Projetos Expresso

A luta continua por mais direitos e autonomia

Ferramentas. Nestes projetos de apoio e suporte à população com deficiência há uma preocupação transversal — dar bases sólidas para enfrentar as adversidades. Conheça as associações. Esta é uma iniciativa do BPI/Fundação “la Caixa”, que conta com o Expresso como media partner
No Centro de Ação Social do Concelho de Ílhavo as atividades agrícolas são uma das bases de apoio aos utentes com deficiência
RUI DUARTE SILVA

Cogumelos. Só por si a palavra não invoca nada de inovador para pessoas com incapacidade física e mental, mas se olharmos para o CASCI — Centro de Ação Social do Concelho de Ílhavo, o significado pode ser grande. Tudo por causa do projeto Semear para Formar e Empregar, que “introduzirá a produção de cogumelos capacitando pessoas com deficiência, reaproveitando desperdícios das unidades produtivas existentes na instituição e infraestruturas subutilizadas”, explica a responsável, Helena Santos.

O trabalha passará pela “produção de cogumelos shiitake em troncos de madeira e a produção de pleurotus (cogumelo-ostra) em blocos numa parte do edifício da vacaria que será reestruturado e equipado para o efeito”, explica Helena Santos, acrescentando que “para assegurar a autonomia da organização na gestão da atividade as pessoas com e sem deficiência serão formadas para que adquiram as necessárias competências para a produção e comercialização deste produto”. O objetivo do projeto (um de 31 que recebem mais de €1 milhão no total para apoiar 2 mil pessoas com deficiência por intermédio do Prémio BPI Fundação “la Caixa” Capacitar) passa por aumentar promover “a sustentabilidade das unidades produtivas e a empregabilidade de pessoas com deficiência”, acredita Helena Santos.

Autonomia e bem-estar estão na génese do projeto Centro Capacitar da Fundação UNITATE, que “consiste em disponibilizar espaços e recursos adequados, desenhados especificamente para desenvolver intervenções individualizadas com os utentes e as suas famílias”, conta o presidente do conselho de administração, Tiago Abalroado. O “espaço terapêutico, que integra um consultório e uma sala multissensorial”, e o “espaço de animação e socialização destinam-se a promover a autonomia, estimulação e convívio das pessoas com deficiência”. A resposta tem sido positiva, pelo que o apoio financeiro obtido permitirá “a concretização das infraestruturas planeadas, a contratação e formação de profissionais especializados e a aquisição de equipamentos e materiais necessários”.

Fornecer um serviço gratuito de teleconsultas para doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) com disponibilização de materiais de comunicação alternativa é a proposta da APELA — Associação Portuguesa Esclerose Lateral Amiotrófica, com o responsável pelo projeto, Filipe Gonçalves, a esclarecer que “o serviço prevê chegar a 90 doentes associados, que estão descentralizados, e acompanhá-los ao longo da trajetória da doença em consultas programadas e pedidos extra por referenciação”, de maneira a “ultrapassar as barreiras e limitações invariavelmente impostas pela distribuição geográfica, do próprio transporte e tolerância à viagem”. O prémio será aplicado no alargamento do “banco de kits de produtos de apoio à comunicação” assim como num “sistema periódico de acompanhamento” que permita “capacitar” para a “detenção e atuação precoce sobre putativos problemas”.

O projeto InovLAR da APCM — Associação de Paralisia Cerebral da Madeira, “visa aumentar a capacidade de autonomia” dos utentes com recurso “a tecnologias de informação e comunicação”. Segundo a vice-presidente da direção da APCM, Cristina Andrade, a ambição é “criar um projeto-piloto inovador e servir de referência”, até porque “com os sistemas alternativos de comunicação introduzidos nos computadores, tablets e telemóveis, será possível”, por exemplo, “controlar as luzes dos quartos com tomadas inteligentes”, entre outras funções, e promover “ambientes acessíveis e inclusivos nos quartos dos residentes beneficiados”. O que gera expectativa: “Mal podemos esperar que o projeto possa tornar-se uma realidade e fazer a diferença na vida dos nossos utentes!”

Risco de pobreza aumenta com deficiência

Números põem em evidência o aumento da exposição das pessoas com incapacidades à carência financeira e social

30,5% das pessoas com deficiência encontram-se em risco de pobreza ou exclusão social segundo o relatório “Pessoas com Deficiência em Portugal — Indicadores de Direitos Humanos 2022”, do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, por oposição aos 18,8% de pessoas sem incapacidades, da mesma idade (16-64 anos), em risco de pobreza.

“Não consideramos que se faça o suficiente para promover os direitos das pessoas com deficiência em Portugal”, considera Gisela Valente, presidente da APD — Associação Portuguesa de Deficientes, que fala em situações como “os atrasos gritantes na avaliação por junta médica que conferem atestado médico de incapacidade”, ou a falta de “terapias adequadas para jovens e crianças com necessidades educativas especiais”. Sem esquecer “o cerne da questão”, que é “a ausência de informação sobre o número de pessoas com deficiência em Portugal”, sem a qual “não é possível desenvolver políticas públicas eficazes”.

30,5% das pessoas com deficiência encontram-se em risco de pobreza ou exclusão social por oposição aos 18,8% de pessoas sem incapacidades

Entre os agregados familiares com adultos com deficiência, 17% reportaram “grande dificuldade” em fazer face às despesas habituais, contra apenas 8,2% dos agregados sem pessoas com deficiência. Gisela Valente não tem dúvidas que “perante uma realidade em que a inflação fez disparar o custo de vida e tendo por base prestações sociais em que as pessoas passam a auferir mensalmente valores muito abaixo do salário mínimo nacional sem qualquer forma de suportar despesas mensais relacionadas com o alojamento ou alimentação”, a tendência é para os problemas se acentuarem. Para a responsável “é imprescindível que medidas sociais tenham uma orçamentação definida e transparente”, com garantia da “participação das pessoas com deficiência, analisando os seus contributos e necessidades”.

Distinguidos no prémio capacitar

  • Abrigo Seguro — Associação de Solidariedade Social
  • ALADI — Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual
  • ANEM — Associação Nacional de Esclerose Múltipla
  • ANPAR — Associação Nacional de Pais e Amigos Rett
  • APCC — Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra
  • APCV — Associação de Paralisia Cerebral de Viseu
  • APELA — Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófico
  • APPACDM de Santarém
  • APPDA de Setúbal
  • APPDA de Lisboa, Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo
  • Associação de Atividade Motora Adaptada
  • Associação de Paralisia Cerebral da Madeira
  • Associação de Socorros Mútuos Mutualista Covilhanense
  • Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã
  • Associação Pró-Cidadão Deficiente Integrado
  • Associação Salvador
  • BIPP — Inclusão para a Deficiência
  • CECD Mira Sintra — Centro de Educação para o Cidadão com Deficiência, Crl.
  • Casa de Santa Isabel
  • CASCI — Centro de Ação Social do Concelho de Ílhavo
  • Centro Ciência Viva de Proença-a-Nova
  • Centro Comunitário de Esmoriz
  • Cozinha com Alma
  • Creacil — Cooperativa de Reabilitação, Educação e Animação para a comunidade integrada do concelho de Loures, Crl.
  • Fundação AMA Autismo
  • Fundação UNITATE
  • Grupo Mágico
  • Pedalar Sem Idade
  • Santa Casa da Misericórdia de Lousada
  • Teatro Umano Associação Cultural
  • Tiliascoop — Formação & Reabilitação Psicossocial, Crl.

Textos originalmente publicados no Expresso de 6 de outubro de 2023

PROJETO SOLIDARIEDADE

O Expresso é media partner do BPI/Fundação “la Caixa” para debater os desafios da solidariedade, do terceiro sector, das instituições que apoiam a infância, os jovens, os adultos, os seniores e as pessoas com deficiência.