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Dados de nada servem se não gerarem conhecimento

Numa relação séria com a inteligência artificial, os dados são o ingrediente-chave para garantir o sucesso deste casamento que, a bem da ética, tem que ser regulado sem que as normas limitem a inovação. O essencial das conclusões de um dia de debate na 2ª edição do Data With Purpose Summit, organizado pela Nova IMS, com o Expresso como media partner
As políticas públicas suportadas por dados estiveram em debate na abertura da 2ª edição Data With Purpose Summit.
Matilde Fieschi

Fátima Ferrão

Há pouco mais de um ano e meio, o mais famoso ‘personagem’ de inteligência artificial (IA) – o ChatGPT – apresentava-se ao mundo. Na altura, entre as prioridades dos gestores a nível global estavam temas como cibersegurança ou big data e ninguém poderia prever que, em tão curto período, a IA viesse a liderar entre as questões que mais preocupam quem tem negócios a seu cargo.

De acordo com dados do LinkedIn, em 2024, 87% dos líderes globais acreditam que a IA ajudará as suas empresas a ser mais competitivas e sustentáveis. Números que já não surpreendem quando o mundo empresarial, e a sociedade, assistem a uma aceleração exponencial da aplicação desta tecnologia que, até há pouco tempo, não passava de futurismo ou de ficção científica.

A aplicação transversal da IA, sempre suportada por dados que se multiplicam igualmente a uma velocidade difícil de quantificar, foi ponto de partida e de reflexão para um dia de debates e de partilhas na 2ª edição do Data With Purpose Summit, iniciativa da Nova IMS, que contou com a participação de quase três dezenas de oradores, nacionais e internacionais. Políticas públicas orientadas e suportadas por dados, liderança, ciência de dados, segurança, atração e retenção de talento potenciada pelos dados, ou construção de marcas ‘inteligentes’ foram algumas das temáticas abordadas, sob a forma de flash talks e de mesas-redondas.

Alinhados com a ideia de que os dados de nada servem se não gerarem conhecimento, os participantes foram igualmente unânimes na identificação dos desafios deste mundo novo e em permanente transformação e evolução. Garantir a fiabilidade e a transparência dos dados é o ponto de partida para garantir que o conhecimento deles retirado é seguro e verdadeiro, mas também importante para treinar a IA.

Ética e regulação são outros ingredientes que têm que ser assegurados garantindo, contudo, que as normas não são tão excessivas que limitem a inovação e a evolução. Transversal a toda esta receita para o sucesso de uma tecnologia que sirva o propósito humano e que seja um potenciador das suas capacidades está ainda a literacia digital, sem a qual não será possível tirar total partido destas ferramentas.

Dados e IA pensados ‘fora da caixa’

Além destas partilhas ainda houve tempo para conhecer os três finalistas do ‘Dean’s Challenge’, um desafio lançado pela direção da Nova IMS com o objetivo de repensar temas que estão a provocar agitação e polarização social.

Dos 100 participantes, divididos por 22 equipas que juntaram alunos, ex-alunos, colaboradores da universidade, professores, empresas e start-ups, e que trabalharam durante quatro meses num processo de ideação e inspiração, saíram as três equipas finalistas com direito a a fazer um pitch na conferência. O projeto vencedor foi a app ‘We Connect’ que tem por objetivo ajudar a desligar do mundo digital, e a reconectar com o mundo real. Recompensas e descontos premeiam quem, através da aplicação, viver mais e melhor a vida real, criar ligações reais, desenvolver novos passatempos fora dos ecrãs ou aprender coisas novas.

Outras conclusões:

Políticas públicas suportadas por dados:

  • Na Marinha, segurança dos dados é essencial – têm que estar sempre disponíveis, com acesso controlado, e com garantia de integridade – para gerar conhecimento fiável a partir de ferramentas de big data e IA. Gestão de avarias, operações e robotização são as principais aplicações para dar resposta ao “enorme desafio de gerir e monitorizar muito mar, numa zona por onde passa a maior parte do tráfego comercial mundial”, diz o Almirante Gouveia e Melo.
  • IA permite criar “marinheiros de silício” – recursos mais baratos, sem necessidade de socialização e sem problemas de saúde mental ou de concentração – para tarefas de rotina. “Marinheiros de carbono” (humanos) serão colocados em áreas-chave, nas quais acrescentam valor.
  • Avaliar a eficiência das cidades e contribuir para uma melhor gestão municipal é o objetivo do projeto-piloto do Instituto Português da Qualidade, em parceria com a Nova IMS e a Comunidade Intermunicipal do Oeste. A plataforma está igualmente aberta à população que pode usar a informação e as métricas para escolher o melhor local para viver, visitar ou fazer compras.
  • Utilização de dados permite flexibilizar as políticas públicas, mas, defende Manuel Cabugueira, “a grande dificuldade atual é contratar especialistas para fazer avançar os projetos”. A solução, defende o membro do Conselho de Administração da ANACOM, passa por estreitar a colaboração com as universidades, tirando partido do seu conhecimento e contribuindo, em simultâneo, para a formação dos alunos.
  • A saúde é a área onde a utilização de dados pode ser mais eficiente, mas é também aquela onde o seu tratamento e utilização é mais sensível. “Espaço europeu de dados em saúde será útil para as pessoas e para a tomada de decisões institucionais, defende Rui Ivo, presidente do Infarmed. Sara Fernandes, coordenadora do PRR para a saúde, exemplifica com um exemplo já em funcionamento: “a partilha de prescrições médicas já é possível em 12 países da UE, Portugal incluído, graças ao projeto My Health at EU”.
  • “Administração pública tem que criar roadmap digital para implementação de estratégia de dados eficaz”, defende Paulo Vale. No entanto, diz o diretor executivo da AI4PA, o financiamento continua a ser o principal problema, bem como a sustentabilidade financeira dos projetos a médio e longo prazo.

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