Uma mudança do interior do país para a capital, um acordo secreto, dois estratos sociais em conflito e uma teia complexa de drama, romance e traições pode ser uma possível descrição de ‘A Promessa’, a nova novela da SIC (propriedade do grupo Impresa, também dono do Expresso) que tem conquistado público e superado audiências. A história da produção portuguesa é uma adaptação de um folhetim turco, “Zalim İstanbul”. A aposta é uma novidade na televisão portuguesa, mas estas produções têm conquistado público desde o Médio Oriente até à Europa. Em Espanha, algumas destas produções televisivas turcas são líderes de audiência em horário nobre e tudo indica que as exportações turcas vão continuar, com a Turquia a consolidar-se como o terceiro maior exportador de produções televisivas, de acordo com dados da Parrot Analytics, empresa de análise do mercado televisivo citada pelo “The Economist”.
As adaptações de guiões estrangeiros para fazer novelas portuguesas não são recentes. Ao longo dos anos, os argumentistas nacionais já utilizaram guiões brasileiros, mexicanos ou venezuelanos, mas os turcos estão a estrear-se agora entre o público português. “Eu gostei do guião, mas achei que não ia ser um produto fácil de adaptar à nossa realidade” devido à “premissa da noiva prometida”, explica uma das escritoras da novela, Inês Gomes, que já tinha feito adaptações de produções de outras nacionalidades.
Sobre um dos aspetos principais da novela, em que uma das personagens é prometida em casamento, Cândida Ribeiro, escritora de ‘A Promessa’, explica que na versão portuguesa criou-se uma “espécie de acordo em que todos poderiam beneficiar” e no qual “esta noiva sabia ao que vinha, queria ser rica e então aceitou”. “Foi um desafio perceber o que o público iria achar de mais e de menos, onde é que iriamos balizar a nossa história”, diz a argumentista.
Como as novelas turcas têm uma duração média de duas horas por episódio, as autoras receberam guiões com 80 a 90 páginas, algo que nunca lhes tinha sucedido e que se revelou um dos desafios. Uma das estratégias foi eliminar a repetição. “Eles têm uma gravação de uma cena em que temos uma personagem contra outra, eles podem dar essa gravação até três vezes em cada dois episódios. Nós não fazemos isso, nós tentamos não repetir recursos, o que significa que estamos a dispensar alguma parte do guião turco”, explica Cândida Ribeiro.
Outro aspeto que teve de ser alterado foi o número de personagens. O original contava apenas com 11, por isso, as autoras acrescentaram mais 20. “Não é possível com o nosso ritmo gravarmos só com dez personagens, [se o fizéssemos] acho que os matávamos de trabalho”, diz Inês Gomes.
A intensidade e o drama da história foram pontos que despertaram a curiosidade das autoras. “São muito intensos a escrever e a coreografar”, o que se revela numa “maneira muito intensa de viver, de dizer as coisas na cara, de agir, eles também têm muito as emoções à flor da pele e isso nota-se no guião”, explica Cândida Ribeiro.