A ciência portuguesa volta a estar de parabéns com mais uma edição dos Prémios Pfizer, os mais antigos na área biomédica em Portugal, que este ano distinguiram três projetos de investigação em duas categorias – Investigação Básica e Investigação Clínica. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, participou na cerimónia realizada esta tarde através de uma mensagem gravada, em que fez questão de lembrar a importância da ciência para o desenvolvimento de uma nação. “A pandemia de covid-19 mostrou a todos nós como é imperativo o apoio à investigação, e como um país só é verdadeiramente progressivo e avançado se souber beneficiar dessa investigação”, afirmou.
Porque “o estímulo à investigação científica” deve ser uma prioridade, acredita, o reconhecimento da qualidade da produção de conhecimento nacional deve continuar a ser feito. Nesta que foi a 65ª edição dos galardões – que resultam de uma parceria entre a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e a Pfizer, contando com o apoio editorial do Expresso —, saíram vencedores os projetos liderados pelos investigadores João Taborda Barata (Instituto de Medicina Molecular – IMM), Leonor Saúde (IMM) e Salomé Pinho (IPATIMUP). No total, os trabalhos agraciados mereceram um prémio no valor total de €60 mil (conheça os projetos em detalhe no final deste artigo).
Este é, para o diretor-geral da Pfizer, mais um contributo para “o progresso assinalável” que Portugal tem conquistado ao longo das últimas décadas na área da ciência. “Temos hoje níveis de produtividade científica na área biomédica que se situam acima da média europeia, mas há ainda um longo caminho a percorrer para melhorar a nossa competitividade internacional”, acredita Paulo Teixeira. Entre os desafios a endereçar para fortalecer a comunidade científica nacional, o presidente cessante da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML), Luís Graça, aponta “a estabilidade e regularidade”. Esta é, frequentemente, uma queixa dos cientistas portugueses, que lamentam a instabilidade dos concursos para atribuição de financiamento que não permite aproveitar todo o potencial da ciência em Portugal. “Os trabalhos premiados este ano são uma boa demonstração da qualidade e da vitalidade da ciência médica feita em Portugal”, afiança.
Neste que foi também o momento da passagem de testemunho de Luís Graça à nova presidente eleita da SCML, Maria do Céu Machado pediu aos secretários de Estado da Ciência e da Saúde, ambos presentes no evento, melhores “condições de trabalho para os médicos que querem fazer investigação” e ainda “condições para atrair investigadores estrangeiros”. Em resposta indireta, João Sobrinho Teixeira, responsável pela pasta da ciência, destacou o esforço do governo para “incrementar” a ligação entre centros académicos clínicos, hospitais e faculdades para promover a colaboração na produção de conhecimento.
Maria Manuel Mota, diretora-executiva do IMM e vencedora do Prémio Pessoa, marcou presença na cerimónia para traçar um retrato da evolução da humanidade, nos últimos dois séculos, à boleia da inovação científica, responsável pelo aumento da esperança média de vida e da qualidade de vida. “Fizemos este trajeto de 1950 até agora em que aumentámos mais 20 anos a nossa vida e temos de pensar que, desde os anos 1800, ganhámos mais de 40 anos de vida”, destaca. Para o futuro, a também investigadora diz ser necessário “ambição” e ousadia para continuar a inovar na ciência e na saúde. “No futuro, esperamos e desejamos uma transformação enorme na forma como olhamos para o sistema de saúde existente. Temos de passar de cuidados baseados em tratamentos para um muito distinto sistema que é baseado na prevenção e no bem-estar”, antecipa. “A ciência tem de ser feita por todos e para todos”, apela.
Conheça a lista de vencedores desta 65ª edição dos Prémios Pfizer
Prémio Investigação Básica
Regeneração da medula espinhal. A equipa liderada por Leonor Saúde, do Instituto de Medicina Molecular, desenvolveu um trabalho que estuda o microambiente celular da medula espinhal. Os cientistas identificaram as células senescentes como moduladores do resultado regenerativo após uma lesão da medula espinhal. No peixe-zebra, células senescentes são induzidas na periferia da lesão e vão sendo progressivamente eliminadas, enquanto no murganho estas células acumulam-se e persistem ao longo do tempo. É uma estratégia terapêutica promissora não apenas para lesões da medula espinhal, mas potencialmente para outros órgãos.
Prémio Investigação Básica
Novos tratamentos para leucemia linfoblástica aguda. João Taborda Barata, do Instituto de Medicina Molecular, tem procurado aprofundar o estudo deste cancro hematológico agressivo. A sua equipa demonstrou, usando modelos animais e dados recolhidos de pacientes com LLA de células T, que o aumento de expressão do recetor da interleucina-7 (IL-7Rα) tem potencial para originar leucemia, mesmo na ausência de mutações do recetor. Em resumo, este estudo contribui para um melhor conhecimento da biologia da doença e aponta pistas importantes para o desenvolvimento de novos tratamentos para doentes com LLA-T e com expressão elevada de IL-7Rα.
Prémio Investigação Clínica
Evitar consequências gravosas da lupus. Os investigadores liderados por Salomé Pinho, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular, descobriram um novo biomarcador de diagnóstico e prognóstico do Lupus Eritematoso Sistémico (LES) que é capaz de prever o desenvolvimento de doença renal crónica terminal. Poderá, eventualmente, ser usado para o diagnóstico e prognóstico de outras doenças autoimunes. Através da identificação de uma assinatura atípica de glicanos à superfície das células renais de doentes com lupus, foi possível chegar a um novo mecanismo molecular que pode ser traduzido num biomarcador com potencial para identificar doentes com maior risco de progressão para doença renal crónica.