A 64ª edição dos Prémios Pfizer, os mais antigos das ciências biomédicas em Portugal, distinguiu três projetos de investigação realizados em território nacional relacionados com a malária, o papel do sistema imunitário no intestino e a influência dos sistemas imunitário e nervoso na memória a curto prazo. Os estudos de “qualidade execional” são, para o presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (SCML), uma prova de que “a investigação já não é um desafio individual”, mas antes o resultado do esforço de equipas “com formações complementares”. As distinções foram entregues esta quarta-feira, no auditório do edifício Impresa, num evento promovido pela Pfizer Portugal com a SCML e com o apoio do Expresso.
Luís Graça fez ainda questão de sublinhar o “orgulho” pelo papel da comunidade científica portuguesa no combate à pandemia, ajudando, entre outras conquistas, a aumentar a capacidade de testagem à covid-19 e à criação da aplicação StayAway Covid. Para Paulo Teixeira, diretor geral da farmacêutica, "reconhecer a investigação feita ao mais alto nível em Portugal" é particularmente importante por este ser um trabalho afastado “dos holofotes da sociedade, silencioso e pouco conhecido”.
A cerimónia contou ainda com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, que elogiou o papel das instituições onde trabalham os vencedores, o Instituto de Medicina Molecular (IMM) e a Fundação Champalimaud, que permitem a estes “grandes cientistas” desenvolver investigações fundamentais na área da saúde. O professor do Instituto Superior Técnico, Arlindo Oliveira, falou a propósito da "Inovação, Inteligência Artificial e a Saúde do Futuro", referindo a importância crescente que a IA terá no diagnóstico e tratamento.
Miguel Prudêncio, Henrique Veiga-Fernandes e Julie Ribot são os três responsáveis pelos projetos vencedores, que pode conhecer abaixo:
Investigação Clínica | "An open-label phase 1/2a trial of a genetically modified rodent malaria parasite for immunization against Plasmodium falciparum malaria"
- O projeto liderado por Miguel Prudêncio, do IMM, tem como objetivo “o desenvolvimento de uma vacina contra a malária, que atualmente causa a morte de 400 mil crianças por ano”, explica o investigador. Através da utilização de um parasita da malária de roedores geneticamente alterado, permite provocar uma resposta imunitária capaz de combater a origem da doença nos humanos.
- O estudo, agora premiado, obteve “resultados muito promissores” que conseguem a “inibição de 95% da infeção do fígado”. O prémio, diz, traz “motivação e estímulo para continuar a trabalhar” numa vacina que seja 100% eficaz
Investigação Básica | "Light-entrained and Brain-Tuned Circadian Circuits Regulate ILC3s and Gut Homeostasis"
- O trabalho desenvolvido pela equipa de Henrique Veiga-Fernandes, da Fundação Champalimaud, foca-se no papel do sistema imunitário no intestino e no controlo “da inflamação e do desenvolvimento de cancro”, explica. “Determinámos que a atividade dos glóbulos brancos dependia do nosso ritmo biológico”, continua, o que permitiu revelar que o diálogo constante entre o cérebro e as células imunitárias do intestino “é crítico para manter o intestino saudável”.
- A investigação permitirá “desenvolver novas ferramentas” que ajudem à prevenção e tratamento destas doenças.
Investigação Básica | "Meningeal γδ T cell-derived IL-17 controls synaptic plasticity and short-term memory"
- O primeiro projeto de Julie Ribot como investigadora principal estabeleceu que a memória a curto-prazo é influenciada pela comunicação constante entre os sistemas imunitário e nervoso central, através das células T gamma delta.
- “Acredito que isto é só um exemplo, abrindo caminho para muitos mais no futuro”, defende Ribot, que afirma que o prémio é uma “motivação extra para prosseguir com os nossos projetos”. O objetivo, refere, é perceber as implicações das descobertas no contexto das doenças neurodegenerativas.