A saúde dos mais idosos foi um dos campos mais afetados pela pandemia, e essa realidade é bem evidente para os profissionais que todos os dias trabalham no Centro Psicogeriátrico Nossa Senhora de Fátima. A unidade de saúde das Irmãs Hospitaleiras acolhe, na Parede, 85 utentes acima dos 65 anos e as restrições na liberdade de circulação e no contacto com os familiares tiveram um efeito visível. A pandemia destapou a “fragilidade da sociedade. Foi muito impactante”, conta a irmã Paula Jacinta Carneiro, responsável pelo espaço.
A unidade de saúde alberga uma equipa multidisciplinar que procura “satisfazer as necessidades básicas dos utentes e melhorar a sua qualidade de vida”, através de uma abordagem que vê a “pessoa como um todo” com dimensão “social, lúdica” ou “relacional”. E é precisamente a abordagem que pretendem agora levar para ambulatório com um novo projeto financiado pelo Prémio BPI Fundação “la Caixa” Seniores — que na nona edição distribuiu €1 milhão por 34 projetos. Coordenado pela responsável pelo Serviço de Psicologia, Paula Agostinho, e pela psicomotricista Maria Pereira, o projeto está previsto arrancar “para janeiro do próximo ano” e junta a “vertente cognitiva à vertente física”. A ideia, que aposta também na promoção da literacia para a saúde mental, ganhou ainda mais força com a pandemia e o objetivo é ir diretamente à casa de doentes que sejam referenciados. Vão ser desenvolvidas também parcerias com diversos lares do concelho de Cascais para desenvolver atividades de grupo e diagnosticar casos que precisem de atenção especial. É a forma de dar nova resposta a “um grande desafio que temos enquanto comunidade”.
Quem já beneficia “há cinco anos” da assistência integral na instituição é Maria Santos, de 70 anos. Ribatejana e antiga professora do ensino básico, é uma das responsáveis pela secção de cultura e faz questão de nos dizer que é uma “leitora assídua do Expresso” e que a televisão e o jornal foram essenciais durante a pandemia, sobretudo como alguém que gosta “muito de comunicar”. Sem esquecer as atividades e o trabalho desenvolvido na unidade de saúde, que a fazem sentir “confortável”.
Outro dos projetos distinguidos foi o “E Agora?”, da Universidade Sénior de Évora, que consiste, explica Susana Madeira, “numa resposta socioeducativa no panorama da pandemia, onde se pretende que os seniores possam desenvolver ferramentas e competências ao nível da literacia digital. Noutro ponto do país, na Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave, encontramos o Centro de Investigação, Diagnóstico, Formação e Acompanhamento de Demências, e uma “solução pioneira” que consiste na criação de uma unidade “de avaliação da capacidade de condução” da população “com défice cognitivo ou demência”, elabora a diretora clínica adjunta Isabel Seixas.
Já a proposta da Cooperativa de Ensino Superior Egas Moniz, intitulada “BounceBack for Parkinson”, baseia-se, segundo as coordenadoras Catarina Godinho e Josefa Domingos, na implementação de “sessões inovadoras de treino de equilíbrio e de exercício físico usando trampolins, com o objetivo de reduzir o risco e a frequência de quedas que tem aumentado de forma significativa nesta fase” pós-pandemia.
O retrato de um país a envelhecer
Portugal é um dos países da Europa a viverem um processo mais acelerado de aumento da idade média da população
Os dados não deixam grande margem para segundas interpretações. Em 2050 o Instituto Nacional de Estatística (INE) estima que um terço da população portuguesa seja idosa e quase um milhão de pessoas tenha mais de 80 anos. Por terceira idade entende-se habitualmente a população com pelo menos 65 anos de idade e, em Portugal, isso corresponde a 20% dos habitantes, de acordo com o INE. Uma tendência crescente que pode fazer com que o índice de envelhecimento atinja um rácio de 317 idosos por cada 100 jovens em 2080. Apesar de a Europa ser um espaço geográfico com uma tendência de envelhecimento visível, mesmo assim Portugal destaca-se, sobretudo pela sua dimensão. Em 2019, ano mais recente para o qual existem dados comparáveis do Eurostat, o país tinha a terceira idade mediana mais elevada da União Europeia, 45,5 anos, apenas superado pela Alemanha e pela Itália.
“Portugal está a sentir profundas alterações demográficas e sociais que promovem a necessidade de mudanças na assistência social e no apoio à população mais velha”, defende Isabel Seixas, diretora clínica adjunta do Centro de Investigação, Diagnóstico, Formação e Acompanhamento de Demências da Santa Casa da Misericórdia de Riba de Ave.
O envelhecimento da população tem também impacto económico e obriga a encontrar respostas de apoio social e financeiro para impedir o aumento de situações de carência. Segundo números da Segurança Social referentes a setembro deste ano, estão atribuídas mais de 2 milhões de pensões de velhice e mais de 150 mil complementos solidários para idosos, valores que têm aumentado.
Distinguidos no prémio seniores
- Associação do Centro Social de Escapães
- Associação Juvenil Transformers
- Associação Nacional de Apoio ao Idoso — ANAI
- Benéfica e Previdente — Associação Mutualista
- Centro Comunitário de São Martinho de Dume
- Centro Comunitário de Tires
- Centro de Acolhimento São Pedro
- Centro de Bem-Estar Social da Zona Alta —Torres Novas
- Centro de Dia de São Silvestre de Escalos de Baixo
- Centro Paroquial de Bem-Estar Social de São Julião de Monte do Trigo
- Centro Paroquial de Bem-Estar Social Almalaguês
- Centro Social Cultural e Recreativo de Quimbres
- Centro Social da Musgueira
- Egas Moniz — Cooperativa de Ensino Superior, crl.
- Fundação Bissaya Barreto
- Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus — Centro Psicogeriátrico Nossa Senhora de Fátima
- Instituto Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus — Casa de Saúde Rainha Santa Isabel
- Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Trofa
- Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Riba De Ave
- Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso
- Pasec — Plataforma de Animadores Socioeducativos e Culturais
- Passo Positivo — Associação de Ação Social
- Probranca — Associação para o Desenvolvimento Sociocultural da Branca
- Provectus — Associação em Prol da Terceira Idade
- Santa Casa da Misericórdia de Alcobaça
- Santa Casa da Misericórdia deOliveira de Azeméis
- Santa Casa da Misericórdia de Pampilhosa da Serra
- Santa Casa da Misericórdia de Pombal
- Santa Casa da Misericórdia do Bombarral
- Santa Casa da Misericórdia do Fundão
- Semente Levamos Vida — Associação Humanitária
- Sopro — Organização Não-Governamental de Solidariedade e Promoção
- Suão — Associação de Desenvolvimento Comunitário
- USE — Universidade Sénior de Évora
Textos originalmente publicados no Expresso de 30 de outubro de 2021