"Azagaia, 10 a zero, mano! Gramei o teu clip! És um homem do povo!", grita um homem que passa na rua. "Estamos juntos!", responde afável o rapper enquanto levanta o polegar. É a estrela do momento em Moçambique. Todos o conhecem, todos querem dar-lhe um abraço ou pedir-lhe um autógrafo. Acaba de sair de um programa de televisão - um concurso juvenil de teste de conhecimentos, mas não cantou o seu último hit. É demasiado forte para os miúdos e, sobretudo, para passar na estação pública. A letra da 'Música de Intervenção Rápida' denuncia a carga policial contra ex-combatentes de guerra, que se manifestaram há quase dois meses, em Maputo. "Ah! Ah! Ah! Senhora ministra cuidado com as palavras/ Se não fosse o sangue do povo / nem sequer governavas", canta. Edson da Luz (o nome que usa no seu trabalho como publicitário, que ainda mantém) escolheu uma lança afiada para nome artístico. Não se coíbe nas palavras - usa-as para passar a sua mensagem de crítica política e social.
Começou a escrever poemas de intervenção aos 13 anos, aos 16 conheceu o rap. "Revi-me no hip hop, associado à cultura dos guetos. Foi para mim o casamento perfeito entre as letras que já fazia e a música", recorda. Duas meninas passam ao lado da mesa onde está sentado, e aproximam-se emocionadas. "Dás-me um autógrafo? Por favor, eu adoro-te!" Azagaia sorri, escreve uma dedicatória. "Ele é lindo, charmoso, muito bom cantor. Fala de tudo o que se passa em Moçambique!", apregoa Zaila enquanto se afasta emocionada, beijando o papel.
"Inspirei-me muito em Samora Machel, comecei por subir aos palcos fardado. Queria ser um combatente pelos direitos humanos e sociais", continua o rapper.
Em 2008, depois de esgotar a primeira edição do seu CD, lança a Música 'Povo no Poder', depois dos tumultos por causa da subida do preço do pão. "Já não caímos na velha história/ Saímos pra combater a escória /Ladrões /Corruptos/ Gritem comigo pra essa gente ir embora/ Gritem comigo pois o povo já não chora!", diz no refrão. A letra anda de boca em boca, torna-se hino de protesto.
Em palco transfigura-se, esconde o trato afável e o sorriso doce e vira um animal feroz: agressivo, incisivo, curto e grosso. "Sou um agitador social, mas tenho de falar. O estado de direito é isto. A democracia é isto", explica. Apregoa, com argumentos lúcidos, contra a desigualdade social no seu país, os negócios que privilegiam os homens do poder e da Frelimo, o crescimento económico pouco sustentável, que não investe na agricultura nem na educação. Medo não tem, mas percebe-o nas pessoas da família à sua volta. "Há muitos exemplos de gente que falou de mais e acabou mal. Sou um ser livre, sou teimoso, mas não ignoro os avisos." Ainda assim, promete cantar até que as rimas deixem de sair.