Se, no discurso de abertura, às 9 horas, Rui Diniz, CEO da CUF, se congratulou com a organização de um evento desta natureza, com a participação de especialistas de todo o mundo, as atenções centraram-se imediatamente na primeira intervenção da manhã. Foi sobre “O sistema proteolítico da ubiquitina: A jornada de uma hipótese vaga a medicamentos eficientes contra o cancro”, da responsabilidade do israelita Aaron Ciechanover, Prémio Nobel de Química em 2004. “Precisamos da ciência para ter as respostas que procuramos”, alegou o investigador, que participou remotamente.
Seguiu-se a intervenção do norte-americano Larry DeLucas. O cientista, e ex-astronauta da NASA, abordou “A Exploração Espacial e Pesquisa do Cancro na Estação Espacial Internacional – “O espaço faz-te sentir diferente”, comentou, bem-disposto -, havendo então espaço para uma conversa clínica sobre “Os desafios únicos de doentes jovens com cancro da mama: uma visão geral”, conduzida por Ellen Warner, médica oncologista no Odette Cancer Center do Sunnybrook Health Sciences Center, no Canadá. “As mulheres mais jovens apresentam tumores tendencialmente maiores e em estado avançado. Por vezes os sintomas são ignorados”, afirmou.
“Epidemiologia, fatores de risco e prevenção e deteção precoce” foram os temas que se seguiram, com moderação de Miguel Martín Jiménez, professor doutor e chefe do serviço de Oncologia Médica do Hospital General Universitário de Madrid, e Anjali Srivastava, consultora de saúde global da organização mundial da saúde.
Rakesh Kumar, um dos fundadores da BCYWF, e professor catedrático internacional no Instituto de Pesquisa do cancro de Dehradun, na Índia, falou sobre “Porque é que mais mulheres jovens têm cancro da mama?”, já Victoria Findley, professora associada de Cirúrgia, Virginia Commonwealth University, Estados Unidos, abordou remotamente “Alimentos ultraprocessados durante a puberdade e risco de cancro da mama em mulheres jovens”.
Lorna Larsen perdeu a filha com cancro da mama
“Cancro da mama em mulheres jovens: conscientização, deteção precoce, prevenção de atrasos no diagnóstico” foi a área abordada por Lorna Larsen, presidente da BScN, Team Shan, Huntsville, Canadá, ela que perdeu a filha, Shanna Larsen, com cancro da mama, aos 24 anos. E lançou um alerta aos profissionais de saúde, que muitas vezes, tratando-se de mulheres jovens, não dão a devida importância aos sintomas, apresentando mesmo alguns exemplos com expressões quando confrontados com sintomas por parte de mulheres jovens.
E às mulheres jovens deixou alerta: “Não tenham medo. Precisam de saber e tratar. As coisas têm de mudar”. Já Samantha Heller, professora de radiologia na Escola de Medicina da Universidade de Nova York, Estados Unidos, falou sobre “Exames de imagem em mulheres jovens com cancro da mama: desafios e oportunidades”.
De manhã houve ainda espaço para a intervenção de Carlos Santiago, professor no Instituto Superior Técnico, investigador auxiliar, Instituto de Sistemas e Robótica, Portugal, sobre “O Papel da Inteligência Artificial na deteção precoce do cancro da mama”. “Há um grande caminho a percorrer até contar com a inteligência artificial no mundo real”, defendeu.
A tarde foi igualmente preenchida e começou com o tema “Cancro da mama nas jovens mulheres - questões e desafios únicos: biológicos, médicos e sociais”. Leonor Ribeiro (ULS Santa Maria) e Ana Ferreira (Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil) foram as moderadoras e seguiram-se intervenções de Miguel Martín Jiménez (Toxicidade quimioterápica em BCYW e efeitos de transferência); Marie Jeanne Vrancken Peeters, professora, cirurgiã de cancro da mama no Instituto do Cancro dos Países Baixos, Centro Médico da Universidade Antoni van Leeuwenhoek de Amsterdão, Países Baixos (Prós e contras da diminuição da intensidade e duração do tratamento em mulheres jovens); e Marah Tabbal, da Universidade Mohammed Bin Rashid de Medicina e Ciências da Saúde, Dubai, Emirados Árabes Unidos (Base genómica da agressividade do BCYW).
Houve então espaço para questões cirúrgicas sobre cancro da mama em jovens mulheres. Com moderação de José Luís Fougo (ULS de São João) e Ida Negreiros (coordenadora nacional das Unidades de Mama CUF), os holofotes estiveram apontados para Chintamani Chintamani, responsável pelo departamento de oncologia cirúrgica Sir Ganga Ram Hospital, Nova Delhi, Índia (Cancro da mama em mulheres jovens – opções e desafios cirúrgicos); Felicia Tan Li Sher, diretora de cirúrgia FeM do RCS e Cirurgiã Geral de Cirurgia FeM, Singapura (Conservação da mama e decisões cirúrgicas em BCYW); e Catarina Santos, professora de cirurgia da Universidade de Lisboa, coordenadora da Unidade da Mama CUF, em Lisboa (O que está a acontecer com a cirurgia axilar em mulheres jovens?).
Questão de comunicação
Seguiram-se questões e desafios únicos relacionados com o pós-parto e o cancro da mama, tema moderado por Gabriela Sousa, diretora do departamento de Oncologia Médica, Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil, Especialista em Oncologia Medial, CUF Coimbra, e Rita Sousa, ULS Santa Maria.
E intervieram Tan Qing Ting, cirurgiã oncoplástica de Mama FRCS, Hospital Feminino e Infantil KK, Singapura (Cancro da mama durante a gravidez); Paula Borralho, professora associada convidada na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, diretora clínica da CUF Oncologia (Características patológicas do cancro da mama em mulheres jovens durante a gravidez); e Chikako Shimizu, professora e chefe do Departamento de Mama e Oncologia Médica, diretora do Comprehensive Cancer Center National Center for Global Health and Medicine, Tóquio, Japão (Gravidez após cancro da mama: desenvolvimento de programas de oncofertilidade).
O fim dos trabalhos ficou marcado por uma mesa redonda. Moderada por Luís Costa, Tamara Milagre (presidente da EVITA), Raquel Mendes Gomes e Emília Vieira, enfermeiras, falaram das suas experiências. “A empatia é a chave para perceber os doentes”, defendeu Raquel Mendes Gomes.
O evento prossegue durante todo o dia de amanhã (recorde AQUI a lista completa de participantes).
Principais conclusões
- A investigação científica é absolutamente decisiva para descobrir caminhos para minimizar os efeitos do cancro da mama.
- A doença desenvolve-se mais rapidamente nas mulheres jovens. “Há ainda a preocupação com a imagem, a disfunção sexual, a depressão, a ansiedade...”, comentou Ellen Warner, destacando que o apoio emocional é muito importante.
- “Nunca se devem ignorar sintomas”, disse Rakesh Kumar, defendendo que as mulheres jovens devem procurar informar-se sobre a doença.
- Lorna Larsen defendeu que é preciso promover estratégias de saúde, através da educação ou comunicação, assim como hábitos saudáveis, e realçou que os próprios profissionais de saúde têm de dar a devida importância às queixas das doentes.
- A inteligência artificial pode vir a ser importante, sobretudo no que diz respeito ao diagnóstico mais precisos e tratamentos mais eficazes, mas ainda há muito para perceber e explorar.
- Estatísticas mostram que o cancro da mama em mulheres jovens, com menos de 40 anos, está a aumentar em todo o Mundo.
- Comunicação entre doentes e profissionais de saúde é essencial.
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