As preocupações ambientais promoveram a aceleração da mobilidade elétrica que, apesar do crescimento nas vendas de viaturas, continua a não ter uma infraestrutura adequada, nomeadamente, ao nível dos pontos de carregamento. Em paralelo, a mobilidade suave nas cidades – que inclui andar a pé, de bicicleta ou de trotinete – também ganhou adeptos sem, contudo, poder ser alargada ao grosso da população, pois continua a faltar a interligação com a rede de transportes públicos. Um problema que urge ser resolvido, especialmente quando a União Europeia anunciou que a produção de viaturas a combustão terminará em 2035. Para já, “a mobilidade tornou-se um empecilho burocrático”, diz Carlos Lobo.
O fundador da Lobo, Vasques & Associados foi um dos participantes em mais uma conferência do ciclo “Parar para Pensar”, promovida pelo Expresso com o apoio da Deco Proteste, e que hoje debateu o tema da Mobilidade e dos seus desafios. No painel moderado por Marta Atalaya, jornalista da SIC, participaram ainda Ana Cid Gonçalves, Secretária-geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), Fernando Nunes da Silva, Professor Catedrático no Instituto Superior Técnico (IST), e Jorge Leonardo, Coordenador do Núcleo Transportes na REPER (Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia).
Modelo desajustado
A falta de homogeneidade no modelo de desenvolvimento do país é um problema que, na opinião de Jorge Leonardo, é preciso resolver. No entanto, o representante na REPER defende que é preciso planeamento e adequação à realidade de cada região. Carlos Lobo concorda, e acrescenta que há um total desajustamento das cidades e do mercado, e muitas diferenças entre litoral e interior. “É um problema infraestrutural”, aponta. O advogado recorda que Portugal está, há mais de um século, a financiar o transporte individual, através da construção de rodovias e autoestradas, e a descurar a ferrovia. “Temos que aproveitar a geografia a nosso favor”, complementa Jorge Leonardo que acredita também que o investimento na ferrovia é determinante, tal como no transporte aéreo elétrico. “Se pudermos ir de Lisboa a Trás-os-Montes numa hora de avião, em modo sustentável, estamos a falar de uma mobilidade inteligente”.
Mas, além da articulação entre os vários tipos de transporte, Ana Cid Gonçalves acredita que é necessário integrar as políticas de mobilidade com as políticas de habitação, e ainda apostar em políticas de conciliação que permitam às famílias com filhos fazer uma melhor gestão do seu tempo e da sua mobilidade. A secretária-geral da APFN exemplifica: “no caso das famílias numerosas, os desafios, numa primeira fase da vida, não permitem não usar o carro e, numa fase posteriormente, lidar com o custo dos transportes para todos”.
Outras conclusões:
- “É preciso redescobrir o urbanismo de proximidade – o que começou a acontecer com a pandemia – mas este ainda é um problema em zonas onde tradicionalmente não existia comércio”, aponta Fernando Nunes da Silva.
- Carlos Lobo recorda que os territórios de baixa densidade, que representam entre 80 e 90% do país, têm necessidades diferentes e “é preciso adequar a oferta de soluções de mobilidade”.
- Portugal tem, na opinião de Jorge Leonardo, que tirar partido dos pontos positivos da sua localização geográfica. Por exemplo, os portos, que têm sido olhados com mais atenção nos últimos anos, mas que ainda é preciso desenvolver, ou a aposta nos pipelines energéticos, cuja rede precisa de ser melhorada e ampliada, e que permitirão ao país cumprir com as metas da UE sobre a mobilidade nos transportes. “Ser mais verde, mais resiliente e mais digital é o objetivo que, em simultâneo, tornam o país mais competitivo”, conclui.