“Hoje em dia não desperdiçamos um grama de cortiça”, disse João Pedro Azevedo, CEO da Amorim Cork Composites. O gestor explicou que a empresa centenária continua a inovar, dando novas funções à cortiça em áreas tão diversas como a engenharia aerospacial, os pisos desportivos ou os brinquedos. Inovar, transformar os problemas em oportunidades e apostar na educação foram três traços fortes da conferência “Futuro Sustentável”, que decorreu esta quinta-feira na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no Porto.
Com moderação do jornalista Pedro Sousa Carvalho, o primeiro painel, dedicado à Inovação e Economia Circular, juntou Ana Carvalho, CEO do Banco Português de Fomento, Catarina Lemos, da Real Companhia Velha e João Pinto, docente da UCP, para além de João Pedro Azevedo. Daqui sobressaiu a importância do financiamento para permitir às empresas prosseguirem a adaptação a novas práticas – Ana Carvalho garante que o Banco Português de Fomento tem linhas de financiamento que serão reforçadas até ao fim do ano para as áreas de ESG (Environment, Social e Governance – Ambiente, Social e Governança ou Governação). Mas também a relevância da educação, cruzando saberes e não fechando as matérias dedicadas à sustentabilidade em disciplinas específicas. “Não é possível uma empresa lançar-se na economia circular sem ter um grupo de trabalho alargado”, sublinhou Catarina Lemos da administração da Real Companhia Velha.
Estas ideias (e outras) alastraram ao painel seguinte, sobre “Direito, sustentabilidade e educação”, que mobilizou Ivone Rocha, advogada da Telles de Abreu Advogados, Luís Magalhães da KPMG, Manuel Fontaine, diretor da Faculdade de Direito da UCP (Porto) e Rui Soucasaux Sousa, diretor da Católica Porto Business School. As dificuldades causadas pela adaptação à legislação, a eventual desigualdade entre países da União Europeia em relação a outras geografias, como os EUA ou a China foram alguns dos temas aflorados. Ivone Rocha disse que as empresas “inteligentes” estão a transformar os requisitos em oportunidades, Luís Rocha, que “o Direito está a ser usado como regulador de comportamentos”.
Manuel Fontaine trouxe a atualidade para o debate: “A lei é muito bonita, mas se quem decide, decide travar, não vamos no caminho certo”, disse referindo o recente anúncio do primeiro-ministro britânico de abrandar as metas para a transição energética. Fontaine reforçou a ideia de sensibilizar os alunos para os valores “para que não faltem bons políticos”.
Principais conclusões:
- A partilha de conhecimento é essencial, não só dentro de diferentes áreas da mesma empresa como entre empresas. Os grupos de trabalho devem ser alargados para uma visão de conjunto. Também a educação não se deve limitar a ficar dentro da sala de aulas. A transmissão de valores é vital para criar cidadãos com uma visão social integrada.
- Os resíduos deixaram de ser resíduos. Uma gestão eficiente preocupa-se em integrar todas as fases do processo produtivo no produto final, ou criando outra valorização para os excedentes. Foi dado o exemplo da Corticeira Amorim, que desde 1963 tem uma empresa dedicada a desenvolver aplicações para os desperdícios de indústria da rolha, atualmente responsáveis por 30% do negócio do grupo.
- O financiamento é importante para concretizar a transição energética, em especial nas PME’s. É também essencial ser prestada informação clara para que os empresários saibam a que linhas de apoio podem recorrer e que recursos utilizar.