Diversidade talvez seja a palavra que melhor define Hong Chow. Nascida na China, rumou à Alemanha para se licenciar em Desenvolvimento de Negócios Corporativos, e começou a vida profissional em Londres como analista de negócios. Hoje é responsável pelo mercado da farmacêutica Merck “em todo o mundo, menos na América do Norte”. Uma profissional que cruza todos os fusos horários e coleciona milhas. “Sou uma cidadã globalizada”, disse na conferência “Tocando Vidas, Transformando o Futuro Há 90 Anos” na qual se debateu a agenda da equidade, diversidade e inclusão (ED & I).
“Se olharem para mim talvez consigam imaginar a razão para este tema ser-me tão próximo. É um assunto fundamental numa sociedade polarizada e feita de separações, e parte-me o coração ver que ainda existem tendências contra a globalização”, afirma Hong Chow, cujo tópico da sua intervenção foi “Diversidade, equidade e inclusão: uma agenda transformadora da saúde”.
Se nos referirmos a Portugal, o assunto assume uma relevância ainda maior: no acesso à saúde, Portugal ocupa o 23º lugar devido à desigualdade de género, no conjunto dos 27 Estados-membros. O Índice da Igualdade de Género 2023 mostra que o país até melhorou em alguns domínios, como o do trabalho, tendo ficado classificado em 9º lugar na total de países da UE. “Nas regiões que lidero, 40% dos general managers são mulheres. E somos uma companhia que tem mulheres nos principais cargos, de CEO e CFO”, acrescentou a também embaixadora da Merck para ED&I. “Somos 38% de mulheres em cargos de liderança e queremos chegar aos 50% em 2030”, concluiu Hong Chow.
Em 100 anos a investigação científica em Portugal evoluiu significativamente. “No ano de 1924 anos a esperança média de vida era à volta de 36 anos. Hoje uma pessoa à nascença pode esperar viver 81 anos em Portugal”, disse o presidente da Apifarma, João Almeida Lopes, acrescentado que “é indiscutível o papel das farmacêuticas”. O médico e investigador, António Coutinho, defende maior investimento: “Hoje, mais de metade do desenvolvimento da medicina é pago pela indústria farmacêutica.” E por diferentes que possam parecer, os caminhos da ciência e a agenda da inclusão cruzam-se. A razão? Empresas que cultivam a diversidade são mais produtivas.
É também por essa razão que Portugal tem uma estratégia nacional para a igualdade e a não discriminação 2018-2030, alinhada com as orientações da UE, que estabelece um objetivo mínimo de 40% de paridade e diversidade. A meta ainda está longe de ser alcançada. O salário é o tópico que suscita diferenças mais acentuadas. Segundo um estudo da Merck, só em 2052 essas diferenças serão atenuadas. “É um tema caro para nós, não por ser trendy mas porque acreditamos genuinamente que as organizações com estas características são mais produtivas e saudáveis”, disse Pedro Moura, diretor-geral da Merck.
O tecido empresarial português não tem esta agenda já incorporada. Uma questão cultural, na opinião de Margarida Alves, controladora de negócio na Siemens em Portugal: “Comparando com os homens, temos mais de metade de mulheres a saírem das universidades. Infelizmente, não nas áreas tecnológicas. Elas são mais formatadas para a parte do cuidado, eles para a tecnologia”, disse, aludindo à agenda da igualdade de género. “Um trabalho que deve ser feito desde cedo nas escolas.”
Em Portugal são as multinacionais que incorporaram a agenda, assim como as empresas nacionais cotadas na bolsa. Segundo o Índice de Igualdade de Género da Bloomberg, das 485 organizações listadas neste índice — que mede parâmetros como liderança e pipeline de talentos; igualdade de salários e paridade de remuneração entre géneros; cultura inclusiva; políticas contra assédio sexual — sete são portuguesas (EDP, Galp, Jerónimo Martins, Millennium BCP, NOS, REN e Sonae). “Ainda temos um caminho a percorrer na inclusão e diversidade”, concluiu Pedro Moura.
(des)Igualdades
29
é a posição que Portugal ocupa no Índice Global de Desigualdade de Género à escala mundial — a nível europeu, o país encontra-se em 23º lugar entre os 27 Estados-membros, ficando apenas acima da Lituânia, Letónia, Bulgária e Roménia
40
por cento é a meta definida pela Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025 para membros não executivos do sexo menos representado nos conselhos de administração das empresas
23
é o lugar que Portugal ocupa no que respeita ao acesso à saúde em termos de igualdade de género, no conjunto dos 27 Estados-membros; este índice avalia vários domínios — trabalho, dinheiro, conhecimento, tempo, poder e saúde — e foi no trabalho que o país registou a melhor performance: ficou na 9ª posição
90 anos de ciência e tecnologia
É a empresa farmacêutica mais antiga do mundo. Líder no mercado da ciência e tecnologia, a Merck foi fundada na Alemanha em 1668 e está atualmente presente nos cinco continentes, com mais de 200 estruturas no mundo inteiro.
Em Portugal a empresa celebrou esta semana 90 anos com uma conferência no edifício Impresa dedicada aos desafios da saúde e à agenda da equidade, diversidade e inclusão. Focada essencialmente na investigação na área dos cuidados de saúde e da ciência, aposta em soluções para doenças como o cancro, doenças cardiometabólicas e desenvolvimento de vacinas. No nosso país tem tido um importante papel junto dos cuidadores informais. Aliás, a empresa é parceira do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, que deu origem a várias ações e estudos. É o caso do projeto RACCI (Rede de Autarquias que Cuidam dos Cuidadores Informais) e de um inquérito nacional para avaliar a saúde mental de quem deixa o seu trabalho para cuidar dos seus familiares doentes em casa.
Frases da conferência sobre o futuro da saúde
“Nas organizações as pessoas é que contam, discutir equidade é fundamental: na embaixada temos 35 pessoas, 20 são mulheres”
Julia Monar
Embaixadora alemã em Portugal
“Não há cientista da vida que não esteja apaixonado pela diversidade. É a base estrutural da evolução e da cooperação”
António Coutinho
Médico e investigador
“A pluralidade e diversidade de opiniões dão origem a equipas mais criativas, com melhores resultados financeiros”