Está uma tarde fria na Doca de Santo Amaro, em Lisboa, quando somos recebidos no barco que desde 2015 alberga as atividades do Vela +, que consiste em aulas de vela dirigidas a pessoas com um mínimo de 55 anos. No total, entre os cursos trimestrais e eventos abertos “a todos”, como regatas, já terão passado “2500 pessoas” pelo projeto, revela a coordenadora, Maria José Ramires.
É o caso de Maria do Céu e de Carlos Almeida, com 71 e 70 anos (“quase 71”), respetivamente, e casados há 39. Entraram no Vela + em 2017, por intermédio da Universidade Sénior de Odivelas, porque, nas palavras de Carlos, desde cedo gostou “de atividades ligadas com a água”, tal como Maria do Céu, que já tinha experimentado velejar com 13 anos. “Já tinha esquecido tudo o que aprendi!”, exclama entre risos. “Agora já consigo conduzir, sou uma marinheira de água doce”, acrescenta. Sempre na mesma embarcação ao longo do Tejo, rio para o qual Maria José Ramires acredita que “muitas pessoas têm as costas voltadas” por falta de relação e proximidade. Uma metáfora que talvez se aplique à política de prevenção de saúde subjacente ao projeto: “Não se cuida daquilo que não se conhece.” O projeto faz parte da Seawoman — associação sem fins lucrativos que desenvolve e promove o papel da mulher no desporto — e vai crescer com parte dos mais de €1,3 milhões distribuídos pelo Prémio BPI Fundação “la Caixa” Seniores por 38 projetos (ver caixa). Uma boa notícia para o casal de navegadores, com Maria do Céu a destacar a importância “de sair de casa” e Carlos Almeida a realçar que “não é todos os dias que se anda num barco como este”.
“Há seis anos que realizamos sonhos de pessoas em fim de vida.” Não podia ser mais ‘simples’ o propósito da Academia dos Sonhos, criada e coordenada por Alexandra Neves no Centro Social Paroquial dos Pousos. A ideia é dar forma aos desejos de “idosos institucionalizados” e responder à seguinte frase: “Antes de morrer eu quero…” Tudo ficou mais sério há “um ano e meio”, quando registaram a marca e escreveram “uma carta ao Papa Francisco para irem beber vinho” com ele. “Tínhamos zero expectativas, mas recebeu 12 idosos no Vaticano”, conta. Entre sonhos individuais ou de grupo, não há obstáculo físico ou mental que se coloque entre o desejo do idoso e a capacidade dos “gestores de sonhos” para o fazerem cumprir. Se preferirem ou não houver alternativa, há possibilidade de utilizar “realidade virtual a 360°, que coloca à disposição 33 experiências”, desde “visitar cidades, assistir a um concerto, ir à praia, pode ser tanta coisa!”. Desde que foram conhecer o Papa já vão no “sonho 13” e entre conquistas, como serem o “primeiro grupo do mundo organizado de idosos em cadeira de rodas” a fazer o Caminho de Santiago, Alexandra Neves assume: “Não consigo testar isso, mas acho que vivem mais por causa disto. Os seus projetos de vida continuam.”
Como no Surf Sénior do Surf Clube de Viana, que “visa promover o envelhecimento ativo e saudável” da população com mais de 65 anos, explica o coordenador, Marco Areias, e chegar a “todo o concelho de Viana de Castelo, num segmento que apresenta níveis de atividade física baixos associados ao isolamento social”. A ideia é “envolver as instituições sociais e de saúde” para “democratizar o acesso ao desporto”.
Apoiar os idosos “em situação de vulnerabilidade económica e de isolamento social através de ações de voluntariado profissional” é uma das principais valências da ATLAS — People Like Us, explica a coordenadora-geral, Irene Primitivo, e por isso é que está em curso o LudicIDADES, que “consiste na incorporação de atividades lúdicas com jogos terapêuticos não digitais e em ateliês de escrita biográfica”. Sempre em “ambiente intergeracional”.
Há mais idosos a pedir mais cuidados
Envelhecimento da população em Portugal prossegue a um ritmo superior ao do resto da Europa
A inversão da pirâmide demográfica é uma realidade em que Portugal supera os seus congéneres no espaço europeu. É o que demonstra o Eurostat, segundo o qual a idade mediana da população portuguesa atingiu os 46,8 anos (apenas atrás de Itália) e aumentou 4,7 anos entre 2012 e 2022, acima da média de 2,5 anos da UE. Já segundo os dados definitivos do Censos de 2021 divulgados recentemente pelo INE, a percentagem de população idosa (correspondente a 65 e mais anos) representava 23,4%, enquanto a de jovens até aos 14 anos era de apenas 12,9%, com o índice de envelhecimento — que calcula o número de idosos por cada 100 jovens — a passar dos 128 em 2011 para os 182 em 2021.
Perante este cenário, “as instituições investem cada vez mais na proteção e promoção dos direitos do idoso, com a informação, o encaminhamento e a dinamização de respostas sociais e serviços”, garante a presidente da direção da Associação Nacional de Apoio ao Idoso, Sónia Vinagre, com a certeza de que “são notórios os progressos nos últimos anos, não só com o alargamento da capacidade existente, como também na implementação de novos e diversificados projetos”.
Algo essencial num cenário em que Portugal é o quarto país mais envelhecido do mundo, acima de 400 mil idosos a viverem em risco de pobreza com um máximo de €551 por mês e em que para 90% a reforma é a fonte de rendimento mais substancial, diz a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). A isto junta-se uma fragilidade maior da população como resultado dos impactos da pandemia e da crise financeira, com o acentuar dos “problemas demenciais com a solidão” ou das “depressões”. Na opinião de Sónia Vinagre, “é imprescindível tornar mais céleres as respostas e agilizar os processos”.
Distinguidos no Prémio Seniores
- Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego
- Associação de Solidariedade Social de Duas Igrejas
- Associação de Promoção Social, Cultural e Desportiva de Fornos de Algodres
- Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual
- Associação Causa — Unidos Por Uma Casa
- Associação Cristã da Mocidade de Setúbal
- Associação Mais Proximidade, Melhor Vida
- Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer
- Associação Tecnológica e Recreativa — Intensify World
- ATLAS — People Like Us
- Centro Assistencial Cultural e Formativo do Fundão
- Cáritas Diocesana de Lisboa
- Casa do Povo de Santo António
- CASTIIS
- Centro Social do Divino Espírito Santo
- Centro Social Dr. Crispim Teixeira Borges de Castro
- Centro Social Paroquial de Areosa
- Centro Social Paroquial de Requião
- Centro Social Paroquial de Torres Vedras
- Centro Social Paroquial dos Pousos
- Cerciespinho
- Clube Gaivotas da Torre
- Coop. de Solidariedade Social “Os Amigos de Sempre”, CRL
- DCTR — Associação Cultural
- Fundação Betânia — Centro Apostólico de Acolhimento e Formação
- Fundação de Edite Costa Matos, Mão Amiga
- Gondomar Social
- Grupo de Acção de Solidariedade Social de Antas
- Matiz — Associação para a Promoção da Saúde Mental
- Núcleo Desportivo e Social da Guarda
- Pista Mágica
- Santa Casa da Misericórdia de Almada
- Santa Casa da Misericórdia de Arganil
- Santa Casa da Misericórdia de Bragança
- Santa Casa da Misericórdia de Oeiras
- Santa Casa da Misericórdia de Vila Velha de Ródão
- Seawoman
- Surf Clube de Viana
Projeto Solidariedade
O Expresso é media partner do BPI//Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade, do terceiro sector, das instituições que apoiam a infância, os jovens, os adultos, os seniores e as pessoas com deficiência.
Textos originalmente publicados no Expresso de 8 de dezembro de 2023