Projetos Expresso

"Dificuldades e desafios? Foram muitos!"

Chitra Stern é a CEO da Martinhal Family Hotels & Resorts e uma das seis finalistas da 9ª edição em Portugal do EY Entrepreneur of the Year, a que o Expresso se associa. É a sexta das seis entrevistas que publicamos ao longo do mês de junho com cada um dos escolhidos na antecâmara do decisão final que será conhecida amanhã, 29 de junho. Até lá saiba mais sobre os nomeados e conheça no Expresso o grande vencedor

D.R.

Porquê Portugal e porquê a hotelaria?

O meu marido e eu decidimos criar uma empresa juntos depois de sairmos da PWC e durante o meu MBA na London Business School. Analisámos várias oportunidades de negócio, incluindo empresas de Internet entre 1998-2000. No entanto, algumas das oportunidades que analisámos incluíam o imobiliário na Croácia e em Portugal até porque já tínhamos um pouco de experiência no sector em Zurique.

Portugal era ainda o país mais desconhecido da Europa Ocidental na altura em que chegámos, em 2001. Havia fundos da UE para infraestruturas rodoviárias e aeroportuárias e a Expo 98 tinha acabado de acontecer, o que deu início a uma reflexão estratégica nacional para promover o turismo. Havia um entusiasmo no ar, o que nos deu confiança para investir em Portugal. O povo português é muito acolhedor e fala muito bem inglês, o que é importante para o turismo internacional. Vimos uma oportunidade em Sagres e tomámos a decisão de investir em imobiliário nesta bela zona. A criação de uma marca hoteleira veio mais tarde, com a gestão do resort que tínhamos construído. A intenção inicial não era criar uma marca hoteleira de raiz.

Como é que foi influenciada pela evolução do panorama? Foi um fator na expansão do negócio?

Quando começámos a viajar com os nossos bebés, descobrimos que havia um nicho para estâncias de luxo centradas em famílias. Sentíamos que faltava algo e decidimos criar uma estância sofisticada e de 5 estrelas que fosse elegante, mas também amiga das famílias. Durante a crise financeira global, tivemos de sobreviver e a sobrevivência foi uma grande influência na decisão que tomámos!

Acredito em criar um impacto positivo com tudo o que faço. A criação de projetos âncora, como o Martinhal Sagres e o Edu Hub, por exemplo, é o que me entusiasma, com impacto na economia local e na vida das pessoas. A marca Martinhal foi criada com um forte propósito - que é ajudar as famílias a conectarem-se, relaxarem, aprenderem a serem ativas e saudáveis para que as suas vidas como família sejam melhoradas. Este é também o segredo do sucesso desta marca. A criação da United Lisbon International School foi também motivada pelo objetivo de ajudar a criar "cidadãos globais". Só sendo unidos é que podemos esperar resolver todos os grandes problemas deste mundo, como a segurança, a pobreza, as alterações climáticas, etc. A paixão por este projeto surgiu após o referendo sobre o Brexit e a eleição de Donald Trump. Na escola internacional, o Modelo das Nações Unidas e os objetivos de desenvolvimento sustentáveis são pilares importantes na educação das crianças para que se tornem cidadãos globais. A aprendizagem contínua é muito importante para mim até porque saí da minha zona de conforto várias vezes.

Os desafios para atingir estes objetivos foram grandes?

Dificuldades e desafios? Foram muitos!

Tivemos de enfrentar e sobreviver à crise financeira global como promotores imobiliários, quando fomos um dos poucos promotores imobiliários a terem ainda o seu projeto no Algarve depois de 2011. Não tinha formação em hotelaria, mas comecei uma marca hoteleira de raiz, em Sagres, durante a crise financeira global e quando Portugal estava a ser resgatado! Abri uma escola internacional de raiz em Lisboa, apesar da falta de experiência relevante em plena pandemia, em setembro de 2020, enquanto os nossos hotéis sofriam com o impacto negativo da covid-19 em 2020-2021, em que atingiram apenas 30% do negócio do ano anterior. Entre março de 2020, quando ocorreram os primeiros confinamentos e as viagens aéreas pararam, e março de 2021, tivemos de liderar a nossa equipa de vendas imobiliárias para vender com sucesso 30 apartamentos que foram cruciais para o nosso negócio. Além disso, sou mãe de quatro filhos e casada com o meu parceiro de negócios. Isso traz muitos desafios e é difícil conseguir equilibrar a vida profissional e pessoal.

Estar entre os 6 finalistas do EY Entrepreneur of the Year é por isso um reconhecimento do trabalho feito?

É uma enorme honra ter chegado ao top 6! Há tantos grandes empreendedores em Portugal em vários sectores que devem ter concorrido e os requisitos da EY eram rigorosos. Sinto-me orgulhosa por ter chegado até aqui!

Há apoio suficiente ao empreendedorismo em Portugal ou é preciso mais?

Há cada vez mais em comparação com o que acontecia há 22 anos, quando chegámos. O governo tem promovido várias iniciativas para encorajar as start-ups. A criação da "Fábrica de Unicórnios" pelo atual presidente da câmara de Lisboa é um excelente exemplo. Há um enorme reconhecimento de que o empreendedorismo é importante para a sociedade e para a economia. Também se está a reconhecer que as pessoas empreendedoras são necessárias para as grandes organizações. Talvez pudessem existir incentivos mais inovadores para que mais empresários iniciem as suas atividades e para que os investidores invistam em jovens empresas na fase de arranque - por exemplo, incentivos fiscais.

O que conta fazer para o futuro?

Os nossos planos são continuar a fazer crescer a marca Martinhal fora do país. Queremos garantir que isso é feito de forma sustentável. Temos de garantir a estabilidade financeira e o crescimento da equipa.

A vida em três atos

Música favorita

“All I Want Is You”, dos U2. “Tinha 17 anos quando ouvi pela primeira vez, recordo-me de me sentir muito emocionada”.

Objeto de que não abdica no dia a dia

“Pasta e escova de dentes! É o primeiro passo para me sentir bem no início do dia. Se estivesse presa numa selva, iria sentir-me bem com isso”.

Citação favorita

“Presta atenção aos teus pensamentos. Eles vão-se tornar atos. Presta atenção aos teus atos. Eles vão-se tornar hábitos. Presta atenção aos teus hábitos. Eles vão moldar o teu caráter. Presta atenção ao teu caráter. Ele construirá o teu destino”, Margaret Thatcher

“Ou arranjo uma maneira, ou faço uma”. “Era a frase de uma pessoa desconhecida para mim na altura, pendurada na entrada da minha casa em Singapura. Não sei quem a disse originalmente e pensei em procurá-la entretanto. A Wikipedia diz que talvez possa ser atribuída a Aníbal, quando os seus generais disseram-lhe que não seria possível atravessar os Alpes com elefantes! [No latim: Aut viam inveniam aut faciam]. Seja qual for a fonte, esta foi uma citação muito inspiradora para mim enquanto crescia”.

O que precisa de saber sobre o EY Entrepreneur of the Year

  • Com arranque nos EUA em 1986, o EY Entrepreneur of the Year já se realizou em mais de 60 países,com um total aproximado de 10 mil candidaturas. Em Portugal,esta é a 9ª edição.
  • Guy Villax, António Rios de Amorim, Dionísio Pestana ou Belmiro de Azevedo são alguns dos vencedores portugueses.
  • Líderes como Jeff Bezos,da Amazon, Howard Schultz,da Starbucks, Michael Dell,da Dell Computer Corporation,ou Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil, são alguns dos mais destacados vencedores internacionais.
  • A seleção foi resultado de um processo que combinou a recolha de informação com uma entrevista pessoal com o empreendedor, realizada por uma equipa sénior da EY. A informação foi então integrada num dossier sobre cada candidato e entregue ao júri, encabeçado por António Horta Osório, para definir os seis finalistas entre todos os candidatos.
  • Os principais critérios para avaliação do empreendedor são: propósito, crescimento, espírito empreendedor e impacto.
  • Após nova reunião do júri para chegar ao veredicto final, o grande vencedor será conhecido numa gala a realizar a 29 de junho.