Apostar na colaboração entre ciência fundamental e clínica, garantir mais estruturas de apoio à investigação, e dar tempo aos médicos para se dedicarem a estas atividades. São estes os três ingredientes essenciais para alavancar a produção de conhecimento em Portugal e garantir a sua competitividade a nível internacional, defende Tiago Gil Oliveira. O investigador da Universidade do Minho foi um dos vencedores da última edição dos Prémios Pfizer, em 2022, uma iniciativa conjunta da farmacêutica com a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (SCMED). “E depois, como é óbvio, para tudo isto é preciso financiamento”, acrescenta. O também neurorradiologista no Hospital de Braga acredita que o investimento deve ter origem nos cofres públicos, mas também deve ser garantido “pela indústria” e não deve discriminar entre a investigação fundamental e a investigação clínica. “Podemos pensar nas nossas instituições públicas para financiarem iniciativas dedicadas especificamente à investigação clínica, mas que não tenham de competir com a fundamental”, reforça.
€4.134 milhões
é o valor total investido, em 2022, em atividades de investigação e desenvolvimento em Portugal. O montante é o maior de sempre, sendo que 62% teve origem nas empresas, 31% no ensino superior e o restante no Estado e Instituições Privadas Sem Fins Lucrativos
A presidente da SCMED, eleita há precisamente um ano, considera que programas de apoio à ciência – através de bolsas ou de prémios – são “sempre um incentivo” importante para os investigadores, até porque é disso “que vive a investigação”. Aliás, Maria do Céu Machado diz mesmo que os cientistas portugueses “estão habituados a concorrer a bolsas europeias ou internacionais” e que, com frequência, “conseguem ganhar valores significativos”.
Mas se isso é verdade para as investigações fundamentais, na investigação clínica a realidade é mais desafiante. “O problema coloca-se com a falta de tempo dedicado para médicos e enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS). E fora do SNS, já há alguma investigação clínica, mas ainda é um bocadinho incipiente”, aponta. A questão de o horário dos profissionais de saúde poder prever um número de horas para este tipo de atividades. É, de resto, uma das reivindicações conhecidas da classe, mas que ainda não foi respondida com medidas eficazes.
“Vencer o prémio foi importantíssimo para nós em termos de reconhecimento do nosso trabalho, mas também para termos as condições para conseguirmos ir buscar outros financiamentos”, reconhece Tiago Gil Oliveira, investigador da Universidade do Minho
Melhorar o diagnóstico de Alzheimer
Tiago Gil Oliveira e a equipa que lidera no Instituto de Ciências da Vida e da Saúde, da Universidade do Minho, venceram a edição de 2022 dos Prémios Pfizer na categoria de investigação clínica. A vitória deveu-se ao trabalho que desenvolvem há vários anos para “perceber quais eram as regiões do cérebro mais suscetíveis ou mais resistentes à patologia neurodegenerativa no contexto de doença de Alzheimer”. Além do valor monetário recebido (€30 mil), o reconhecimento na sociedade e, sobretudo, na comunidade científica foi importante para continuar a fazer avançar a investigação.
Já depois de recebido o galardão, estes cientistas estão agora a fazer “um mapeamento mais detalhado dessas mesmas regiões”, que poderá não só melhorar a capacidade de diagnóstico desta doença, como também perceber quais as terapêuticas mais ou menos eficazes em cada caso. “Isso pode levar a uma melhor seleção dos doentes para futuro tratamento. É outra das linhas que estamos agora a investigar”, enquadra. A credibilidade conquistada e a atenção mediática do projeto, permitiu ainda à equipa conquistar uma nova bolsa (D. Manuel de Melo) e criar sinergias com outras instituições internacionais. “O prémio foi uma rampa de lançamento”, assegura.
Os vencedores da 67ª edição dos Prémios Pfizer, realizada em parceria com a SCMED, serão conhecidos no próximo dia 15, a partir das 18h, em Lisboa. No total, serão atribuídos prémios de €60 mil a projetos de investigação fundamental e de investigação clínica.
Cerimónia de entrega dos Prémios Pfizer
O que é
Os Prémios de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre a farmacêutica e a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa para dinamizar a investigação nesta área em Portugal. Instituída em 1956, a iniciativa distingue os melhores trabalhos de investigação básica e clínica, elaborados total ou parcialmente em instituições portuguesas por investigadores portugueses ou estrangeiros – já foram agraciados mais de 700 investigadores e premiados mais de 200 trabalhos. Na cerimónia da 67ª edição dos galardões, serão anunciados os dois projetos vencedores deste ano.
Quando, onde e a que horas?
Quarta-feira, dia 15, a partir das 17h30 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O evento será transmitido em direto na página de Facebook do Expresso
Quem são os oradores?
- Paulo Teixeira, diretor-geral da Pfizer Portugal;
- Maria do Céu Machado, presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa;
- Nuno Maulide, diretor do Instituto de Química Orgânica da Universidade de Viena;
- Manuel Pizarro, ministro da Saúde.
Porque é que este evento é importante?
O investimento em ciência em Portugal, especialmente aquele que é da responsabilidade do Orçamento do Estado, continua a ser baixo e fica atrás da média europeia. Em 2022, as atividades de investigação e desenvolvimento no país receberam o equivalente a 1,73% do PIB nacional – 0,34% de fundos públicos e o restante através dos privados. Aumentar o apoio financeiro à investigação na área das ciências médicas deve ser, na perspetiva de investigadores e peritos, uma prioridade para que Portugal possa afirmar-se no panorama internacional e contribuir para o avanço científico.
Como posso ver?
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