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“É preciso colocar a saúde como prioridade nacional”

Abordagem à saúde exige mudança estrutural e trabalho que excede uma legislatura. O tema deve ser preocupação de todo o Governo e não apenas do Ministério da Saúde. Investimento no sector continua muito abaixo da média europeia e pode pôr em causa sustentabilidade do sistema. São apenas alguns dos assuntos que estarão em debate na próxima 4ª feira, dia 6, na conferência ‘Parar para Pensar: Saúde’, a que pode assistir a partir das 19h30 no Facebook do Expresso

DR

Fátima Ferrão

O investimento público dedicado à saúde dos portugueses representa 65,5% da média europeia, sendo o orçamento para a prevenção ainda mais reduzido, com uma média de 32€ por pessoa em Portugal. Paralelamente, nas últimas semanas assistimos a constantes problemas com as escalas de serviço de profissionais de saúde nas urgências, de norte a sul do país, uma questão justificada pelo Governo com a falta de médicos. Recorde-se que o mundo está a sair de uma pandemia que sobrecarregou os sistemas de saúde um pouco por todo o planeta, e que Portugal, tal como como os outros, procura agora repor tudo o que ficou por fazer nos últimos dois anos. A guerra na Ucrânia é outro fator de desestabilização europeu e está a afetar o velho continente não só na vertente económica, mas também em algumas áreas que podem impactar o sector da saúde. Perante este cenário, o que pode ser feito para garantir a sustentabilidade do SNS e de que forma podem, a prazo, ser criadas soluções que evitem o colapso do sistema e que garantam o acesso a todos, tal como prevê a constituição?

Para procurar responder a estas questões, a conferência ‘Parar para Pensar: Saúde’ reunirá um painel de convidados, com diferentes responsabilidades e distintas experiências profissionais no ramo da saúde para, em conjunto, partilharem as suas visões sobre o tema. Bruno Maia, médico especialista em Neurologia e Medicina Intensiva; Luís Goes Pinheiro, presidente do Conselho de Administração da SPMS; André Peralta Santos, especialista em Saúde Pública e ex-dirigente da DGS; Guilherme Monteiro Ferreira, diretor de acesso ao mercado e assuntos externos na GSK; e Sónia Dias, diretora, Escola Nacional de Saúde Pública, juntam-se a Marta Atalaya, jornalista da SIC, para uma conversa que promete ser esclarecedora.

Menos conversa e mais ação

Em jeito de antecipação deste debate, Guilherme Monteiro Ferreira deixa uma mensagem que considera também um ponto de partida para a mudança. “Há que passar das palavras aos atos e colocar a saúde como uma prioridade nacional”. Para o representante da GSK, isto significa que o SNS deve merecer em Portugal “investimento e atenção semelhante ao que assistimos nos outros países”. No entanto, alerta, este é um trabalho de longo prazo, que não é realizável em apenas uma legislatura. O desafio é, por isso, acrescido da necessidade de uma grande cooperação institucional – e menos ideológica -, que permita definir uma estratégia que deverá ser executada ao longo dos anos. O diretor de mercados externos defende ainda que, mesmo ao nível do Governo, a saúde deve ser vista e trabalhada por todas as áreas governamentais e não uma responsabilidade exclusiva do Ministério da Saúde.

Na perspetiva de Bruno Maia, esta ação de mudança é urgente, na medida em que os problemas a que estamos a assistir atualmente na saúde repetem-se há mais de uma década. “A multiplicação do fecho de urgências e o quase milhão e meio de portugueses sem médico de família são a expressão concreta de décadas de desinvestimento e de uma péssima gestão de recursos humanos”. Para o médico intensivista, Portugal não tem falta de médicos. O problema, crónico, é “uma desigual distribuição destes profissionais”. A perda de profissionais de saúde para o privado e para o estrangeiro é um problema com duas décadas, que é preciso travar e resolver. “Se não for invertido o fluxo de profissionais para fora do SNS, vamos ter cada vez mais urgências fechadas e cada vez menos médicos de família”, aponta.

No que se refere ao papel do sector privado na equação da saúde, Bruno Maia não tem dúvidas de que é preciso repensar esta relação que considera predatória. Anualmente, recorda, são gastos mais de 500 milhões de euros em convenções com o sector privado, e “quase metade do orçamento da saúde acaba a pagar serviços prestados por entidades privadas”.

“Se não for invertido o fluxo de profissionais para fora do SNS, vamos ter cada vez mais urgências fechadas e cada vez menos médicos de família”, garante Bruno Maia

Para assistir a este debate, inserido no ciclo de conferências ‘Parar para Pensar’, uma iniciativa do Expresso com o apoio da Deco Proteste, basta aceder ao Facebook do jornal, na quarta-feira, dia 6, a partir das 19h30.

500

milhões de euros é o valor que o SNS gasta anualmente em convenções com o sector privado

Parar para pensar: Saúde

O que é?

A conferência "Parar para Pensar: Saúde" é a quinta de um ciclo de seis, promovida pelo Expresso com o apoio da Deco Proteste, e que tem como objetivo pensar sobre temas estruturantes no pós-pandemia.

Quando, onde, e a que horas?

No dia 6 de julho, às 19h30, para assistir em direto na página de Facebook do Expresso.

Quem são os oradores?

  • Bruno Maia, médico especialista em Neurologia e Medicina Intensiva
  • Luís Goes Pinheiro, presidente do Conselho de Administração, SPMS
  • André Peralta Santos, especialista em Saúde Pública e ex-dirigente da DGS
  • Guilherme Monteiro Ferreira, diretor de acesso ao mercado e assuntos externos, GSK
  • Sónia Dias, diretora, Escola Nacional de Saúde Pública

Porque é que este tema é central?

A Pandemia evidenciou a importância do SNS na promoção e proteção da saúde dos portugueses. A Guerra na Ucrânia despoletou receios sobre o modelo de globalização e quebras nas cadeias de abastecimentos colocando em causa áreas estratégicas desde a tecnologia e alimentação passando pela energia e matérias-primas. Que impacto terão estas duas realidades na gestão e organização do SNS? Como pode o país resolver problemas como a falta de médicos? E de que forma poderão as políticas públicas dinamizar a promoção da saúde e a prevenção da doença, garantindo que todos os cidadãos têm acesso aos cuidados médicos, mas também à informação necessária para tomarem as melhores decisões? Questões para as quais urge uma resposta.

Onde posso assistir?

Simples, clicando AQUI