O ponto de viragem no percurso profissional de Sérgio Silva deu-se em 2010 quando assumiu o cargo de presidente executivo (CEO) da empresa da família, o Vigent Group. Conta que “foi o maior desafio” da sua vida, porque, em 12 anos, passou de uma faturação de €45 milhões para uma de €450 milhões, de 150 para 2500 colaboradores, de uma presença em dois mercados — Portugal e Espanha — para uma presença em 15 países no mundo e com produção de tecnologia própria, desenvolvida em Portugal.
E para isto foram precisos não um, mas dois pontos de viragem na empresa, ambos de forte investimento. O primeiro, quando decidiram apostar na contratação de jovens que “são agora CEO”. E um segundo quando investiram no desenvolvimento de uma máquina própria para o fabrico de colunas de iluminação pública. “É um momento de referência para nós”, conta. Até porque depois desse passo conseguiram superar concorrentes em países como a Bélgica, França ou Alemanha e começaram a desenvolver equipamentos para outras áreas do grupo e, daí, entrar noutros mercados, como os EUA, onde fabricam máquinas para o negócio dos painéis solares. “É uma vantagem competitiva que temos”, diz.
Para os empresários presentes no terceiro almoço-debate organizado pela Associação Empresarial de Portugal (AEP) e pelo Novo Banco no âmbito da iniciativa Portugal Export +60’30, não há dúvidas: “Sem investimento não há crescimento”, diz Jorge Ferreira, CEO da Palbit. E uma “empresa que não cresce é uma empresa ameaçada”, acrescenta Paulo Bessa, diretor da Amorim Cork Ventures. Por isso é que, nota Justino Soares, administrador da Quinta do Crasto, tem de ser um investimento permanente. “Mesmo quando dizemos que não estamos a investir, investimos meio milhão de euros em manutenção e nas equipas”, repara.
Mais ainda quando se trata de empresas exportadoras ou com forte presença no estrangeiro. Porque, “mercados grandes, como a Alemanha ou os EUA, não se compactuam com atrasos” e, por exemplo, “o investimento em tecnologia permite aumentar a produção, o que permite depois entregar mais depressa”, sublinha Jorge Ferreira, e permite também “apresentar produtos melhorados”, acrescenta Paulo Bessa.
De facto, ter produtos diferenciados, quase únicos, é considerado uma vantagem para as empresas. Sérgio Silva sabe-o, com as máquinas próprias que fabricam, mas Justino Soares também. O administrador da produtora de vinhos e azeites da região do Douro conta que a empresa investiu num projeto chamado Patgen que permite determinar o “património genético das vinhas”, ou seja, permite saber “exatamente” qual a casta que existe em determinado solo para “quando ela morre plantar outra igual e assim manter sempre a identidade do produto”, conta.
Mas, diz Jorge Ferreira, não basta investir em máquinas. É também preciso investir em conhecimento, ideias, inovação e nas pessoas, porque é importante ter “equipas motivadas”, repara Paulo Bessa, e até em marketing, como destaca Ana Paula Roque, sócia gerente da Revigrés.
Claro que, na prática, há obstáculos a todos estes objetivos e o IRS elevado é considerado um dos mais expressivos, porque mantém o país num ciclo de salários baixos, mesmo quando as empresas têm capacidade para pagar. “A forma como os prémios e as horas extras são tributadas tem de ser revista”, conclui Ricardo Vidal, administrador da Marcovil Metalomecânica de Viseu.
Peso do investimento
Em percentagem do PIB
Frases
“Empresa que não cresce é empresa ameaçada”
Paulo Bessa
Diretor da Amorim Cork Ventures
“Estamos a gastar dinheiro para formar bem os jovens que depois fogem para o estrangeiro”
Jorge Ferreira
CEO da Palbit
“É preciso uma grande resiliência dos empresários para fazer o que têm feito até agora”
Ana Paula Roque
Sócia-gerente da Revigrés
Portugal Export
Decorreu esta semana, no Porto, o terceiro e último dos almoços-debate do Portugal Export +60’30, projeto da Associação Empresarial de Portugal (AEP) e do Novo Banco — a que o Expresso se associa como media partner — que pretende incentivar as exportações portuguesas a atingirem os 60% do PIB em 2030.
Textos originalmente publicados no Expresso de 26 de janeiro de 2024