Dedicação é a palavra de ordem quando é preciso descrever o papel das organizações de base comunitária na área da saúde, como a Liga Portuguesa Contra a SIDA. A instituição comemora, em 2025, o seu 35º aniversário na proteção de camadas mais vulneráveis da população, num esforço de cooperação com o Estado para a redução das infeções por VIH. Porém, mais do que o desafio da missão, o grande obstáculo a uma ação mais eficaz é a falta de financiamento. “A falta de financiamento adequado é um dos principais desafios que as organizações de base comunitária enfrentam e a Liga não é exceção”, reconhece Maria Eugénia Saraiva.
Psicóloga de formação, a presidente da instituição tem sido, ao longo dos anos, uma das principais vozes na defesa dos direitos dos doentes e das comunidades mais afetadas pela infeção. “Enquanto ativistas, procuramos colocar na agenda pública e política o tema do VIH e das infeções sexualmente transmissíveis (IST). Fazemo-lo todos os dias e não apenas no dia 1 de dezembro, data em que assinalamos o Dia Mundial da SIDA”, afirma.
Até à cerimónia de entrega de bolsas de investigação e apoio a projetos comunitários da 10ª edição do Programa Gilead Génese, a que o Expresso se volta a associar como media partner, publicamos dez artigos sobre vencedores das anteriores edições da iniciativa. O primeiro é sobre a Liga Portuguesa Contra a SIDA, que já viu vários dos seus projetos apoiados por este programa.
A última vez aconteceu na edição de 2022, quando a organização conquistou financiamento para o projeto Saúde + Perto XXII, que permitiu complementar a oferta da Unidade Móvel de Rastreios com o equipamento GeneExpert. “Isto permitiu-nos fazer a identificação de casos de infeções sexualmente transmissíveis, assim como a medição de carga viral de VIH e hepatites virais”, conta Maria Eugénia Saraiva.
“Sendo estes projetos cofinanciados com valores que se mantêm iguais há mais de 20 anos e que não respeitam as tabelas salariais das IPSS, este é um constrangimento que a Liga tem e sente: a volatilidade dos seus recursos humanos”, lamenta
Esta unidade móvel, nascida em 2012, “foi a primeira” dedicada ao rastreio de VIH, hepatites virais, bem como ao aconselhamento médico e informação sobre os testes, apoio pós-teste e referenciação hospitalar no caso de resultados reativos. Antes ainda, em 2017, a Liga venceu com o projeto “Interliga-te”, um “projeto inovador e pioneiro em Portugal” que integrou a organização de base comunitária nos cuidados de saúde primários do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Através da realização de sessões de rastreio e com consulta especializada, o projeto visa “a deteção precoce de novas infeções e o acompanhamento terapêutico das pessoas que estão a fazer tratamento para estas infeções, em articulação com as equipas clínicas de cada uma das unidades de saúde abrangidas”, explica.
Para o futuro, Maria Eugénia Saraiva pede “acesso equitativo aos cuidados de saúde”, especialmente para as populações mais vulneráveis, e uma “reconfiguração dos sistemas de saúde para oferecer cuidados continuados e centrados no paciente”. Sobre o financiamento, a instituição quer mais estabilidade no apoio do Estado.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa.