Portugal Moçambique - Ligações Fortes

Gás natural vai obrigar Moçambique a aumentar a dívida

Manter a participação do Estado moçambicano nos blocos de gás natural na bacia do Rovuma passará por agravar a dívida pública. Esta foi uma das questões debatidas na conferência "Portugal Moçambique - Ligações Fortes" que decorreu no início de Maio em Maputo.

O País

O Estado moçambicano terá mesmo que recorrer ao endividamento, para não perder as suas participações nos blocos de exploração de gás natural na bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado. Esta é uma posição defendida pelo director-geral da empresa Redes Energéticas Nacionais (REN) de Portugal, Jorge Borrego, para quem o "Estado deve endividar-se, para financiar o desenvolvimento".

A ideia é partilhada pelo presidente do conselho de administração do Banco Único, João Figueiredo, para quem é inevitável o Estado endividar-se junto das instituições financeiras, como forma de garantir os seus interesses no negócio do gás e não ficar para trás na corrida aos recursos minerais. Figueiredo avança, ainda, ser necessário avaliar correctamente fontes e modalidades de financiamento existentes no mercado, por forma a ser feita a escolha mais acertada.

Trata-se, de resto, de uma questão levantada por um estudo realizado pelo Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique, no qual esta organização da sociedade civil conclui que o Estado moçambicano irá pagar caro - acima de três mil milhões de dólares - para conseguir manter a sua participação nos blocos de gás.

Os dois gestores falavam no decurso da conferência "Portugal Moçambique - Ligações Fortes", que decorreu nos dias 2 e 3 de Maio em Maputo, uma iniciativa do Expresso, SIC Notícias, Grupo Soico e em parceria com a REN, que reuniu governantes e empresários dos dois países.

Areias pesadas criam oportunidade industrial

A intervenção da ministra dos Recursos Minerais de Moçambique, Esperança Bias, antecedeu o debate sobre recursos naturais, infraestruturas e construção, destacando a grande oportunidade para a criação de uma indústria forte de tintas no país, através do aproveitamento da exploração das areias pesadas em Moma, na província de Nampula, e reduzindo, assim, significativamente, a necessidade de importação de tintas e respectivos sub-produtos. Por outro lado, Bias avançou a forte possibilidade de Moçambique se tornar num produtor de aço através da combinação da produção de carvão mineral e minério de ferro.

Galp Energia reafirma interesses em Moçambique

Jorge Borrego fez-se acompanhar pelo vice-presidente da Galp Energia, Luís Palha da Silva, no painel sobre recursos naturais. Este reafirmou o interesse do grupo português em investir em Moçambique, particularmente na área 4 da bacia do Rovuma, onde já foram descobertos cerca de 100 biliões de pés cúbicos de gás natural. A Galp pretende, ainda, expandir a sua actividade de distribuição de combustíveis fósseis e outros derivados do petróleo no país.

Investimento em infraestruturas é urgente

O primeiro dia da conferência foi também marcado pelo debate sobre "infraestruturas e construção", onde os oradores foram unânimes em relação à necessidade de investimento em infraestruturas ferroviárias, portuárias e rodoviárias para viabilizar o escoamento de recursos minerais e transporte de outros bens. Aqui existe a possibilidade de o Governo de M oçambique recorrer ao modelo de Parcerias Público Privadas (PPP) ou apostar no investimento genuinamente público, para viabilizar os projectos em curso nos corredores do Sul, Centro e Norte de Moçambique.

Participaram neste debate os presidentes do conselho de administração da Soares da Costa Moçambique e Manica Terminais, Rui Carrito e Fernando Couto, respetivamente, Pedro Monjardino, partner da Orey Moçambique, e Jorge Valério, director-geral da Estradas do Zambeze.