido criadas na Europa.
  • Afonso Eça fala da importância da humanização e de como isso pode ser assegurado. “Há vezes em que quero falar com uma pessoa, não com um robot. Temos de saber como podemos usar a inteligência artificial para humanizar mais os processos”, sustenta, e aponta a necessidade de não se perder o sentido crítico.
  • O tema da segurança e privacidade são mencionados por Madalena Albuquerque e Liliana Bernardino, como temas importantes a assegurar nesta revolução tecnológica.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.