Projetos Expresso

Indústria tem de ser sexy para ter futuro

Aveiro: o desenvolvimento da região depende de mão de obra e de cativar os jovens, bem como da capacidade de inovação. O turismo na região Centro está a afirmar-se e é aposta importante, como ficou patente no debate (inserido no ciclo de conferências dos 50 anos do Expresso) que contou com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro

O turismo afirma-se como atrativo crescente da região, centrado no potencial natural da Ria de Aveiro, a “Veneza de Portugal”
Rui Duarte Silva

Marina Almeida

Deem-se as voltas que se derem, há uma questão que é central, e Aveiro não é exceção: é urgente fixar os jovens em Portugal. Como? Ligando as empresas e as universidades, promovendo o ensino profissional, praticando melhores salários. “Deve haver sensibilidade para os jovens pensarem mais na indústria. A indústria tem de ser sexy.” A ideia foi defendida pela empresária Ana Paula Roque e reforçada pelos participantes da conferência dos 50 anos do Expresso "Crescimento, Inovação, Exportação”, que decorreu em Aveiro.

Para a managing partner da Revigrés, este é um caminho essencial para se garantir a inovação, o crescimento e a mão de obra. Ana Paula Roque lembrou que 40% dos licenciados saem do país e, destes, 60% não querem voltar. Para contrariar este ciclo é importante levar os jovens desde cedo às empresas — “as visitas de estudo marcam, ficam-nos para a vida”, assegura. Apontando o exemplo da Revigrés, em que a maior parte dos jovens que fazem estágio na empresa de revestimentos cerâmicos acaba por ficar, a empresária disse ser importante apostar no ensino profissional e em potenciar as bolsas de doutoramento em empresas.

Este foi um dos focos do painel que se juntou no Centro de Congressos de Aveiro para analisar a região de Aveiro, a terceira exportadora a nível nacional. Uma conferência moderada pela jornalista do Expresso Margarida Cardoso, que arrancou com o olhar global do embaixador António Martins da Cruz, chamando a atenção para a China como grande investidor e do papel que Portugal, beneficiando da presença histórica em Macau, deve ter. Também a guerra da Ucrânia e o previsível alargamento da União Europeia aos países de Leste aconselha a que se comece desde já um trabalho de diplomacia, para travar o desvio de fundos europeus, alertou. “Do ponto de vista político, o eixo da União Europeia vai-se deslocar para leste, passam a ter a maioria”, apontou o diplomata.

Turismo a aumentar

Os fundos europeus têm sido muito importantes para Aveiro, a segunda região a nível nacional que mais retém estas verbas, apontou Jorge Brandão, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Centro (CCDRC): “Há um tecido empresarial muito forte e há essa capacidade de absorver fundos e realizar processos de transformação das estruturas produtivas.” O futuro passa por continuar a potenciar o trabalho em “patamares elevados de tecnologia, para que as empresas se tornem exportadoras, paguem melhores salários e façam os jovens fixar-se”.

Também o turismo se afirma como atrativo crescente da região. Centrado no potencial natural da ria de Aveiro, tem na cidade dos canais, a chamada “Veneza de Portugal”, o seu epicentro. Beneficiou agora com a guerra da Ucrânia, assumiu o presidente do Turismo do Centro, Raul Almeida: “As pessoas procuram um porto seguro para fazer o seu turismo.” O caminho de promoção do destino deverá prosseguir no sentido de diversificar a oferta, sendo a Capital Portuguesa da Cultura, que decorrerá em 2024, um momento importante desta afirmação.

Nesta dinâmica, a cidade prepara-se para inaugurar o primeiro hotel de cinco estrelas da região e viu na última década aumentar o número de camas disponíveis em Alojamento Local de 30 para 2500. Os dados foram referidos pelo presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves, que abriu os trabalhos da conferência. O autarca sublinhou a importância das parcerias com as empresas da região, da inovação — “um traço das empresas de Aveiro desde sempre” —, do ambiente e dos modos de vida da região, dos recursos únicos que o turismo está a descobrir.

A celebração dos 50 anos do Expresso em Aveiro prosseguiu com a gravação, perante uma audiência ao vivo, do programa da SIC Notícias “Expresso da Meia-Noite”. Com a presença do autarca de Aveiro, do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, António Mendonça Mendes, da presidente do Banco de Fomento, Celeste Hagatong, e do diretor da Faculdade de Economia do Porto, Óscar Afonso, o painel, moderado pelos jornalistas Ângela Silva e Bernardo Ferrão, fez um balanço do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Espanha é o principal importador

Mercados As exportações de máquinas e material elétrico e aparelhos de gravação e reprodução de som e imagem lideraram as exportações da região Centro no primeiro trimestre deste ano. Os dados da CCDR do Centro mostram que dentro da UE o principal destino destas mercadorias é Espanha, seguido de França. Nos mercados extracomunitários lidera Marrocos.

7,6%

é o aumento homólogo das exportações da região centro no primeiro trimestre de 2023, no valor de €4 mil milhões, segundo dados da CCDRC. Este crescimento é superior à média nacional, que se situa nos 6,5% em relação ao mesmo período de 2022.

Primeira capital portuguesa da cultura

Iniciativa Aveiro será, em 2024, Capital Portuguesa da Cultura. A iniciativa surge depois de perder para Évora a Capital Europeia (Aveiro foi uma das quatro cidades finalistas), e dará expressão a algumas apostas da candidatura aveirense, como a transformação do antigo colégio Dr. Alberto Souto em academia criativa; ou a criação de um museu da Bienal Artística de Cerâmica.

405

mil dormidas foram registadas em 2022 em Aveiro, o que representa mais 32 mil do que em 2019 e um aumento de 8,6% na procura da região. Os portugueses foram a maioria dos visitantes, seguidos dos espanhóis, franceses e alemães. No primeiro trimestre de 2023 esta tendência manteve-se, com um aumento de 31% na Região Centro em relação ao mesmo período de 2022.

Melhores frases do evento

“As grandes empresas devem potencializar e ser âncoras de empresas mais pequenas”

Ana Paula Roque
Managing partner da Revigrés

“A ria de Aveiro é um ativo enorme, mas exige imenso cuidado”

Jorge Brandão
Presidente da CCDRC

“Todos os países que vão entrar [na UE] são mais pobres, e isso vai ter consequências na distribuição dos fundos”

António Martins da Cruz
Diplomata

Conferências 50 anos

À boleia do roadshow que fizemos pelo país, inserido nas comemorações do 50º aniversário, o Expresso organizou várias conferências para perceber os desafios e as estratégias de desenvolvimento das diferentes regiões. Aveiro foi a última paragem, com o apoio da Câmara Municipal.

Textos originalmente publicados no Expresso de 15 de setembro de 2023