Projetos Expresso

Conhecimento tem de chegar às micro empresas e PME

Agilizar colaboração entre o sistema científico e o sector empresarial é ainda uma dificuldade em Portugal. Empresas de menor dimensão têm mais dificuldade em aceder à investigação produzida nas universidades e nos centros de conhecimento

Como transferir o conhecimento foi o tema da conferência que juntou universidades, associações e empresas em dois debates moderados pelo jornalista da SIC, João Moleira
João Girão

Fátima Ferrão

É preciso reforçar a ponte que liga os ‘produtores’ de conhecimento, na academia e no sistema científico nacional e, até mesmo, em grandes organizações privadas, a quem dele necessita para uma aplicação prática. A dificuldade de transformar esta via, ainda estreita, numa ‘autoestrada’ com múltiplas faixas de rodagem é um enorme desafio, reconhecido por todas as partes desta equação. Encontrar a solução, que não será única, foi um dos desafios para os debates que integraram a conferência ‘Como transferir conhecimento’, promovida pela Timac Agro, com o apoio do Expresso, que teve lugar no edifício sede da Impresa. “O conhecimento só faz sentido se trabalharmos em rede”, disse Rui Rosas, na abertura do evento.

O presidente da Vitas Portugal explicou igualmente os propósitos e a importância desta iniciativa que visou, por um lado, tomar o pulso ao que se passa a este nível em todos os sectores, de forma transversal, mas também no sector agrícola, um dos que se debate com mais e maiores desafios, nomeadamente no que se refere à produção de alimentos. As alterações climáticas, a escassez crescente da água, as dificuldades em produzir alimentos à mesma velocidade a que cresce a população são, na sua perspetiva, obstáculos difíceis de ultrapassar e que colocam muitas dificuldades ao trabalho diário dos agricultores.

Capacitar para informar

Não sendo problemas de resolução simples, é necessário, como refere Rui Rosas, começar pela base. A Vitas Portugal deu aqui um primeiro passo, explica o presidente, com o lançamento da primeira edição do curso de capacitação em nutrição vegetal, em parceria com universidades e politécnicos de norte a sul do país. Nesta primeira experiência, com a duração de 18 meses, serão formados 75 técnicos com a missão de serem “mensageiros do conhecimento junto dos agricultores”, salienta o presidente. O objetivo é que a formação se repita, ampliando em poucos anos o número de ‘veículos’ de transferência de conhecimento.

Mas, para fazer este trabalho, e como reconhecem os participantes nos dois painéis de debate, moderados pelo jornalista da SIC, João Moleira, será necessário encontrar formas de chegar com maior facilidade às PME e microempresas que, pela sua dimensão, estão normalmente mais afastadas das fontes de conhecimento. Assunção Cristas, ex-Ministra da Agricultura; Emídio Santos Gomes, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Margarida Oliveira, diretora da Escola Superior Agrária de Santarém; António Guerreiro de Brito, presidente do Instituto Superior de Agronomia; Francisco Gomes da Silva, diretor Geral da Agroges; Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP; e Jéssica da Costa, diretora Desenvolvimento de Produtos da Timac Agro Internacional foram os convidados para estas duas conversas.

Outras conclusões:

  • “Diversidade geográfica do país é um obstáculo maior, mas, na agricultura, os desafios são transversais”, defende Francisco Gomes da Silva. Ainda assim, diz, esta diversidade “não justifica o desfoque dos desafios do conhecimento que ainda subsiste”.
  • Para Álvaro Mendonça e Moura, na agricultura não basta falar de conhecimento científico, “é preciso o conhecimento da Política Agrícola Comum (PAC) que se altera a todos os sete anos, e cujas regras mudam também na avaliação a três anos e meio”. Para o presidente da CAP, estas alterações são difíceis de acompanhar por quem tem que estar no terreno. “Os atrasos nas regras para o próximo ano dificultam o planeamento e a gestão agrícola”, defende.
  • “Há necessidade de uma transferência de conhecimento não tecnológico e de inovação social para assegurar a passagem de informação”, salienta António Guerreiro de Brito. No trabalho de mudança, o presidente do ISA destaca a importância de todos, mas muito das universidades e dos estudantes que devem ser estimulados a pensar de forma criativa. “Este é um esforço grande que tem que ser feito”.
  • A ligação entre o mar e a terra é, na opinião de Assunção Cristas, uma das soluções para acelerar a inovação e a transferência de conhecimento. “Portugal deve olhar de forma pioneira para o mar e pensar que é um terreno fértil que pode e deve ser trabalhado, não só para extrair produção, mas para criar e desenvolver recursos que ajudem a solucionar o problema da terra”. A aplicação de algas marinas na agricultura é disso exemplo.