O seu negócio é uma obra-prima? A pergunta estava afixada num espelho colocado à entrada para a gala de atribuição do EY Entrepreneur of the Year 2023 e reflete o valor que distingue os empresários que se destacam dos demais: dar pinceladas que permitam gerar valor acrescentado (não só dentro de portas) e também recolher dividendos que enriqueçam o tecido económico do país.
Sérgio Silva tem feito por responder à pergunta e, apesar de ter admitido, já após ter o grande prémio nas mãos, que não sabia por que o escolheram, acrescentou logo de seguida que “alguma razão devem ter”. E as razões que levaram o júri, presidido por António Horta Osório, a escolher o CEO do Vigent Group como vencedor terão algo a ver com o percurso de transformação à frente de uma empresa sediada na Trofa — com mais de 50 anos de atividade e operações distribuídas por mais de 15 países — e em que representa a segunda geração da família, após o papel fundador do pai e do tio na então (só) Metalogalva.
Condições
Foi após terminar o curso de Gestão, em 2000, que Sérgio Silva mostrou espírito empreendedor, ao não querer entrar diretamente no negócio tradicional da família e escolher criar uma empresa de distribuição do camarão que a família produzia no Brasil. Após alguns percalços iniciais que o obrigaram a rever a estratégia, daqui resultou a Brasmar, que lidera desde então numa trajetória de crescimento e expansão internacional que projeta chegar aos €350 milhões em 2023.
É em 2010 que regressa às origens e assume a liderança completa do grupo, o que implica a responsabilidade de conduzir a Metalogalva, que então se encontrava num momento particularmente difícil, “exposta em mais de 93% ao mercado português, o qual começava a entrar em retração profunda, estando a banca com dificuldades em apoiar as empresas”, admite Sérgio Silva. “Foi um momento crítico em que reformulámos a estratégia, apostando na internacionalização, na modernização e na automatização de processos produtivos.” Da crise saíram “mais fortes e com os alicerces preparados para o forte crescimento que se verificou nos últimos anos”. Se em 2010 a Metalogalva faturava €40 milhões e exportava apenas 7%, em 2022 fechou com €400 milhões de vendas consolidadas e com 90% realizadas fora de Portugal.
Uma história de sucesso de alguém que, entre confetes e palmas, realçou que, mais do que a distinção individual, o importante da competição era celebrar “os milhares de empresários que todos os dias lutam para tornar Portugal melhor” e a exortar a quem de direito a oferecer condições que permitam fazer “crescer as nossas empresas”. Sobretudo quando, “mais do que apoio ou reconhecimento ao empreendedorismo, é necessário que o país funcione e não cause entraves a quem tem vontade de investir e desenvolver os seus negócios”. É preciso que “os sistemas de saúde e de educação funcionem, que a carga fiscal sobre o rendimento do trabalho seja aliviada e que haja uma desburocratização da Administração Pública”.
Deixar a marca
Na opinião de António Horta Osório, “é muito importante destacar os empresários”, porque são eles quem mais contribui para “criar riqueza na sociedade” quando há uma aposta consolidada no desenvolvimento de “produtos de valor acrescentado”. O que nem sempre é fácil e muitas vezes exige aos gestores assumirem um “risco” sem rede. Só que, quando a aposta é feita com visão, saem todos a ganhar, com a certeza de que são os empresários que “contribuem a curto prazo para que as pessoas tenham melhores condições de vida” e deixam a sua marca na sociedade e no desenvolvimento económico de Portugal.
O caminho está sempre a surpreender, e o mesmo podem dizer os restantes cinco finalistas da competição (que pode conhecer melhor na coluna à direita, assim como nas entrevistas publicadas na íntegra no site do Expresso), que, com os olhos postos no presente, apontam já ao futuro e ao que ainda podem contribuir. Com percursos de vida que se espera sirvam para “inspirar as novas gerações de empreendedores”, aponta o presidente da EY Portugal, João Alves. “Queremos que estas histórias sejam conhecidas, para que” os mais novos “possam aspirar também” a criarem.
“Um dia rei, outro dia sem comer”, já diz a música favorita de Sérgio Silva, “Tudo O Que Eu Te Dou”, de Pedro Abrunhosa, mas assim é o ethos do empreendedorismo, que muitos destacam com orgulho, e que olha sempre para o fracasso como parte não só integrante, mas também fundamental do sucesso. Os planos de Sérgio Silva passam agora “por apoiar ativamente os empreendedores portugueses através da Point Capital Partners, uma sociedade de capital de risco em que o Vigent Group participa, apoiando-os em processos de transformação, crescimento e expansão internacional”. Para o empresário — que no dia a dia não abdica do iPad e tem como citação favorita o slogan do Vigent Group, “Prospering Together” (que em português significa “prosperando juntos”) —, o futuro nunca pode implicar esquecer o passado, e por isso a palavra final tem que ficar para o pai, “uma grande inspiração”, com quem aprendeu “muito”: “Paizinho, isto também é teu.”
A celebração do melhor do empreendedorismo
Foram 27 nomeações apresentadas, 19 candidaturas aceites e 6 finalistas escolhidos pelo júri até chegarmos à gala onde Sérgio Silva foi anunciado como o grande vencedor do EY Entrepreneur of the Year 2023, naquela que foi a 9ª edição do prémio em Portugal. Houve ainda espaço para a atribuição de mais três distinções, a começar pelo Prémio Internacional, onde o cofundador e presidente da Anchorage Digital, Diogo Mónica, foi o escolhido. Já no Prémio Inovação o galardão coube a Francisco Rodrigues, CEO da PICadvanced, com João Magalhães, cofundador da Code for All, a ser o vencedor no Prémio Impacto Social e a destacar que “todos os finalistas são empreendedores incríveis em empresas muito diferentes e espetaculares: qualquer um podia estar aqui”. Importa perceber que, no seu conjunto, as empresas representadas nas candidaturas contabilizam mais de €1,8 mil milhões de faturação, €2,2 mil milhões de ativos totais e 14 mil postos de trabalho, tiveram um crescimento do volume de negócios de 31,5% em 2022 e registaram um aumento médio de 33% desde 2020, com exportações para mais de 70 mercados. A Sérgio Silva cabe agora a responsabilidade de representar Portugal na final internacional da competição, em 2024, entre mais de 50 países.
Os outros finalistas
Chitra Stern
CEO da Martinhal Family Hotels & Resorts Nascida em Singapura, tem feito caminho ao longo de mais de 20 anos em Portugal com a expansão da marca Martinhal, após o início em Sagres.
Diogo Mónica
Cofundador e presidente da Anchorage Digital A empresa está avaliada em €2,78 mil milhões, com a plataforma cripto regulamentada a ser pioneira no ramo.
Francisco Rodrigues
CEO da PICadvanced Conseguiu certificar o primeiro equipamento compatível com o padrão (FTTH-NG-PON2) que pode dominar as redes óticas de telecomunicações.
João Magalhães
Cofundador da Code for All Criou uma startup tecnológica de impacto social com o objetivo de dar as competências tecnológicas essenciais para a vida atual e, ao mesmo tempo, criar valor económico.
Jorge Rebelo de Almeida
Fundador e presidente do grupo Vila Galé É o responsável por um grupo que se encontra entre as 169 maiores empresas hoteleiras do mundo e que voltou a crescer após a covid-19 ter representado uma queda de 75% na faturação.
Empreendedor do Ano
O Expresso associa-se ao prémio EY Entrepreneur of the Year — um dos mais cotados programas globais de empreendedorismo —, que em Portugal atinge a 9ª edição, isto depois de anteriormente ter distinguido gestores como António Rios Amorim ou Dionísio Pestana. Consulte tudo no site do Expresso.
Textos originalmente publicados no Expresso de 7 de julho de 2023