“Não podemos, nem devemos, negar o progresso tecnológico”. Foi assim que a vice-reitora da Universidade de Coimbra começou a sua intervenção na conferência “Inteligência artificial, o ensino e o futuro”, organizada esta sexta-feira pelo Expresso a propósito das celebrações do 50º aniversário do semanário. Para Cristina Albuquerque, o ensino superior deve “integrar o que a inteligência artificial (IA) tem de melhor” e reconhecer as potencialidades destas ferramentas ao serviço do sistema educativo.
O debate em torno da disrupção, das vantagens que oferece e dos riscos que comporta decorreu no icónico Colégio da Trindade, que representa os mais de 700 anos de história daquela que é a mais antiga universidade do país. Durante o discurso de abertura, Amílcar Falcão fez questão de sublinhar a capacidade de adaptação da instituição que dirige à nova realidade da digitalização, num processo que está em curso. “A Universidade de Coimbra, muito empurrada pela pandemia, não hesitou em colocar o seu foco na inovação pedagógica”, afirmou o reitor.
Entre os exemplos deste processo de adaptação estão as “salas imersivas para ensino híbrido” ou a “desmaterialização dos exames”, trabalho que a ser feito e que em breve “estará em velocidade cruzeiro”. Sobre o impacto que ferramentas como o ChatGPT podem ter nas instituições e na dinâmica educativa, Amílcar Falcão é claro: “O progresso tecnológico pode comportar grandes ameaças, assim como pode trazer enormes oportunidades”.
O painel de discussão organizado pelo Expresso, moderado pelo jornalista João Miguel Salvador, contou com a vice-reitora Cristina Albuquerque, o professor e investigador residente Penousal Machado, a professora de direito Susana Aires de Sousa, o presidente da Associação Académica de Coimbra, João Pedro Caseiro, e Joana Feijó, diretora de desenvolvimento de negócio no Health Cluster Portugal.
Conheça, abaixo, as principais conclusões:
Utilização responsável da tecnologia
- Mais do que uma visão alarmista sobre a proliferação da IA – que, de resto, já existe e é utilizada há várias décadas - os participantes preferem olhar para as mais-valias que a tecnologia pode acrescentar ao atual modelo de ensino. Uma delas é a “poupança de tempo na procura de informações”, tornando possível aos estudantes concentrar o seu esforço noutras atividades, como a análise, o pensamento crítico e a reflexão, considera Cristina Albuquerque.
- A líder da Associação Académica de Coimbra concorda com a integração das plataformas de IA no sistema educativo como “elemento complementar” que não pode, contudo, “substituir o professor”. Joana Feijó assinala a importância da dimensão humana no percurso de aprendizagem, embora defenda que a IA pode contribuir para a “personalização do ensino” e transformação do atual modelo de sala de aula.
- Susana Aires de Sousa, especialista em direito, reconhece os desafios da IA do ponto de vista legal, mas acredita que a resposta não passa por interditar a sua utilização. “Existe risco de manipulação da informação. Nesse sentido, a literacia digital e o ensino sobre IA são fundamentais para termos consciência das nossas limitações e sabermos que estamos a dialogar com uma máquina”, defende.
- Penousal Machado, que está envolvido em vários projetos de IA, nomeadamente com a OpenAI, reforça a necessidade de endereçar o “uso eticamente responsável” da tecnologia. Este é, aponta, “o grande desafio para quem trabalha nesta área”.