Geração E

Carta aberta a todos os homens decentes: façam parte da solução e não do problema

Se um amigo vosso faz comentários maldosos e sexistas, se tem comportamentos limite no campo da violência contra mulheres, se assistem a vídeos de violações na internet, não sejam indiferentes a estas situações. Não se descartem do problema só porque os possíveis agressores não são vocês

Esta é a terceira versão que escrevo desta crónica, acerca do caso da menor alegadamente violada por três tiktokers, que procederam à gravação do ato e publicação do vídeo. Citando a notícia da Sic Notícias:

“A adolescente combinou um encontro com um dos jovens, seu conhecido, que compareceu acompanhado de amigos, desconhecidos da adolescente. Os três jovens, segundo a PJ, "em contexto grupal constrangeram a vítima a práticas sexuais e filmaram os atos, contra a sua vontade, divulgando-os nas redes sociais".

A primeira versão desta crónica tinha como título "quando os teus ídolos se tornam no teu pesadelo, em parceria com o juiz de instrução criminal". De seguida, escrevi "Tiktokers violam fã e publicam o vídeo do crime: todas as pessoas que assistiram e não denunciaram são cúmplices", já que é gravíssimo que tal tenha acontecido. Mas a verdade é que nenhum desses focos de escrita chegava ao ponto fulcral da questão: a prevenção da violação e a responsabilização de quem observa atitudes problemáticas e nada faz.

Este texto não é um ataque aos homens, é um pedido aos que querem ser pessoas decentes, prevenindo violência contra mulheres.

A prevenção não está em limitar a liberdade das possíveis vítimas, ou designar a prevenção como pura e simplesmente o afastamento das mulheres de possíveis perigos de violação. Temos de focar a atenção no que é realmente perigoso, em quem perpetua o perigo.Toda a gente sabe que quando se diz às mulheres "é perigoso andares sozinha à noite na rua" ou "os perigoso encontrares-te com alguém que não conheces", o perigo de que se está a falar é em homens. Por isso, nem nos atrevamos a culpar nem por um milésimo de segundo a jovem de 16 anos que se encontrou com os tiktokers, já que ela somente queria conhecer a pessoa que tanto admirava. Ela nunca pensou que seria violada, foi algo que lhe aconteceu e não algo que ela fez. Aliás, após o sucedido, a vítima prontamente comunicou-o aos pais que a levaram ao Hospital Beatriz Ângelo, cujos profissionais reportaram a violação à PSP. Como consequência, o juiz de instrução criminal apenas obrigou os alegados agressores, com idades entre 17 e 19 anos,a apresentações semanais às autoridades e proibiu-os de contactar com a vítima. Portanto, os alegados agressores ficaram em liberdade.

A verdade é que, por muito que haja homens decentes, há homens que não o são. E neste contexto, os homens decentes, os que não violam, os que respeitam, não podem simplesmente afastar-se da questão com a desculpa de que eles não são o problema. Nem sempre o agressor é um homem, mas quase sempre é um homem. Se não és tu, é o teu amigo, o teu familiar, o teu colega de trabalho. Como disse Daniel Sloss: if you’re not a part of the problem, you must be a part of the solution.

Por isso, falo para vocês homens: se um amigo vosso faz comentários maldosos e sexistas, se tem comportamentos limite no campo da violência contra mulheres, se assistem a vídeos de violações na internet, não sejam indiferentes a estas situações. Não se descartem do problema só porque os possíveis agressores não são vocês. Se não fizerem nada, vocês são parte do problema, porque perpetuam é normalizam comportamentos sexistas. Chamem à atenção. Denunciem, quando é caso para isso. Porque se um amigo vosso que já vos tinha confessado ter tido comportamentos abusivos com uma mulher, ou vos mostrou vídeos, cujas confissões e partilha de vídeos vocês ignoraram, também vocês têm culpa no cartório.

Mais uma vez, estejam atentos e façam parte da solução, e não do problema.

Sugiro, como conclusão, que assistam a este vídeo em que Daniel Sloss fala sobre um caso real em que não interviu e de como carrega essa culpa todos os dias da sua viz-