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“Nunca ignorem os sintomas. Nunca!”

Cancro da mama. Conferência internacional abordou doença nas jovens mulheres. Não desvalorizar os sinais e a partilha de informação foram mensagens fortes que ficaram. Estar bem informada foi o que valeu a Filipa Neves, uma sobrevivente

Filipa Neves teve cancro da mama aos 28 anos. “Quando temos de chorar, choramos, depois batemos no fundo e é sempre a subir.” Hoje sorri

O sangramento através de um mamilo foi o sinal evidente de alerta que levou Filipa Neves, então com 28 anos, a tomar medidas imediatas, ela que, “cerca de um mês antes”, já tinha sentido algumas dores, às quais não deu grande importância. “Achei que tinha a ver com a fase do ciclo, menstruação ou ovulação. Mas depois o sintoma foi muito evidente. Fui à farmácia e disseram-me para ir diretamente ao médico. Assim fiz”, lembra. Seguiram-se exames, consultas... até chegar a cirurgia.

Do ponto de vista emocional, Filipa Neves assume que teve momentos difíceis. “Não seria humana se não os tivesse. E é importante permitirmo-nos ter esses momentos. E quando temos de chorar, choramos, a seguir batemos no fundo e é sempre a subir. Essa tem sido sempre a minha perspetiva.”

Solteira na altura, Filipa Neves, que não teve de fazer quimioterapia ou radioterapia, tinha o sonho de ser mãe. Hoje já cumpriu esse sonho — é mãe de uma menina de cinco anos. O apoio da família e dos amigos próximos foi “muito importante” e Filipa optou sempre por ir trabalhar, “para manter a cabeça ocupada”, quando os médicos o permitiam.

Há uma mensagem para as jovens mulheres que faz questão de deixar. “Nunca ignorem os sintomas. Nunca! Sendo qualquer coisa que não seja normal, não há que ignorar. Hoje sabemos que os números estão a aumentar, sabemos que é cada vez mais precoce e não acontece só aos outros ou quando temos 50 ou 60 anos. Acontece e acontece cedo”, realça. “Sou o exemplo vivo do que uma intervenção atempada poupou e, tenho a certeza absoluta disto, outro tipo de tratamentos mais agressivos. A deteção precoce é fundamental para que o prognóstico, e a própria fase de tratamento, seja mais fácil, curta e leve”, acrescenta.

Não desvalorizar sintomas foi, aliás, uma das mensagens fortes deixadas durante a 1ª Conferência Internacional Cancro da Mama e a Saúde das Mulheres Jovens, organizada pela Fundação Breast Cancer in Young Women (BCYW), que juntou no Hospital CUF Tejo, em Lisboa, mais de 30 especialistas de todo o mundo, reconhecidos internacionalmente, para discutir as causas do aumento do número de casos de cancro da mama em mulheres jovens.

Ida Negreiros foi uma das oradoras. A responsável pela unidade da mama na CUF Descobertas foi também quem acompanhou Filipa Neves, que carinhosamente apelida a médica de “o anjo na Terra”. Ida tira o foco de si: “Como deve imaginar-se, ser apanhada pela doença naquela fase da vida faz com que se perca o chão e as referências. Ela, de alguma forma, sentiu que tinha acompanhamento, só isso...”

A literacia junto das mulheres — que precisam que lhes chegue todo o tipo de informação em relação à matéria — foi outra mensagem forte da conferência, em que Larry DeLucas, cientista e astronauta da NASA, centrou atenções entre os vários especialistas presentes nos dois dias de partilha de ideias.

Luís Costa, professor, oncologista e diretor do Departamento de Oncologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, e um dos organizadores da conferência da BCYW, estava satisfeito com o decurso dos trabalhos. “Houve, de facto, muita partilha de ideias, novas ideias. Houve pessoas que trouxeram experiências dos seus países, mas o que achei mais interessante foi a partilha fundamental de doentes, sobreviventes de cancro, ou até de familiares de doentes que não sobreviveram, sobre aspetos que eram fundamentais serem abordados na medicina. Isto significa que temos de estar mais atentos, partilhar mais informação credível, de forma que se possa ter uma comunicação mais adequada com os doentes”, concluiu.

O que deve fazer uma jovem com cancro da mama

Prevenção

Alimentação saudável (dieta rica em frutas, legumes e fibras com baixo teor de gordura), limitação do consumo de álcool, exercício físico, controlo do peso e evitar tabaco.

Conselhos

Realizar regularmente autoexame e mamografias. Ter controlo hormonal: discutir com o médico os prós e contras do uso prolongado de terapias hormonais. Estar atenta ao histórico familiar.

Tratamentos

Varia conforme o estado e natureza do tumor. Opções mais comuns: cirurgia (mastectomia, remoção total da mama; ou lumpectomia, remoção do tumor com parte do tecido saudável ao redor), quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal ou imunoterapia.

Apoios

É importante a busca de um psicólogo para lidar com a ansiedade, o medo e as mudanças na vida pessoal; procurar fisioterapia se precisar recuperar a mobilidade do braço; ter acompanhamento médico regular; e efetuar reconstrução mamária, caso seja necessário.