Uma em cada três mulheres sofre de problemas pélvicos de grau moderado a grave. As condições são das mais variadas, desde endometriose até recuperação pós-parto ou mesmo doenças do trato urinário. Foi para combater isto que nasceu a Bloom, uma solução digital clínica direcionada para a saúde da mulher e para que todas nós saibamos que “dor não é normal”.
A Bloom pertence à Sword Health e foi lançada há dois anos, em 2022. Foi através da Sword, o produto ‘original’ da empresa, que surgiu depois a ideia da Bloom, explica, em conversa com o Expresso, Marta Cardeano, a diretor geral da Bloom.
“Algumas mulheres que tinham alguns problemas vinham até nós [Sword] e perguntavam se nós também podíamos ajudá-las. Aí nós começámos a perceber que era interessante entrarmos nesta área e que era uma área muito subexplorada”, contou a responsável.
Tendo em conta a quantidade de mulheres que sofre com estes problemas, Marta Cardeano sublinhou que “é comum, mas a dor não é normal. E nós como mulheres, aceitarmos que isto é a forma como nós temos de viver também não é maneira de resolvermos este problema”.
Mas o que é um problema pélvico?
Marta Cardeano começou por explicar que a zona pélvica é a “estrutura que sustenta a zona do teu corpo, onde tens a bexiga, onde tens o útero [no caso das mulheres], onde tens o canal retal e o intestino”.
São vários os problemas que podem estar ligados à pélvis: doenças do trato urinário (como incontinência ou cistite intersticial), do trato intestinal (incontinência fecal, síndrome do intestino irritável, dor intestinal ou prisão de ventre), de saúde sexual (como dispareunia, vaginismo ou vulvodínia), prolapso dos órgãos pélvicos, dor pélvica (endometriose, doença inflamatória pélvica ou adenomiose), entre outros.
“As mulheres não devem sofrer em silêncio”
- Marta Cardeano, diretora geral da Bloom
E não falamos apenas de doenças, mas também de condições temporárias da mulher como a gravidez, onde a grávida pode sofrer de disfunção da sínfise púbica, dor do ligamento redondo, dispareunia, entre outros, ou apenas utilizar a Bloom para preparar melhor o seu corpo para o parto. Ou o próprio pós-parto, onde pode existir diástase dos retos abdominais, dor e complicações na cicatriz de cesariana, entre outros - ou apenas uma tentativa de recuperação mais rápida.
Além da condição, o próprio acesso à terapia certa tem as suas “barreiras” - a começar por ainda ser um tema tabu, aos olhos da responsável da Bloom. Segundo Marta Cardeano, “há poucos especialistas” e o próprio processo da fisioterapia convencional é “díficil”, por ser complicado conjugar horários de trabalho com as clínicas e com a vida pessoal. Adicionalmente, o próprio tratamento é uma “coisa necessariamente mais invasiva e mais sensível do que fisioterapia normal (...) acontece à frente de uma pessoa que não conheces, pessoa essa que está a manipular uma área do teu corpo com a qual tu próprio podes não estar confortável”.
E muitas vezes “as mulheres são discriminadas no processo de diagnóstico”, referiu.
“As mulheres não devem sofrer em silêncio, não devem ter de recorrer a tratamentos que não são aqueles que são clinicamente mais aconselháveis”, declarou.
É aqui que entra a Bloom
Este serviço digital a pensar na saúde das mulheres é disponibilizado, tal como os serviços da Sword Health, “a empregadores, seguradoras de saúde e maioritariamente nos Estados Unidos”, o principal mercado da marca. Destina-se a mulheres de qualquer idade com problemas pélvicos — aliás, a paciente mais velha tinha quase 90 anos, segundo a diretora da Bloom. Contudo, se a Sword já tem alguma presença em Portugal, o mesmo não acontece com a Bloom, mas estão “abertos” a essa possibilidade. Também não está diretamente disponível para o consumidor final, mas apenas através dos seguros, ainda assim, a responsável da Bloom não descarta completamente essa hipótese no futuro.
Para quem tem acesso, é preenchido um questionário com uma série de perguntas para os especialistas terem “uma imagem o mais completa possível” da situação, esclareceu Marta Cardeano. Desta forma, também será recomendado o especialista certo para acompanhar a condição.
“No final desse processo, vais marcar uma chamada com o especialista pélvico [indicado]”, a conversa serve para se conhecerem e para o especialista perceber o histórico clínico. Depois é enviada para casa da pessoa uma “tecnologia, que é um sensor vaginal” que vai ajudar no tratamento.
Cada sessão de terapia fica disponível na aplicação da Bloom, que está disponível em inglês, espanhol e francês.
Ao longo das sessões - e já foram feitas cerca de 180 mil, segundo a diretora geral - a Bloom vai pedido feedback aos pacientes. Segundo a empresa, 60% das pacientes relatam melhorias significativas após concluírem o programa, 45% reporta uma diminuição na probabilidade de procurar intervenção médica adicional, 42% diz que teve uma melhoria na sua produtividade.
E analisando apenas as pacientes que tinham ansiedade antes de começarem o programa, 60% reportou uma redução da mesma. Já em relação à depressão o número baixa ligeiramente para 58%.
A Bloom não revela o número de utilizadores que já procuraram ou procuram este tratamento atualmente.