Energia de Portugal 2014

O que uma startup ganha e perde com um investidor

A entrada de um investidor é uma óptima notícia, mas prepare-se, pois como em todas as relações, vai perder parte da sua autonomia.

Maria Martins (www.expresso.pt)

Os investidores procuram boas ideias de equipas sérias, rigorosas e que cumpram aquilo que se propõem fazer. Se reunir estes requisitos é quase certo que não terá dificuldade em encontrar quem esteja disposto a investir na sua empresa. Mas mais do que dinheiro, uma capital de risco ou um business angel traz conhecimento para as startups. "Conseguimos não apenas financiamento para alavancar o projecto, mas também conhecimentos complementares à equipa fundadora e networking", diz Helena Vieira, CEO da Bioalvo, empresa de biotecnologia que conta com o apoio da Gesventure.

Os especialistas são unânimes em defender que nenhuma startup deve aceitar um investidor pensando apenas no dinheiro que ele vai trazer. A sua reputação e a rede de contactos da capital de risco ou do business angel são fundamentais, até porque acabam por dar credibilidade à startup. Para Ricardo Sécio, CEO da BestTables - plataforma que faz a gestão de reservas nos restaurantes e que espera contar com parcerias com 400 restaurantes no seu primeiro ano de actividade -, a entrada da InovCapital na empresa mostrou ao mercado que se trata de um projecto que passou com distinção, numa selecção feita entre tantos outros, e isso é um sinal de que reúne condições para o sucesso.

 

Seleccionar o parceiro

Mas há que ter alguma cautela e saber seleccionar os potenciais investidores. "O empreendedor tem de ter a noção que os investidores poderão exagerar a sua capacidade de capitalizar o negócio usando os seus conhecimentos e que a sua experiência poderá não ser assim tão determinante no negócio", alerta Pedro Bizarro, da Feedzai, empresa tecnológica que tem como investidores a Espírito Santo Ventures, a NovaBase Capital e a EDP Ventures.

E como nos relacionamentos, esta relação vai ter, necessariamente, altos e baixos. Um coisa é estar sozinho ou com os sócios que estiveram consigo desde o primeiro momento, outra é ter um investidor que quer acompanhar o negócio no dia-a-dia. Por isso é tão importante que haja um bom entendimento desde o início. "Mais importante do que estar de acordo com os números, é que haja sintonia quanto à génese, ao espírito do projecto, e que todos partilhem da mesma visão estratégica e de crescimento", diz Ricardo Sécio.

Por isso, a primeira grande mudança que a chegada de um investidor provoca é a alteração na rotina. "Há que estar preparado para negociar algumas decisões importantes, como a contratação de pessoas-chave para lugares de topo, investimentos estratégicos e entrada de novos accionistas", acrescenta Helena Vieira, da Bioalvo.

 

Mais profissionalização

Muitas das exigências que os investidores costumam fazer, contribuem para que a startup ganha uma estrutura mais sólida. Podem exigir desde uma análise cuidada à saúde financeira do negócio, até alterações à estrutura social da empresa (que se transforme em sociedade anónima, por exemplo). "No caso da Feedzai existem muitas reuniões regulares de administração, onde se descreve o progresso do produto, projectos e vendas, e onde se discutem contratações, estratégia, linhas de negócio ou internacionalização", refere Pedro Bizarro. Contudo, o CSO da empresa tecnológica reconhece que a preparação que essas reuniões exigem são muito benéficas.

Apesar de manterem a liberdade, os empreendedores passam a ter que submeter muitas decisões à aprovação dos investidores. A sua posição accionista, geralmente reflectida na colocação de um vogal no conselho de administração, dá-lhes algum poder de veto em matérias significativas, "como a entrada de novos accionistas ou aquisição de outras sociedades", adianta Helena Vieira.

 

Menos autoridade

Atenção à ideia romântica do investidor como parceiro e amigo. Lembre-se que ele é um sócio e vai querer rentabilizar o dinheiro que investiu na sua startup. Daí este controle apertado sobre as contas da empresa e as suas decisões estratégicas. "Mas é importante reconhecer que o accionista financeiro suporta grande parte dos custos e como tal tem de ter um papel preponderante na gestão diária da empresa", destaca Helena Vieira.

Nesta altura da vida você já aprendeu que não há almoços grátis. Por isso, Ricardo Sécio não estranha que, em troca da "credibilidade e do acesso a uma rede de contactos de variadíssimos sectores, alguns dos quais se traduziram em parcerias concretas e vantajosas, tenha de manter reuniões regulares e contactos informais com o investidor".

Estar pronto para aceitar uma perda de autoridade e controle sobre o negócio faz parte do jogo. Como se costuma dizer, o capital de risco é o dinheiro mais caro que existe, por isso deve salvaguardar a sua posição desde o início desta parceria. Contrate o melhor grupo de advogados que conseguir para discutir o contrato de investimento e as suas condições. "Por muito caro que possa parecer o custo dos advogados, compensa", diz Pedro Bizarro, "sem advogados a rever essa documentação (num processo que pode durar meses), a negociação ficará muito inclinada para o lado dos investidores".

O ponto fundamental na relação com investidores de capital de risco é o estabelecimento de uma relação de confiança e credibilidade. "Se tal acontecer a intervenção dos investidores será muito mais numa base de supervisão e muito menos numa base de controlo permanente", adianta Nuno Sebastião, CEO da Feedzai. É importante que os novos empreendedores consigam perceber isto.