Quando os sintomas físicos, como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal, aumento de peso, insónias e aumento da frequência urinária, se juntam a outros emocionais, como mudanças de humor, depressão, ansiedade, irritabilidade e ou dificuldade de concentração, mais a ausência de período, então é muito provável que a menopausa (cessação permanente das menstruações por 12 meses consecutivos) esteja a chegar.
Trata-se de um processo natural na vida das mulheres entre os 45 e os 55 anos, ainda que a idade possa variar, mas que continua a ser pouco discutido em Portugal. E foi isso que motivou a Wells a organizar a conferência “Não fica bem falar de... menopausa”, uma vez que há necessidade de ser disponibilizada mais informação sobre esta matéria. De acordo com o estudo apresentado (ver caixa), 55% das mulheres que estão em plena menopausa ou na pós-menopausa admitem que os aspetos negativos prevalecem sobre os positivos e as palavras negativas mais usadas são envelhecimento, fragilidade, instabilidade, insegurança ou solidão.
Ficou evidente no evento — no qual o Expresso foi media partner — que é preciso desmistificar e ajudar as mulheres a lidarem com essa fase da vida de maneira informada e positiva. Desta evidência não pode dissociar-se as exigências da sociedade moderna, que coloca o foco na juventude e na vitalidade, o que pode fazer com que temas relacionados com envelhecimento, como a menopausa, sejam de alguma forma negligenciados.
A menopausa provoca alterações hormonais e pode ter consequências a longo prazo, como osteoporose ou doenças cardiovasculares. Pode, em alguns casos, justificar apoio psicológico ou terapia. O acompanhamento médico é por isso absolutamente essencial, bem como alterações no estilo de vida, devendo promover-se uma dieta equilibrada e exercício físico com regularidade. É, pois, um assunto relevante de saúde pública, devido ao impacto que tem na saúde das mulheres.
A felicidade de chegar a velha
Marta Crawford, sexóloga, reconhece que este tema “ainda é um pouco tabu na nossa sociedade”. “Falar sobre estas coisas é muito importante, para que isto seja normalizado no sentido positivo”, diz. E acrescenta... o lado positivo da menopausa: “Se nós, mulheres, passamos todas pela menopausa, isso significa que somos mais crescidas e estamos cá. Durante muito tempo entendia-se a menopausa como uma finitude, pois deixamos de ter a função que durante muito tempo era a principal, a procriação. Ou seja, a mulher perdeu a sua função principal, logo deixou de ser interessante. É isto que tem de mudar. A mulher tem muitas funções e não deve achar que, porque perde essa, deixou de ter interesse.” A especialista, que destaca a importância de ter hábitos de vida saudáveis, realça o papel do parceiro/a nesta fase da vida da mulher. “É muito importante que a pessoa seja capaz de falar sobre isso e sinta apoio do seu parceiro ou parceira. É uma felicidade chegar a este período, é uma felicidade chegar a velha. É preciso olhar para isto com naturalidade.”
A mesma naturalidade com que Júlia Pinheiro confessou que a menopausa lhe originou um colapso “muito mais mental do que físico” e uma “revolução psicológica assustadora”. A apresentadora sublinha a importância das mulheres figuras públicas na abordagem destas matérias: “Expresso-me com alguma veemência e arranjo assim umas imagens um bocado desgrenhadas, tento meter um bocadinho de humor, mas acho que o humor não pode ser excessivo, pois desvaloriza e esvazia a importância do que estamos a dizer, mas temos de partilhar que este é um problema de saúde pública que devia ser avaliado de outra maneira.” E defende que, “se as mulheres vão viver mais anos, têm de vivê-los com qualidade e ser ajudadas pelos clínicos”.
Cláudia Raia leva menopausa ao palco
Há alguns anos, Cláudia Raia colocou o tema em discussão no Brasil.“O impacto da menopausa é grande e comecei a senti-lo em mim. Não só sintomas, mas percebi que tinha de fazer um movimento de prevenção. No Brasil não é proibido fazer prevenção hormonal. Fiz exames, fui a médicos, mas há sempre resistência, fala-se pouco. Achei que, enquanto figura pública, devia abrir o meu Instagram para falar com mulheres de 40, 50 ou mais anos. Trouxe médicos, especialistas, entrevistei pessoas e fui um pouco a porta-voz das mulheres com 50 ou mais anos. Senti em mim essa necessidade.” A atriz brasileira lembra que “antigamente” é que uma mulher de 50 era considerada idosa: “Eu fui mãe aos 56.”
Defende que esta é uma fase difícil, pois “não tem apoios de lado algum”. “O tabu é uma coisa cultural. A mulher com 50 conhece as coisas, e isso não convém para o masculino... A menopausa é o início do segundo ato e o segundo ato é sempre melhor do que o primeiro.” A atriz promete manter o assunto em cima da mesa e estreia em janeiro, em Lisboa, no Teatro Tivoli BBVA, a comédia “Cenas de Menopausa”, escrita por Ana Toledo, onde contará com a companhia do marido, Jarbas Homem de Mello. “Vai impactar o público em Portugal, onde as portas se começam a abrir e a falar-se sobre este assunto.”
10 ideias-chave do estudo
Amostra
Mil mulheres, entre os 45 e os 60 anos, participaram no estudo “Menopausa: como é vivida pelas mulheres em Portugal”, conduzido por Clara Cardoso e Joana Barbosa (Return on Ideas), com a participação do ginecologista Joaquim Neves.
Sintomas
Nove em cada 10 têm sintomas. 56% sentem os primeiros sinais antes dos 50 anos.
Desconforto
64% das mulheres em perimenopausa (fase de transição antes da menopausa) ou em plena menopausa sentem que “estão numa fase da vida má ou muito má”.
Desinformação
81% não sabem ou têm dúvidas sobre o que distingue a menopausa da perimenopausa e 52% sentiram-se pouco ou nada preparadas.
Mente
9% das mulheres em perimenopausa ou plena menopausa avaliam a sua saúde mental como pouco ou nada saudável.
Sexualidade
46% reconhecem efeitos negativos na vida sexual em plena menopausa ou pós-menopausa e 37% apontam a perda de libido como um dos principais argumentos para uma vida sexual menos satisfatória.
Acompanhamento
14% não foram acompanhadas por nenhum profissional de saúde ao longo do processo. 38% das que se apercebem da aproximação à menopausa não procuram um especialista ou demoram pelo menos um ano a fazê-lo.
Confidentes
“É com as amigas que 72% das mulheres falam sobre a menopausa.” 60% optam por não falar com o(a) parceiro(a) sobre o tema.
Autoestima
39% reconheceram que “a menopausa afetou negativamente a sua autoestima”.
Produtos
Três em cada cinco mulheres consideram que as marcas são pouco proativas na resposta às necessidades das mulheres na menopausa.