Portugal tem apenas 10 milhões de habitantes mas conta já com sete unicórnios (estatuto dado a startups que têm uma avaliação superior a mil milhões de dólares). Este é um dos dados que reflete o espírito empreendedor que se vive no país, potenciado pelo talento nacional e inspirado pela maior conferência de tecnologia do mundo — a Web Summit —, que se realiza em Lisboa desde 2016.
Foi precisamente neste palco que no ano passado Xavier Jameson apresentou o pitch que levaria a Musiversal a vencer o Tech Innovator in Portugal. O cofundador da empresa é de origem britânica, vive em Lisboa há cerca de 18 meses e, depois de residir em Londres, há uma vantagem notória que identifica entre as duas cidades: o ambiente aqui “é mais colaborativo”. Como explica ao relatar a sua vivência na capital portuguesa, “existe uma comunidade muito bem conectada entre si, onde todos se apoiam uns aos outros”.
Mas qual é a razão que leva a Musiversal a ser considerada uma startup disruptiva, um exemplo de inovação? Porque desde os seus primórdios — a partir do momento em que a ideia surgiu na cabeça de André Miranda, o outro cofundador e CEO, aquando da sua estada em Nova Iorque — que é uma plataforma que disponibiliza o acesso a músicos, produtores e engenheiros de som para sessões de gravação a partir de casa. Se o conhecido Spotify contribuiu para combater a pirataria, a Musiversal quer contribuir para dignificar a vida dos músicos, proporcionando-lhes estabilidade através de um rendimento justo. Atualmente, têm 500 subscritores e 35 artistas a trabalhar com eles, mas querem crescer muito mais num período curto de tempo. Até ao final de 2023 pretendem chegar aos 100 músicos e dentro de cinco anos — num cenário ideal — atingirão um intervalo entre os três mil e os cinco mil artistas.
Desde que venceram o Tech Innovator in Portugal que a visão se mantém: criar emprego para os músicos e entregar um serviço de produção musical a um custo mais baixo para os criadores. Mas o próximo passo da empresa portuguesa está agora mais claro e baseia-se em produzir faixas musicais, disponibilizá-las através de marketplace, sobre as quais os músicos poderão tirar royalties durante muitos anos. “Uma hora de trabalho poderá render durante mais de 20 anos a um artista”, sublinha André Miranda.
Tech Innovator: participar é a chave, ganhar é um bónus
A corrida para encontrar o vencedor da 3ª edição do Tech Innovator in Portugal já está oficialmente em curso, sendo que a fase de candidaturas terminou no passado dia 29 de maio. Tendo em conta a qualidade das candidaturas recebidas em edições anteriores, as expectativas são legitimamente elevadas. “Queremos conhecer e apoiar estas ideias, pois valorizamos o impacto e a importância que os pioneiros da tecnologia têm no mundo”, defende Nasser Sattar, head of advisory da KPMG Portugal e membro do painel de jurados aos quais caberá a decisão final. O especialista confessa que tem sentido que a escolha do vencedor tem vindo a tornar-se “mais difícil” e a sua convicção é de que este ano irá ser igual.
Os candidatos terão que preparar um pitch de sensivelmente cinco minutos e, após a apresentação, os mesmos responderão a perguntas feitas por um painel de jurados. Haverá várias fases e, depois de estarem escolhidos os finalistas, irá determinar-se o vencedor nacional. Este terá a chance de brilhar no Global Tech Innovator, mostrando se tem a fibra inovadora que a competição procura.
Apesar de reconhecerem que ganhar a competição contribuiu para alavancar a confiança da empresa, André Miranda e Xavier Jameson consideram que participar foi o que realmente lhes trouxe mais benefícios, porque, afinal, qual é o objetivo da maioria das startups? Angariar mais investidores para poderem crescer. Só que isso só se alcança se o discurso sobre o negócio que lideram for cativante. Ou seja, mesmo que não se vença, o exercício a que estão sujeitos todos os candidatos — o de construir e apresentar um pitch — será sempre profícuo. “Temos crescido devido ao nosso esforço, mas a competição foi o sítio ideal para dizermos ao mundo o que nós fazemos”, explica o CEO da Musiversal.
Embora ainda haja barreiras por quebrar e desafios a enfrentar, nomeadamente “a falta de financiamento para alguns empreendedores”, conta Nasser Sattar, Portugal tem demonstrado “um progresso significativo” na promoção da inovação por parte dos empreendedores. Burocracia, escala pequena e carga fiscal elevada são alguns dos travões atuais ao empreendedorismo nacional identificados por Nasser Sattar. Em contrapartida, o especialista evidencia o facto de a comunidade empreendedora “estar a crescer”, assim como o reconhecimento internacional das startups portuguesas.
NÚMEROS DOS PREMIADOS
€34,5
milhões foi o investimento que a Defined.ai — vencedora da 1ª edição do Tech Innovator in Portugal — conseguiu angariar em 2022 para expandir o projeto
1
milhão de minutos foram gerados em sessões de gravação pela Musiversal, vencedora do prémio no ano passado. 40 mil sessões e mais de 20 mil músicas foram produzidas por diversos artistas
27%
foi a percentagem de crescimento que a vencedora da 2ª edição da competição alcançou — só no mês passado — relativamente às subscrições
Vencedor sai de Lisboa para o mundo
O vencedor do Tech Innovator in Portugal irá realizar o seu pitch final, competindo com startups de outros países, no Global Tech Innovator, que terá lugar na Web Summit. É aí que apresentará os seus produtos e serviços e mostrará o que de melhor se faz no país ao nível da inovação, da tecnologia e do empreendedorismo. O desígnio mais desejável desta competição global é encontrar o futuro grande titã da tecnologia mundial, sendo por isso este o palco mais cobiçado. A vencedora do ano passado foi a startup do Reino Unido HiiROC, com a solução tecnológica que serve para tornar a produção de hidrogénio mais célere, com uma boa relação custo-benefício e amiga do ambiente, recorrendo a unidades de produção pensadas e desenvolvidas também pela própria. O segundo lugar foi ocupado pela japonesa FIMECS, que está a desenvolver uma nova categoria de medicamentos. Em terceiro ficou a irlandesa Provizio, que criou uma plataforma que previne e deteta — em tempo real — acidentes rodoviários.
Global Tech Innovator
Em 2023, o Global Tech Innovator — iniciativa organizada pela KPMG — volta a Lisboa, na semana da Web Summit, que se realiza em novembro. Repetindo o projeto do ano passado, o Expresso volta a ser parceiro desta iniciativa, que colocará as melhores ideias e projetos, nacionais e internacionais, em competição.
Textos originalmente publicados no Expresso de 9 de junho de 2023